domingo, 30 de dezembro de 2007

O Crocodilo – Il Caimano (2006)




Nanni Moretti é considerado o Woody Allen italiano. Como o americano, Moretti escreve, produz, dirige e protagoniza todos os seus filmes.

Em seu novo filme, a crítica ao político Silvio Berlusconi é direta. É evidente a decepção e inconformismo do diretor.

Sílvio Berlusconi é a pessoa mais rica da Itália (segundo a revista Forbes), presidente do Milan, dono de três canais de televisão e controlador da máquina estatal. É um tipo de Sílvio Santos italiano com fortíssima influência política. Fundou o partido Forza Itália (FI) em 1993 e foi galgando na política até ser eleito primeiro ministro.

Berlusconi já foi acusado de lavagem de dinheiro, evasão fiscal, participação em homicídio e corrupção. A maior crítica de Moretti a Berlusconi é o impacto que o segundo causou na cultura italiana. Berlusconi usou a mídia televisiva para estimular o consumo e o conformismo. Moretti nunca aceitou isso.

Longe de ser comparado a Michael Moore (cineasta americano anti-Bush), Nanni Moretti tem uma história para contar. E das boas. O crocodilo é um roteiro escrito por uma jovem que até o momento só dirigira curtas. Ela mostra seu roteiro ao produtor e diretor de filmes B Bruno Bonomo (Silvio Orlando). A chegada do roteiro nas mãos de Bonomo coincide com uma mudança drástica familiar, o divórcio. Saindo do cotidiano também das filmagens, o diretor decide então em mudar sua vida e encarar em retratar nas telas um filme sobre Silvio Berlusconi (até antes nunca feito) e sua ascensão política.

Os momentos mais interessantes da trama nada têm a ver com política. Tratam-se da relação do diretor com sua família. Moretti já mostrou toda sua sensibilidade e sutileza abordando a família em “O Quarto do Filho” (um dos melhores filmes que já vi) e em “O Crocodilo” a família é mostrada como alicerce do homem e a falta que faz quando uma relação conjugal encontra-se abalada.

“O Crocodilo” é uma resistência política pessoal de Moretti (o mesmo questiona na película como uma pessoa pode paralisar a Itália por 12 anos) sem a panfletagem característica de inconformados com a política.



sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Império dos Sonhos – Inland Empire (2006)




Perdido. Totalmente perdido. É assim que me senti durante toda a projeção do novo filme de David Lynch.

Hollywood é novamente palco (assim como em “Estrada Perdida” e “Cidade dos Sonhos”) para as loucuras de Lynch. Nikki Grace (Laura Dern) recebe a proposta de protagonizar um novo filme. Um remake de um filme nunca finalizado. 47 (vier sieben em alemão). Números malditos. Trata-se de uma lenda cigana polonesa. Lenda pela qual atores, na primeira tentativa de realização da película, foram misteriosamente assassinados. O diretor (Jeremy Irons) faz a revelação aos atores após se iniciarem acontecimentos estranhos no set de filmagem.

Até aí tudo bem. Sempre gostei dos filmes de David Lynch. O mistério. O desconhecido fazendo exercitar nossas mentes. David Lynch jogava dúvidas no ar em histórias até certo ponto palpáveis. Antes se faziam diversas teorias sobre o significado de certos símbolos em seus filmes (como exemplo a estrada no maravilhoso “Estrada Perdida”). Mas agora David Lynch extrapolou. Parece que ao longo dos filmes o diretor quis torná-los cada vez mais misteriosos chegando então a “Império dos Sonhos”. Nada mais é palpável. Tudo é dúvida no filme. Em um momento, depois de tanta turbulência de fatos ocorridos a protagonista diz “Eu não sei o que veio antes ou depois. Não consigo distinguir o ontem do amanhã e isso está fodendo com a minha cabeça.” É assim que me senti também. O filme passando e a vontade da gritar no meio da sala e expressar minha indignação por não conseguir acompanhar o que estava acontecendo. É assim que me senti.

Chego a conclusão que a minha mente obtusa não conseguiu apreciar toda densidade psicológica do filme. Sempre penso que um bom cinema é aquele que desperta um sentimento interessante no final de sua projeção. O próprio “Cidades dos Sonhos” de David Lynch traz muitas dúvidas mas a sensação final é positiva. Dessa vez agora não. Saí meio decepcionado do filme, quase não querendo acreditar que é o primeiro filme de David Lynch que não gosto.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

24 horas na vida de uma mulher




A partir de um fato ocorrido em um hotel em Monte Carlo uma senhora inglesa de respeito remete a um dia em que toda sua convicção dos preceitos da sociedade ficou abalada.

Uma mulher, hóspede do hotel, abandona o marido e filhos para ir atrás de um jovem sedutor. Um dos viajantes no hotel não a condena e acha a atitude até razoável se a mesma estivesse apaixonada. Através dessa opinião o viajante desperta a senhora inglesa que não se contém até o momento que o chama para contar as 24 horas mais alucinantes emocionalmente de sua vida.

O autor Stefan Zweig já foi citado nesse blog. Ele escreveu a principal biografia de Maria Antonieta (ignorada por Sofia Coppola para a composição de seu filme). Seu texto é muito admirado por Sigmund Freud. A abordagem do desejo feminino é sempre o enigma para todos nós homens. E qualquer relato que se aproxime de algum sentimento feminino oculto já me desperta muito interesse. Já li também um livro que faz abordagem semelhante. “A senhora Beate e seu filho” também mostra a mulher. Viúva e com filho assim como Mrs. C (protagonista de “24 horas na vida de uma mulher”), a senhora é sufocada de desejos condenados pela sociedade.

Textos de internet, erroneamente atribuídos a Machado de Assis, dizem que as melhores mulheres pertencem aos homens mais ousados. É muito interessante como essa ousadia é esperada por Mrs. C em relação ao moço por quem se apaixona. Um trecho do livro diz assim:

“o que naquela vez me doeu tanto foi a decepção... decepção, porque... porque aquele jovem fora embora tão obedientemente... sem nenhuma tentativa de me segurar, de ficar comigo.. que ele obedecesse humilde e respeitoso à minha primeira tentativa de me afastar... em vez de tentar me abraçar...que me venerasse apenas como a uma santa posta em seu caminho... e não... não me visse como mulher”

Mas o livro vale muito por oferecer um esboço do que é o desejo feminino e suas implicações. E a senhora inglesa depois de ter passado por essa torrente de emoções busca maneiras de se estabilizar e acaba voltando para a racionalidade típica de seus compatriotas.

“Mas afinal o tempo tem um poder profundo, e a idade, um singular domínio sobre todas as emoções”

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Louca Paixão – Turks Fruit (1973)




Paul Verhoeven é um diretor muito esquisito. Sua esquisitice não é comparável a de nenhum diretor da atualidade. Talvez sua nacionalidade influencie seu modo de filmar. Na Holanda tudo é diferente, assim como o cinema de Verhoeven.

Na década de 80 seus filmes eram campeões de bilheteria nos Estados Unidos. Para um produtor executivo a presença do holandês na direção era sinônimo de lucro. Ele filmou “Robocop”, “O Vingador do Futuro” e “Instinto Selvagem”. O ascendente sucesso barrou em um filme. “Showgirls (1995)”. Ganhador do Prêmio Framboesa de Ouro (piores do ano), Paul Verhoeven foi o único diretor da história a participar de cerimônia. Desde então filmou muito pouco. Starship Troopers é outro filme que também é classificado como fracasso de crítica.

Bombardeado pela crítica americana (sedenta de novos blockbusters de sucesso), Paul Verhoeven decidiu voltar à Holanda e lá recomeçar a filmar. O diretor incompreendido volta a seu país natal em busca da inspiração que o fez despontar como diretor autêntico. E “Louca Paixão” é um dos marcos da sua fase holandesa como diretor.

O elenco é de filme hollywoodiano. Paul Verhoeven na direção, Jan de Bont (“Velocidade Máxima” e “Twister”) na direção de fotografia e Rutger Hauer (“Blade Runner”) como portagonista. O filme, porém, mostra tudo o que Hollywood não quer ver.

Rutger Hauer é Eric Vonk. Artista plástico acostumado a ter relações casuais com diversas mulheres até o momento que conhece Olga e é tomado por uma paixão que o descontrola (mais do que já é!). Dessa paixão sentimentos diversos são extraídos.

A paixão dos dois é levada aos limites dos sentimentos e do corpo. Há um gosto, tanto do diretor quanto dos protagonistas, pela transgressão. Verhoeven transgride com imagens exageradas (algumas beiram a escatologia) sem moderação alguma.

O filme vale pela curiosidade em saber como era o cinema de Paul Verhoeven antes de sua fase americana. Interessante também é como são mostrados os dois jovens na década de 70. Pessoas sem preocupação. Frutos de pais que nasceram próximos a guerra e que aparentemente não conseguem colocar limites à geração seguinte.

Paul Verhoeven mostra-se como um cineasta cru em uma sociedade aparentemente sem limites. Se para alguns a Holanda é um lugar onde quase tudo é permitido, Verhoeven não pensa diferente. Tanto é que está preparando sua volta às origens.


Aqui, um vídeo com cenas do filme. Esqueça a música da Enya. Ela dá a falsa impressão do que realmente se trata o filme

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Brian Ulrich e a melancolia do consumo



Perto do Natal me lembrei de Brian Ulrich. Fotógrafo nascido em Nova Yorke, membro do grupo artístico Chicagraphy (hoje ele mora e trabalha em Chicago). Através de suas fotografias Ulrich estuda o ato do consumo e suas implicações políticas e sociais.




Ulrich explora, de maneira triste e ao mesmo tempo engraçada, o conforto trazido pelo consumismo e a passividade humana diante das estratégias capitalistas de marketing. Fala do alívio proporcionado pelo consumo e do vazio dos grandes espaços comerciais.





Considerado como antropólogo visual, Brian Ulrich mostra o estado catártico do consumo e as implicações atuais do conceito de “felicidade”.




quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Desejo e Obsessão - Trouble Every Day (2001)




Existem poucos filmes que já me deixaram incomodados até hoje. Nunca tive medo de filmes de terror e desde criança me fascino com eles. Então terror não é problema. Quanto à violência, ela é quase sempre estilizada nos filmes e também não me incomoda nem um pouco. Sobram então os filmes que fazem com que aquela sensação de conforto, de que se trata apenas de uma estória, vá por água abaixo. E esses, que trazem a angústia, são os que me incomodam significativamente. Mas não é aquele incômodo de não querer continuar com o filme. É um incômodo meio que fascinante no sentido da estranheza, da perplexidade.

Fazendo um exercício mental me lembrei de alguns filmes muito chocantes e que não saem da minha cabeça: são dois do diretor Gaspar Noé (Irreversível e Seul Contre Tous), Saló do italiano Píer Paolo Pasolini, Não Matarás de Krzysztof Kieslowski e o belga C'est Arrivé près de Chez Vous (já postado aqui nesse blog). “Desejo e Obsessão” já entrou para essa lista e penso que não sairá tão cedo.

A escolha do papel principal já promete antes de a película começar. Vincent Gallo. Ator, diretor, músico, escritor, fotógrafo, modelo e artista plástico odiado por muitos. Marginal em quase tudo que faz. Estereotipado como o charlatão que levou um filme ao festival de Cannes para chocar com uma cena de sexo oral explícito com a atriz (polêmica também) Chlöe Sevigny. Alguns o consideram narcisista, outros megalomaníaco (quando pode faz tudo no filme: atua, dirige, escreve, musica, ...) . Fato é que Gallo divide opiniões. Sua presença é promessa de polêmica.

Dessa vez Vincent Gallo se limita a atuar. E age de maneira marcante. É Shane, americano que decide passar a lua de mel em Paris. Não é o glamour da cidade que direciona a sua escolha e sim a possibilidade de resolver um problema. O ritmo lento da película compete com a angústia de Shane. Algo o incomoda diariamente. Um desejo secreto que lhe traz sérios problemas, assim como sugere o título original “Trouble Every day”.

Gosto sempre de não ler nada sobre um filme antes. Nem de trailers eu gosto. Aprecio a surpresa. O inesperado. Fico feliz em não saber antes qual o mote do filme e o motivo da angústia de Shane. A surpresa da revelação ao longo da película é muito bem delineada e faz o filme se tornar ainda mais interessante.

A direção de Claire Denis me lembrou a de Hal Hartley (diretor independente americano). Intervalos longos entre os diálogos e todos sem interrupção de terceiros. A música dos Tindersticks abre e fecha a cortina do pesadelo criado pela diretora.

O filme é uma obra de arte. Sublime, angustiante, perturbador. Muita coragem foi necessária para realizá-lo. Característica nunca em falta nos trabalhos de Denis e Gallo.


Não vou postar trailer e sim vídeo com a música:


domingo, 16 de dezembro de 2007

Os Anjos exterminadores – Les Anges exterminateurs



“Sexo é imoral”. Essa é uma das conclusões que chega o protagonista do filme que é o alter-ego do diretor Jean-Claude Brisseau. O diretor em 2004 foi processador pelas atrizes do filme “Coisas Secretas” por assédio sexual e coerção psicológica.

No filme, o diretor faz uma espécie de um “teste do sofá voyerista” com o qual se fascina com mulheres (potenciais protagonistas de seu novo filme) que se deliciam em transgredir tabus sexuais.

No meio de tudo isso a vida do diretor é observada por anjos que planejam sua vingança. Duas mulheres misteriosas que dão título ao filme surgem como aparições repentinas e têm a tarefa de executar ordens ocultas nada boas para o diretor.

O filme parece mais uma retratação do autor. Um direito de resposta à sua condenação. O que o seu alter-ego nem o diretor parecem perceber é que as atrizes querem o papel do filme e em ponto nenhum é questionado a credibilidade do prazer demonstrado pelas mesmas.

Talvez o título seja homenagem ao filme de Luis Buñel (O anjo exterminador) pois várias são as referências feitas ao surrealismo, assim como ao cinema de Jean Cocteau

Pode ser classificado como drama erótico mas para mim trata-se apenas de um soft porn, daqueles que passam nas madurgadas da Band. Apenas com um pouco mais de refinamento.


domingo, 25 de novembro de 2007

R.E.M. - Live


Registro oficial da banda.

Acompanho a banda há muito tempo. Desde os tempos em que estudava no Ateneu. Surgiu para mim numa época em que alguns ainda a confundiam com outra banda com designada por siglas, o E.M.F. (que por sinal só tinha uma música conhecida, Unbelievable). R.E.M. remete minha adolescência dos vinis e fitas cassetes.

Banda que teve seu maior hit com “Losing my Religion”. Música que nada tem a ver com religião. É o sentimento de gostar de uma pessoa e não poder falar. Obsessão por alguém e não ter a coragem de prosseguir. Tentar capturar pequenos detalhes nos gestos da pessoa amada que possam dizer alguma coisa. E acabar por perder as esperanças e ver que tudo era apenas um sonho.

Esse caráter poético sempre acompanhou as letras do R.E.M. Lembro de ter visto um acústico na MTV em que Micheal Stipe (vocalista) a cada música ia explicando como compôs cada letra.

A principal qualidade da banda é a sinceridade. Ela está em tudo: nas letras, nas declarações, nas apresentações ... Quando fui ao show da turnê “Up” em 2001 fiquei em estado de choque. O prazer de tocar ao vivo, de se emocionar com o público, de poder dizer o que se sente. Enfim, o poder de transformação que a música traz. É a maior banda humilde que existe. Nem acreditei que estava lá.

Esse novo disco acompanhado de um DVD traz uma apresentação em Dublin. Com destaque para músicas do último álbum “Around the Sun” que não fez muito sucesso. As músicas deste ao vivo ganharam mais vida ainda. Muitos clássicos estão lá também.

Um aperitivo para talvez um novo disco e quem sabe uma turnê no Brasil!

Chris Cunningham

Já anotei esse nome. O diretor de videoclipes nunca fez um longa metragem. Seu potencial é enorme. Parceiro do DJ Aphex Twin já fez vários vídeos assustadores. Sua carreira está me lembrando a de Spike Jonze que começou também nos videoclipes (penso que Sabotage do Beastie Boys é o melhor clipe de todos os tempos) e hoje é um excelente diretor de cinema.

Rubber Johnny. Descobri este curta metragem por acaso. Postado em um blog especializado em terror e filmes B http://boizebu.blogspot.com/ que sempre visito. Mostra a vida de um garoto deformado que vive trancafiado com seu cachorro em um quarto. Parece que é vítima de um experimento, ou seriam seus pais? Trata-se de uma viagem à mente obscura de um ser vivo enclausurado. Ele tenta maneiras de se divertir no escuro. Muito estranho.

Edição alucinante e música de Aphex Twin. O curta foi lançado na Inglaterra acompanhado de um livro com desenhos e idéias de Cunningham que teve seu lançamento atrasado pois a editora italiana responsável pela distribuição do material se negou a publicá-lo por taxá-lo como imoral.

Rubber Johnny dá moral para o diretor que tem hoje como meta filmar a novela cyberpunk de William Gibson “Neuromancer” mas parece que o projeto está bem devagar.

Vale a pena também conferir as outras parcerias de Cunningham com Aphex Twin. Todas estranhas também.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Um Dia no Centro

Único curta do Festcine que vi. Que me desculpem meus amigos Thiago, Douglas e Januário. Eu não estava em Goiânia

Um dia no centro mostra a vida de Paulinho do Cavaquinho. Artista de rua que toca diariamente em frente ao Grande Hotel do centro da cidade de Goiânia. Portador de malformações congênitas, apresenta um jeito peculiar e quem já o viu não esquece. Excelente edição das imagens. O centro está bem caracterizado com destaque para a Avenida Goiás, trabalhadores indo e vindo, vendedores ambulantes, uma peça de teatro encenada na rua e o homem com colete amarelo dizendo que compra ouro. Bonita a cena em que um idoso pára e fica observando o artista de rua e depois acena em despedida.

O curta refrescou as lembranças da minha infância e adolescência quando passeava com minha mãe pelas ruas do centro, ia na Rua do Lazer, comprava discos e livros nos sebos, comia na Pizzaria China da rua 7, perambulava pelo camelódromo em busca de novos modelos para minha coleção de carros em miniatura, ia no “taito” para jogar Street Fighter e jogava bola no fundo da clínica do meu pai com os garotos que moravam lá.

Fiquei feliz em ver o tão querido centro da cidade em cenas de qualidade.

domingo, 18 de novembro de 2007

Um Doce Aroma da Morte – Un Dulce Olor a Muerte



Guilhermo Arriaga escreveu os três roteiros filmados por Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos, 21 gramas e Babel). Novo expoente da literatura mexicana. Além dos três roteiros, já escreveu três livros (um doce aroma da morte, o búfafo da noite e esquadrão guilhotina). Esteve esse ano na Festa Literária Internacional de Parati (FLIP) e foi tomado com queridinho da vez, principalmente pelas jornalistas que o consideraram símbolo sexual.

Ramón descobre o cadáver de Adela em uma cidadezinha do interior do México (Loma Grande). Bastou o mesmo cobrir a garota com sua camisa para o boato espalhar: “tratava-se de sua namorada, por isso teria que se vingar”. Ramón era o cara errado na hora errada.

Ramón não desmente o boato. Timidez, dificuldade de comunicação, consternação pela presença de um cadáver fazem com que a afirmação atribuída a ele se torne verídica. Na concepção de toda a cidade seu orgulho estava ferido. Vingança era necessária. Toda essa farsa chega a um ponto irreversível e o que sobra a Ramón é aceitar a situação e tentar sentir a sede da vingança.

O acusado do assassinato é Cigano. Forasteiro que é apaixonado por Gabriela, mulher casada, e não sabe de toda a expectativa de uma cidade em ver seu corpo alvejado para justificar a morte de uma inocente.

O olfato faz parte da história. Está em todos os lugares. No cheiro do cadáver, dos habitantes castigados pelo sol, das refeições preparadas diariamente. Havia um aroma de vingança no ar. O medo aguça os sentidos e Ramón percebe o aroma cada vez mais forte das coisas ao redor.

Arriaga disse em Parati que a literatura é uma luta contra a morte. Já percebo uma fixação do autor pela morte em todos os seus trabalhos. Quando comprei o livro pensei que iria encontrar histórias fragmentadas e interligadas. Não. Trata-se de um história ambientada no interior do México e mostra como o mesmo é retrógrado e preconceituoso. Não muito diferente do Brasil.

Só me assustei com o final. Meio abrupto. Acabou estranho. Até achei que faltavam páginas no meu livro ... mas não.

O Signo da Cidade


Tarde de sábado. Três horas da tarde. Ingresso um real. O Goiânia Cine Ouro está reprisando filmes do Festcine. Não tive oportunidade de ir antes. Estava viajando. O filme começa. É uma cópia em VHS, ainda não finalizada e de qualidade ruim. Tem até uma mensagem no canto superior da tela que denuncia que não é uma cópia para cinema. Logo pensei “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. Estava completamente equivocado. A projeção ruim foi o único defeito da tarde pois o filme é fabuloso.

A personagem principal é de Bruna Lombardi. Teca. Uma astróloga que tem um programa de rádio. Outras histórias são interligadas por esse núcleo central. Robert Altman é especialista nisso e creio que o falecido diretor veria em Bruna um talento de uma nova geração de roteiristas. Tenho extremo respeito por Bruna Lombardi desde que fez uma entrevista com o tecladista do Pink Floyd (Richard Wright) em uma época em que os integrantes da banda eram alheios à imprensa e quase não falavam. Ela conduziu muito bem. Não foi tiete, tinha conhecimento sobre o que estava perguntando e foi uma excelente entrevista. Até gravei um VHS e não acho por nada essa fita aqui em casa.

São Paulo abriga distintos cenários. Cada um em seu universo. Astros na imensidão do céu. Assim são as pessoas. Separadas mas interligadas. Movimentadas pela natureza de existir. Assim é o poema que o Sombra lê para o enfermo:

Se perdem gestos
cartas de amor, malas, parentes
Se perdem vozes
cidades, países, amigos
Romances perdidos
objetos perdidos, histórias se perdem
Se perdem o que fomos e o que queríamos ser
Se perde o momento.
Mas não existe perda,
existe movimento.

São tantas histórias interessantes. Posso rever o filme mais umas duas vezes que irei compreendê-lo melhor.

Direção e edição seguras. Trilha sonora precisa. O filme é cheio de surpresas agradáveis. Fala de tristeza, tolerância, amizade, amor, frustrações e esperança. Tudo sem exageros. Fiquei feliz por se tratar de um filme brasileiro.

Afinal o mais interessante na arte é o seu poder de transformação. O Signo da Cidade me mudou. Um dos grandes filmes do ano.


sábado, 17 de novembro de 2007

Meu Melhor Amigo - Mon Meilleur Ami



É complicado falar sobre amizade. A convivência e o cotidiano podem trazer falsas impressões sobre afeto. Talvez por um instinto velado de sobrevivência, amizades se formam. O próprio tema do filme recorre a isso. François (Daniel Auteuil) é um marchand que não percebia ter amigos até o momento em que sua sócia o confronta. No começo parece brincadeira. Mas é verdade. Ninguém gosta de François. Ele é aturado pois a convivência requer aceitação e pela sua posição social, o marchand sempre foi tolerado. Só isso. O orgulho de François o impede de perceber o quanto ele é chato e não consegue fazer amigos.

Do outro lado da balança está o taxista Bruno (Danny Boom). Pessoa carismática, de fácil aproximação. Faz da sua profissão um exercício diário de comunicação. Toda essa desenvoltura o faz se aproximar de François e de sua filha. Uma adolescente distanciada do pai e carente de afetos paternos.

Demora muito para François perceber que Bruno é um amigo de verdade. Sua vaidade o faz exibir como prêmio. É capaz de fazer amigos como qualquer um então. Volta então a se sentir normal. Novamente os sentimentos dos outros em vão.

Saint-Exupéry já havia dito que uma pessoa para compreender tem de se transformar. E é essa transformação que François tem que buscar. Mesmo com altos e baixos o filme tem um desfecho interessante apesar de se perder um pouco no meio.


sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Planeta Terror - Planet Terror





Quando fiquei sabendo que Quentin Tarantino e Robert Rodriguez iriam produzir um filme B eu não acreditei. Algumas lendas rodeiam o cinema. Produções idealizadas por diretores que nunca saem do papel (sempre sonhei em ver a vida de Napoleão contada por Stanley Kubrick) são alvo de especulações e imaginava que o projeto dos dois nunca seria realizado. Quem seria o louco de fazer um filme B, com a fotografia simulando película antiga, zumbis, escatologia, humor negro e colocá-lo no circuito blockbuster? Tarantino e Rodriguez são.

Já fica aqui o meu protesto pela forma de como o filme foi exibido no Brasil e em alguns outros países. Decidiram fragmentá-lo em duas partes. O próprio conceito de Grindhouse já se perdeu antes de eu ver os primeiros minutos da película. Grindhouse faz referência a filmes da década de 70 que eram exibidos em salas pouco convencionais e em seqüência. Era possível assistir a dois, três filmes com o preço de um ingresso. Para isso os diretores até criaram trailers fictícios simulando os intervalos entre um filme ou outro. Tudo isso em vão se o filme foi separado em duas partes. Pior ainda a distância entre as exibições. Grindhouse será exibido só em março no Brasil. Produtores temeram salas vazias com um filme tão grande. Mas parece que nem a fragmentação da idéia dos diretores resolveu o problema do fracasso nas bilheterias. Tal fracasso até me alegra. Não gostaria de ver um filme B na boca do povo, sendo adorado. A revolta de certas pessoas no cinema diante de cenas nonsense me agrada bastante pois é esse o mesmo sentimento provocado quando essas mesmas pessoas estão diante de um genuíno trash ou filme B.

O roteiro do filme lembra muito os clássicos de terror de George A.Romero (tetralogia dos mortos) e diversas referências são citadas. A protagonista Cherry Darling (Rose McGowan) tem o mesmo espírito independente das go-go dancers dos filmes de Russ Meyer (“Faster Pussycat! Kill! Kill!). A câmera do diretor acompanha as mulheres assim como um espectador de filmes B. Está preocupada com suas curvas e por vezes nos diálogos ela está focada no corpo e não no rosto das beldades (temos também a participação da vocalista do Black Eyed Peas Fergie, garota que com 12 anos de idade participou de um filme totalmente trash chamado Monster in the Closet que tive a oportunidade de assistir esse ano).

Rose McGowan está muito interessante no filme. É uma go-go dancer que tem sua perna mutilada e substituída por uma metralhadora. Lembrei na hora de “A Morte do Demônio 3” em que Ash encaixa uma moto-serra no braço e começa o estrago. Ela já sonhou em ser médica e agora quer ser uma atriz de “stand-up comedy”. Sua tristeza é o seu charme e seus atributos de dançarina são bem utilizados quando precisa manejar sua arma com toda sua flexibilidade. Ela diz que todo talento inútil, um dia, serve para alguma coisa. Não sei se aí Rodriguez tenta justificar a motivação para dirigir o filme.

Outra participação marcante para os fãs de terror é de Tom Savini. Faz papel de um policial que perde um dedo e sua aliança. Savini já trabalhou com os mestres do terror sendo responsável pela maquiagem e efeitos nojentos são sua especialidade.

A trilha sonora é marcante e composta pelo próprio Rodriguez. Com uma linha de baixo alternando quatro notas em acordes e um saxofone rasgado remete às trilhas do Tarantino que com o tempo já vão se destacando como referência para muitos cineastas. John Carpenter já fez o mesmo. Dirigiu e compôs a sinistra trilha de Halloween.


Tarantino faz uma ponta meio estranha no filme. É fã de outro segmento marginal do cinema. O que tem a temática de mulheres em prisão, que é chamado de WIP (women in prision). Em sua televisão está passando uma cena do filme “Women in Cages”. Lembro que vi esse filme no saudoso Supercine quando tinha uns 7 anos e uma imagem me marcou pelo resto da vida. Uma briga de duas mulheres. Uma quebradeira louca!


O nome Tarantino é muito forte. Mas parece que a massa está perdendo o encanto por ele. Mais uma vez fico feliz. Enquanto ele estiver livre e com vontade para filmar o que quiser estou sossegado. Não é fácil para um diretor americano que com 33 anos ganhou a Palma de Ouro em Cannes ser tão alheio às pressões de estúdios. Ele fez o caminho inverso de muitos diretores que começaram com filmes B e depois atingiram o sucesso como Francis Ford Coppola (“Dementia 13” / “O Poderoso Chefão”), Sam Raimi (“A Morte do Demônio” / “Homem-Aranha”) e Peter Jackson (“Náusea Total” / “O Senhor dos Anéis”).

Tarantino e Rodriguez me surpreenderam muito. Mostram que não têm medo da crítica. Não fazem filmes premeditados para agradar espectadores. Fazem o que gostam e ocasionalmente agradam. Essa é a máxima do cinema B e trash.

Para os fãs da famigerada produtora de terror Troma, Planet Terror é um prato cheio. Diversão sem preocupações. Alguns se sentem incomodados com isso. Eu não. Gostei muito. Mas não recomendo para ninguém pois já sou estereotipado como o cara que gosta de filmes “esquisitos”.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Um Lugar na Platéia - Fauteuils d'orchestre




Amor ao luxo.

O filme mostra diversas pessoas ligadas à arte e seus anseios. Com os conflitos de cada um a diretora Danièle Thompson tinha um prato cheio para um drama pesado. Escolheu, porém, uma comédia sutil para retratá-los.

Quatro personagens são muito bem explorados. Uma garçonete, um colecionador, uma atriz e um pianista.

Garçonete: órfã que sai do interior em busca de emprego em Paris. Sua avó trabalhara no Hotel Hitz. O amor ao luxo a fez ficar perto de personalidades ligadas à arte, mesmo que fosse para servi-las. Essa influência da avó a faz partir em busca de experiências na capital e com simplicidade consegue agradar aos que a rodeiam.

Colecionador de arte: está vivendo seus últimos dias. O apego obras de arte não tem mais muito sentido. Ele se desfaz de seus quadros favoritos (Braque, Picasso, Léger e Modigliani). Mas uma escultura tem um valor especial. “O Beijo” de Brancusi. A obra vai a leilão mas acaba tornando-se elo entre a frágil relação do colecionador com seu filho.

Atriz: famosa em seu país por novelas populares, anseia por fazer papéis mais densos e de profundidade psicológica. Apesar de insegura, mostra-se como uma notável atriz ao revelar a um diretor americano seu desejo em fazer um papel mais significativo.

Pianista: preso pelas convenções sociais. Não suporta mais concerto em grandes teatros para platéias que mais se importam em se mostrar que realmente apreciar a música. Relata que concertos clássicos o afastam da música assim como igreja o afasta de Deus. Em um concerto, toca Consolação nº 3 do húngaro Franz Liszt. Trata-se de uma música de caráter harmônico que resulta numa busca de compreensão e sensibilidade pelo autor.

O mérito do filme é não querer ser ousado. É sem exageros. Difícil tarefa quando o tema é o mundo artístico.


segunda-feira, 5 de novembro de 2007

1408




Filmes baseados em obras de Stephen King geralmente são ruins. Clássicos como “O Iluminado” e “Carrie, a Estanha” deram a ilusão a produtores e diretores que era só pegar um roteiro do cara e estava garantido o sucesso. Anos se passaram e o terror recorreu a Stephen King e por vezes era sentido em seus livros uma pressão em escrever cada vez mais pensando em cinema.

Minha admiração por Stephen King veio por Stanley Kubrick (diretor de “O Iluminado”). A partir de então comecei a comprar seus livros, principalmente aqueles que não foram adaptados ao cinema. E por coincidência alguns depois foram para a telona, como “O Corredor da Morte” (filmado com o nome de “À Espera de um Milagre”), “O Aprendiz”(conto de “As Quatro Estações”) e “O Apanhador de Sonhos”. Todos os três inferiores quando transcritos ao cinema. Então dei um tempo a Stephen King. Não li mais nada e também seu nome assinado em um roteiro não me atraia mais.

“1408” tem a cara de Stephen King. Merece respeito então.

O filme fala sobre um escritor que pesquisa locais assombrados que são a temática de seus livros. Cético e confiante, não sabe que o quarto que o espera fará que toda sua crença ou falta dela seja abalada (1+4+0+8 = 13).

As influências aos clássicos do terror estão presentes. O corredor de “O Iluminado”, a televisão de “Poltergeist” e o carrinho de bebê de “It’s Alive”.

O desconhecido ganhando o tom assustador e a curiosidade para se chegar ao final da trama estão lá, como em todo bom horror de King. O próprio protagonista define bem a estética do filme. Trata-se de um pesadelo kafkaniano. Como sair daquele pesadelo? Só chegando ao final para Stephen Kng nos dizer. Como espectador, me coloco na posição de protagonista do filme ou escritor da trama e quase nunca (nos casos das estórias de Stephen King) consigo sair desse universo claustrofóbico.

Penso que trata-se de um filme de terror para quem gosta de terror.

O filme tem uma direção interessante. Não conheço o diretor sueco Mikael Håfström. Irei atrás de mais filmes seus.

Cada vez mais me convenço que adaptação de filmes de Stephen King competem com a qualidade de seus diretores. “O Iluminado” (Stanley Kubrick), “Carrie, a Estranha” (Brian dePalma), “Louca Obsessão”(Rob Reiner) e por aí vai.


sábado, 3 de novembro de 2007

Paris Je T'aime


Histórias de amor na cidade mais romântica do mundo

Proposto a cineastas descreverem histórias de amor ambientadas em Paris. Cada curta durando em média 5 minutos. A escolha dos diretores mostra o ambiente multicultural parisiense. O filme mostra vários aspectos de Paris não tendo como no final ficar com uma visão estereotipada da cidade. Gostei muito do resultado final. Não há como ficar entediado pois mesmo que um dos curtas seja ruim, é só esperar uns 5 minutos que todo o conceito do filme pode mudar.

“Montmartre”, de Bruno Podalydès
com Bruno Podalydès e Florence Mueller


Motorista preocupado com uma vaga no trânsito que não consegue achar no bairro de Montmartre. Após conseguir a vaga, reflete sobre relacionamentos e solidão. O protagonista se sente só “miseravelmente só”

“Quais de Seine”, de Gurinder Chadha
com Leïla Bekhti e Cyril Descours

Rapaz com atitude desrespeitosa com as mulheres muda seu comportamento ao se identificar com garota árabe. Mesmo sob reprovação de seus amigos encontra lugar para gentileza despertada pelo interesse pela garota. Garota árabe vê no uso do hijab a afirmação de sua identidade que encanta o jovem francês

“Le Marais”, de Gus Van Sant
com Marianne Faithfull, Elias McConnell e Gaspard Ulliel

Um jovem francês se declara para um jovem americano acreditando no amor transcendental mesmo o vendo pela primeira vez. Mostra o despertar do amor e a dificuldade de comunicação. Gus Van Sant sempre preciso ao retratar jovens.

“Tuileries”, de Joel e Ethan Coen
com Julie Bataille, Steve Buscemi, Axel Kiener e Frankie Pain

Humor negro é a especialidade dos irmãos Coen. Steve Buscemi é de novo aquele cara que se dá mal mesmo não fazendo por merecer. É no metrô de Tuileries que o turista americano é alvo da hostilidade de transeuntes.

“Loin du 16ème”, de Walter Salles e Daniela Thomas
com Catalina Sandino Moreno

História de uma mãe que deixa seu filho em um berçário para ser babá em uma casa. A colombiana Catalina Sandino Moreno é outra vez caracterizada como a imigrante sofrida (já foi assim em “Maria Cheia de Graça” e “Fast Food Nation”). Curta de poucas palavras com a característica marcante da dupla de diretores brasileiros.

“Porte de Choisy”, de Christopher Doyle
com Barbet Schroeder e Li Xin

Um vendedor de cosméticos tenta convencer moças asiáticas sobre seus produtos. Christopher Doyle é diretor de fotografia preferido por muitos realizadores orientais e usa a fotografia como o ponto alto de seu filme.

“Bastille”, de Isabel Coixet
com Sergio Castellitto, Emilie Ohana, Miranda Richardson e Leonor Watling

Um casamento abalado. O marido já tem uma amante. A mulher lhe dá a notícia que está com leucemia. O marido larga tudo para se dedicar à mulher. Temática da morte e significado da vida com a proximidade do fim da mesma. A diretora já abordou o tema em seu filme “Minha Vida sem Mim” (com Sarah Polley).

“Place des Victoires”, de Nobuhiro Suwa
com Juliette Binoche, Martin Combes, Willem Dafoe e Hippolyte Girardot

Dor de uma mãe diante da morte do filho. Um cowboy imaginário alivia sua dor.

“Tour Eiffel”, de Sylvain Chomet
com Yolande Moreau e Paul Putner

Criança fala de como seus pais se conheceram. Mímicos que se encontraram em uma prisão. O universo lúdico e a França como pano de fundo me fizeram lembrar “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”

“Parc Monceau”, de Alfonso Cuaron
com Nick Nolte, Ludivine Sagnier e Sara Martins

O diretor de “E tua Mãe Também” mostra uma conversa entre pai e filha por uma rua típica francesa. No entardecer as luzes das lojas de destacam. É filmado em take único. Começa com a câmera longe dos personagens e vai se aproximando na medida em que a conversa se torna mais próxima entre os dois.

“Quartier des Enfants Rouges”, de Olivier Assayas
com Maggie Gyllenhaal, Lionel Dray e Joana Preiss

Traficante sente atração e carinho por sua cliente (atriz americana que usa as drogas para agüentar o ritmo das filmagens de um filme de época).

“Place des Fêtes”, de Oliver Schmitz
com Seydou Boro e Aïssa Maïga

Paramédica encontra rapaz esfaqueado por quem sentiu atração em um relance pela rua. A música cantada pelo rapaz e a promessa de um café a dois unem dois momentos distintos. Trágico e bonito. Um dos melhores curtas.

“Pigalle”, de Richard LaGravenese
com Fanny Ardant e Bob Hoskins

Um casa noturna de striptease é palco para abordagem do amor entre dois atores de meia idade. Inversão da tendência em glamourizar a beleza da juventude. No filme, a stripper (bonita e atlética) é insignificante e casal é que enfocado com interesse.

“Quartier de la Madeleine”, de Vincenzo Natali
com Elijah Wood, Olga Kurylenko e Wes Craven

Mais americanizado de todos. Um vampira ataca um turista. Visual de revista em quadrinhos. Não tem muita relação com Paris. Destoa entre os demais.

“Père-Lachaise”, de Wes Craven
com Emily Mortimer, Rufus Sewell e Alexander Payne

Um casal sem muita afinidade se aproxima após o noivo bater a cabeça no túmulo de Oscar Wilde e o mesmo surgir e lhe abrir os olhos para a paixão. Evitando “a morte, do coração”.

“Faubourg Saint-Denis”, de Tom Tykwer
com Natalie Portman e Melchior Beslon

Relação entre jovem atriz e rapaz cego. Visualmente muito parecido com “Corra Lola, Corra”. Tom Tykwer sempre preciso ao abordar o amor.

“Quartier Latin”, de Gérard Depardieu e Frédéric Auburtin
com Gena Rowlands, Ben Gazzara e Gérard Depardieu

Casal combina divórcio de maneira amigável bebendo vinho servido por Gérard Depardieu. Outro curta que aborda a maturidade.

“14ème arrondissement”, de Alexander Payne
com Margo Martindale

Para fechar, um dos melhores do filme. A carteira americana solitária que viaja para conhecer Paris. O filme é narrado assim como uma redação escolar “Minhas Férias”. Mostra a necessidade do ser humano de dividir os momentos importantes. Ter alguém para dizer “é lindo, não é?”. Sozinha, consegue sentir a alegria e a tristeza de se sentir viva. E ao final, se apaixona por Paris e por si mesma.


A Concepção




1. Morte ao ego.
2. Ser uma nova personalidade a cada dia.
3. Toda memória deve ser apagada.
4. O dinheiro deve ser abolido.
5. A humanidade está doente, o concepcionismo é o caminho para a cura.
6. O concepcionista é uma fraude que dura 24 horas.
7. O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.
8.?
9. Voa!
10. Tudo o que foi dito deve ser esquecido agora.


Grupo de jovens em Brasília que se reúne em um apartamento aproveitando que seus pais não moram mais no Brasil.

Criam o “Movimento Concepcionista”. O propósito é ser uma pessoa a cada dia. Desligar-se completamente do ontem. Existe a simbologia de morte ao ego retratada pela queima coletiva de carteiras de identidade.

Filme angustiante que fica entre o hedonismo e a falta de perspectiva.

A narração inicial do filme me lembrou muito a do começo de Trainspotting. Só que aqui é transferida para o cotidiano de Brasília (morar no bloco, estudar para concurso, formar uma banda, querer ser Renato Russo...). Nada melhor que a capital do país ser foco de um filme em que a identidade é colocada em questão.

Destaque para a trilha sonora que tem Prot(o) (banda de Brasília que já vi muitas vezes aqui em Goiânia em festivais como Bananada e Goiânia Noise) e o sambalanço de Noriel Vilela com “Saudosa Bahia”, marcante e para mim o que mais me marcou no filme.

Todas essas idéias são bem legais mas o filme não conseguiu me prender. O cotidiano dos jovens por mais louco que seja fica enfadonho. O filme não consegue me convencer de uma citação do William Blake feita no mesmo “o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria”. E acredito que fiquei tão confuso quanto os personagens do filme quando o mesmo terminou.



segunda-feira, 30 de julho de 2007

O Ovo da Serpente - The Serpent's Egg - Das Schlangenei (1977)



Filme do sueco Ingmar Bergman (O Sétimo Selo e Morangos Silvestres) que por muitos é considerado um falha em sua filmografia.

Um artista de circo bêbado e desempregado encara a morte do irmão (suicídio) e a mudança na economia na Alemanha da década de 20 para onde migrara.

David Carradine é o ator principal e mostra todo o sofrimento e angústia de uma pessoa que não encontra razão alguma para continuar vivo diante de tanta desilusão.

Decadência econômica e degradação social são os temas principais do filme. Assim como nos experimentos nazistas, a personalidade e o caráter alteram quando há pouca esperança. A indiferença e a falta de compaixão até pelos mais próximos é quase o fim da linha para os que vivem em sociedade. Um experimento compara tal situação. Uma mulher é trancada com uma criança recém-nascida com problemas mentais. O choro inicial desperta compaixão da mesma pela pequena criatura. Mas o tormento constante e a falta de perspectiva de um melhora da situação transtorna a pessoa que é capaz de cometer atos antes impensados.

As andanças de protagonista pelo submundo alemão lembra o universo marginal de charles bukowski. O filme é um pesadelo sem fim para o protagonista que não ri em momento algum na película, muito menos o espectador.

Qualidade técnica invejável do diretor (principalmente em cenas dos créditos iniciais e em outro momento dentro de corredores de arquivos que guardam segredos nazistas) marca o filme.

Destaque para a cena em que o padre confessa que não acredita que Deus está próximo e pede perdão a quem confessa por mostrar apenas medo diante de toda situação.

Bergman tenta mostra a gênese do nazismo. Metáfora para o ovo da serpente que é inicialmente visto com estranheza mas é possível ver através de sua fina película que um mal ali germina.

domingo, 29 de julho de 2007

Graveyard Alive – A Zombie Nurse in Love (2003)




Filme canadense de baixo orçamento que tenta se figurar entre um filme cult e filme de terror com pitadas de comédia.

Uma tímida e solitária enfermeira é mordida por um lenhador infectado e se transforma em um zumbi. Após a mordida, a enfermeira parece “ganhar vida”, principalmente por seu apetite sexual. Para a diretora Elza Kephart uma bactéria é responsável pela transformação de uma pessoa em zumbi e a única maneira de eliminá-lo é um golpe no terceiro olho (no centro do crânio). Que estranho!

Fato é que o longa é bem filmado. Dividido em capítulos como uma história em quadrinhos. A câmera é precisa e a fotografia em preto e branco tenta amenizar algumas cenas que poderiam ser consideradas como gore. A trilha sonora é muito bem escolhida. Vai do jazz a banda canadense Les Brestfeeders (que canta em francês “Laisse Autant le Vent Tout Emporter”). Mas o filme torna-se entediante após a enfermeira torna-se um zumbi. Os diálogos propositadamente forçados não tornam o filme engraçado. O filme não decide se quer provocar riso ou susto.

Penso que Graveyard Alive poderia se tornar um grande filme se os responsáveis pelo mesmo escolhessem um caminho para o filme. Trata-se de um terror independente visualmente interessante mas a fotografia em preto e branco, diálogos não convencionais e trilha sonora descolada não tornam um filme cult. Palavra que por sinal odeio pois é estereotipada exaustivamente no meio cinematográfico e já perdeu seu sentido há muito tempo.

Não achei um trailer do filme. Aqui vai então um clipe do Les Brestfeeders

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Gatti Rossi In Un Labirinto Di Vetro - Eyeball - The Secret Killer (1975)


É o primeiro giallo que comento aqui no blog. Giallo é amarelo em italiano. E é da Itália que vem esse gênero tão peculiar. Um assassino em série, mulheres lindas (divas italianas da década de 70), erostimso,sangue, detetives e mistério. O gênero foi associado a livros policiais de mistério que eram identificados com a capa amarela. Os maiores representantes desse gênero foram Dario Argento e Mario Bava.

Esse giallo de Umberto Lenzi é bem convencional. Tem todos os elementos acima citados e com o detalhe que o assassino tem como marca registrada a evisceração do olho esquerdo da vítima.

O filme é ambientado na Espanha com um grupo de turistas americanos que é alvo do assassino. Detalhe para a exploração arquitetônica de Barcelona com algumas obras do Gaudí sendo ponto turístico para as futuras vítimas.

A trilha sonora de Bruno Nicolai tem a marca dos anos 70 e me lembra muito os filmes que assistia na infância na Sessão da Tarde, inclusive alguns filmes mais antigos dos Trapalhões.

Com uma trama simples, não há muita dúvida de quem é o assassino. As seqüências de assassinato são muito bem exploradas em vermelho (cor da capa de chuva usada pelo mesmo). Destaque para o casal modernoso de lésbicas e para a cena de assassinato no trem fantasma.

sábado, 21 de julho de 2007

A Lentidão - Milan Kundera



Quando comecei a ler este livro logo me lembrei de um filme que assisti em 2005. Amizade sem Fronteiras. Filme com Omar Sharif que mostra a amizade de um muçulmano dono de uma mercearia com um pobre jovem menino judeu. Um dos ensinamentos ao jovem garoto é de como aproveitar melhor a vida. Através da lentidão é possível apreciar momentos que num momento de correria seriam relegados ao esquecimento.

É assim que Milan Kundera tenta mostrar seu ponto de vista também. A beleza de se desgustar o tempo. Na maior parte do livro, Kundera mostra como seus personagens são incapazes de fazer isso. É a inquietação dos mesmos que é evidenciada. A beleza da lentidão é mostrada em raros momentos nesse mar de inquietude.


“Há um vínculo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento. Imaginemos uma situação das mais comuns: um homem andando na rua. De repente, ele quer se lembrar de alguma coisa que lhe escapa. Nesse momento, maquinalmente, seus passos ficam lentos. Ao contrário, quem está tentando esquecer um incidente penoso que acabou de vive sem querer acelera o passo, como se quisesse rapidamente se afastar daquilo que, no tempo, ainda está muito próximo de si. Na matemática existencial, essa experiência toma a forma de duas equações elementares: o grau de lentidão é diretamente proporcional à intensidade da memória; o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento.”

“...Estou ao volante e, pelo retrovisor, observo um automóvel que vem atrás de mim. A luzinha da esquerda pisca e todo o automóvel emite ondas de impaciência. O condutor espera o ensejo de me ultrapassar; espreita esse momento como uma ave de rapina espreita um pardal.”

“Pensamos sempre que as oportunidades de um homem são mais ou menos determinadas pela sua aparência, pela beleza ou fealdade do seu rosto, pela sua conformação... Errado. É a voz que decide tudo. Tudo depende da força da voz.”

“Quero contemplar um pouco mais o meu cavaleiro que se dirige lentamente para a sege. Quero saborear o ritmo dos seus passos: quanto mais avança, mais os passos abrandam. Nessa lentidão, creio reconhecer um sinal de felicidade.”

quarta-feira, 18 de julho de 2007

C'est arrivé près de chez vous - Man Bites Dog - Aconteceu Perto de sua Casa




O documentário da vida de um serial killer. Até parece uma idéia original para um filme hollywoodiano de sucesso com atores de renome, uma boa dose de violência e uma previsível adoração pelo público (que tanto consome assassinatos em série). Mas esse filme belga é tudo menos comercial. Assustador e aterrorizante, o filme mostra com detalhes a vida de Benoit (Ben), o assassino, que é acompanhado por uma equipe de três pessoas, os realizadores do documentário. Os atores têm os mesmos nomes dos personagens. O filme é dirigido pelos mesmos três.

O documentário mostra a vida íntima do assassino intercalando cenas domésticas com brutais assassinatos. Benoit apresenta bom relacionamento com sua agradável família e com seus (poucos) amigos e vai mostrando uma boa formação intelectual através da defesa de seus pontos de vista.

Já os assassinatos são mostrados de uma forma cru sem poupar o espectador que nada pode fazer para encerrar com seu ciclo de matança a não ser abandonar a tela. Já os que decidem continuar com Benoit em seu relato documental são obrigados a presenciar uma ação brutal contra pessoas indefesas que pagaram por cruzar o seu caminho.

Algo nesse filme me fez lembrar “A Bruxa de Blair”. Fotografia em preto e branco, ações “supostamente” reais e uma câmera nervosa nos momentos de ação.

O filme é de 1992 e recebeu um prêmio menor no Festival de Cannes e foi divisor de muitas críticas.

Quando terminei de assistir a esse filme, me senti perturbado. Em momento algum senti simpatia pelo assassino (muitos críticos na época exaltaram o filme pelo carisma de Benoit) e me questionei como alguém tem a coragem de tentar trazer veracidade a cenas tão fortes sem nenhuma restrição.

No filme, a atitude da mídia (representada pelos documentaristas) não é só passiva em relação ao assassino, ela o incentiva. Talvez um alerta à banalização e glamourização da violência, tanto difundida e aceita como algo normal.


terça-feira, 17 de julho de 2007

Fast Food Nation





Este é um filme de Richard Linklater. Do mesmo diretor já assisti a quatro filmes e todos brigam comigo pois ainda não vi “Antes do Amanhecer” e “Antes do Pôr-do-Sol”. Tá bom. Tenho aqui em casa mas vou vê-los em outra oportunidade.
Gostei de “Danzed and Confused”, “Escola do Rock” e de “Tape”(que mais parece uma peça de teatro). Já não posso falar o mesmo de “Walking Life”. Esse desenho me deixou tonto. Tenho que conferi-lo mais vezes pois não fui capaz de acompanhar a quantidade de informação que seus personagens produziam e acabei me perdendo no filme e por muitas vezes sem entender. Esse parece um daqueles filmes que todos gostam. Revisando sobre esse filme agora acabei de achar um arquivo com todos os diálogos e discussões filosóficas do filme. Irei ler mais tarde e quem sabe pela leitura eu não seja massacrado como da vez que fui no cinema

Resumindo, não sou a pessoa certa para falar dos filmes de Linklater. Mas vou mostrar a minha impressão sobre Fast Food Nation.

Richard Linklater adaptou, junto com Eric Schlosser, o livro "Fast Food Nation : The Dark Side of the All-American Meal". Talvez embalado com a onda de documentários como “Super Size Me” e com a ascensão de Micheal Moore, Linklater critica a lógica das redes de Fast Food americanas.

O roteiro lembra de longe os filmes de Iñárritu (Babel principalmente) e interliga várias pessoas através da rede de Fast Food chamada Mickey’s.

O ponto forte do filme são os atores (com exceção de Avril Lavigne num papel que não diz a que veio).
Greg Kinnear é o executivo da empresa que vai investigar irregularidades na produção dos hamburgeres. É um pai de família, uma pessoa de bom coração mas é passivo e sabe que debaixo de toda a limpeza e esterilidade das fachadas das lanchonetes há muita sujeira. O seu dilema está em saber até que ponto é vantajoso investigar toda a sujeira ou deixar tudo como está. Fachadas limpas mas com o cerne sujo (assim como o sanduíche cuspido por um funcionário que o ator come em certo momento do filme sem perceber essa “sujeira”) parece uma realidade inevitável para a lucro de tais empresas.

Sujeira também é mostrada na maneira como os mexicanos, imigrantes ilegais, trabalham e são explorados. Destaque aqui para a atuação de Catalina Sandino Moreno do filme “Maria Cheia de Graça”. Isso tudo debaixo dos olhos da sociedade americana. Parece ser esse o maior foco da denúncia de Linklater e Schlosser.

Outro espectro do filme é representado por adolescentes que decidem que são necessárias ações para mudar o que está acontecendo em relação às cadeias Fast Food. Sinceramente não soube aqui perceber se Linklater concorda com o que os adolescentes militantes pregam ou se ele apenas faz uma caricatura da juventude americana e de sua incapacidade de lutar contra um sistema já imposto.

Linklater opta por mostrar também imagens chocantes. O abate dos animais e a maneira como os hamburgeres são preparados. Um documentário da década de 70 chamado “Meat” já fizera o mesmo.

Como o filme foi indicado a Palma de Ouro de Cannes ano passado, gostaria de ter visto suas entrevistas na ocasião e o que realmente pensa Linklater.

Trata-se de um filme interessante mas pouco inovador.

Cellar Dweller - O Monstro Canibal





Terrorzinho dos anos 80. Resolvi assisti-lo por ter a participação de Jeffrey Combs (do clássico Re-Animator) e da musa da década de 50 Yvonne De Carlo. Se não me engano já passou no saudoso Cine Trash da Band das sextas à noite.

O filme começa na década de 50 com Colin Childress (Jeffrey Combs) que se inspira em livros de magia negra para escrever seus quadrinhos. Acidentalmente seu quadrinho se personifica num monstrengo enorme com um pentagrama no peito que começa a destruição. Para evitar maior massacre, o cartunista acaba ateando fogo no bicho e morre queimado. Para a imprensa local, ficou a idéia de que Colin assassinou e cometeu suicídio. Tudo isso acontece em um porão. Essa é a primeira cena do filme e pela caracterização do monstro já se pode antecipar a tosqueira que está por vir.

Trinta anos anos depois a casa se transforma em uma escola de arte dirigida pela personagem de Yvone De Carlo. E é pra lá que vai a cartunista Whitney Taylor (Debrah Farentino) que sempre foi fascinada por histórias de terror e se muda em busca de inspiração. A casa é um celeiro de figuras bizarras: um pintor abstrato, uma outra cartunista, uma desajustada que faz umas performances aeróbicas (parecendo Olívia Newton-John no clipe mais trash que já vi na vida “Let’s get physical”), um escritor de livros pulp (pelo menos é o que me pareceu) e a dona do lugar (Yvonde de Carlo).

Whitney consegue autorização para se instalar no obscuro porão e o monstro volta novamente a se personificar com seus traços.

O filme é cheio das máximas do terror barato dos anos 80: monstrão nojento e meio bobo com pentagrama no peito, um machado sempre à disposição para defesa pessoal, cena da loira tomando banho (essa foi fraca!) e cabeças decapitadas. Há uma referência explícita ao filme “A Morte do Demônio” que é a câmera em primeira pessoa vindo do mato e entrando na casa e sempre com muita fumaça em volta para criar um ar sinistro. A propósito, a cena é colocada totalmente fora de contexto, umas duas vezes. Penso que foi só para homenagear o mestre Sam Raimi (para quem não sabe o diretor de Homem Aranha é responsável por um dos filmes de terror/trash mais cultuados).

Os atores são ruins mas poderíamos salvar Debrah Farentino e Yvone de Carlo do monstro (elas não foram tão mal!). O desfecho final é engraçado e o filme não cansa pois tem apenas 73 minutos. A tradução brasileira para o título é também um ponto hilário (o monstro canibal!!!???)

Trata-se de uma produção muito barata e filmada em apenas 10 dias. Recomendo apenas para fãs de terror anos 80. O filme é, no bom sentido, uma “tosqueira da grossa”.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Kids Return - De Volta às Aulas





Sempre fui fã da obra do japonês Takeshi Kitano. Na minha opinião, melhor diretor do oriente da atualidade. Apelidado no Japão de “beat” Takeshi, o diretor começou sua carreira como artista de manzai. Takeshi é também autor de romances, contos e poesias; além de encontrar tempo para o desenho e pintura. Desde que assisti Verão Feliz, minha visão sobre o cinema oriental mudou e Takeshi foi responsável por isso.

Uma das características marcantes do cinema de Takeshi é a abordagem da amizade e companheirismo. Ele consegue sempre fazer isso com ternura e nunca apela para clichês ou cenas feitas. Os personagens de seus filmes transpiram emoções e é difícil não entrar na realidade dos mesmos como se fossem nossos amigos, mesmo que do outro lado do mundo.

O filme fala da vida de dois jovens. Os adolescentes são colocados como desajustados. Em momento algum é mostrado familiares dos mesmos. Parecem dois largados no mundo que têm na amizade um motivo para poder encontrar algum sentido para o vazio de suas realidades. Masaru e Sheiji são os únicos estudantes da classe que não trabalham. Únicos que não vão as aulas. Únicos que andam de bicicleta no pátio enquanto os outros assistem às aulas. São tratados como dois delinqüentes.

A fotografia tem grande importância. Os dois amigos aparecem em quase todo o filme de cores diferentes, principalmente o azul e o vermelho, em contraste com o plano de fundo cinza, representado pela cidade.

Masaru surge com a idéia de praticar boxe. Começa a correr e a fazer sombra no meio da rua. Chama seu amigo Sheiji para acompanhá-lo. Sheiji o acompanha como se fosse qualquer outra diversão que eles sempre costumavam a fazer juntos. Mas Sheiji leva jeito para o esporte e vai evoluindo nos ringues. Precisa é a abordagem de Takeshi na maneira da frustração de como Masaru encara sua inaptidão para o esporte enquanto Sheiji está prestes a começar a lutar nos ringues. Frustrado, Masaru sente vergonha e vê na Yakuza (máfia japonesa) uma maneira de se tornar reconhecido de alguma maneira.

O filme vai se desenvolvendo e abordando outros personagens peculiares (alguns com um fundo cômico; característica dos filmes de Takeshi). Mas nesse filme, o diretor japonês está mais sério e usa o boxe para criticar a sociedade japonesa. Ele mostra bem a pressão que a sociedade japonesa impõe a seus membros. A necessidade de resultados vai lentamente tirando todos os prazeres de um ser humano. Assim como um boxeador próximo a uma luta não pode ter prazeres com mulheres, comida e bebida; as pessoas vão aceitando essa realidade sem prazeres como uma máxima para obter sucesso em seu desempenho laboral. A frase dita ao empregado de uma firma no filme identifica essa pressão cotidiana: “trabalhe mais se quiser ver sua esposa feliz”.

E é dentro desse contexto que Sheiji e Masaru são tidos desajustados. Não trabalham e passam a maior parte do tempo se divertindo. Eles também sentem a pressão por resultados mas se diferem muito do meio em que vivem. Acabam seguindo caminhos diferentes e o filme apresenta um final até um pouco surpreendente para quem está acostumado com o diretor.

O filme acaba se tornando um reflexão para as nossas vidas. Estamos sufocados pela necessidade de mostrar resultados. Mas até que ponto temos que nos privar dos nossos prazeres e relacionamentos para mostrarmos resultados positivos?

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Madredeus


Ecos na Catedral

Os teus olhos são vitrais
Que mudam de cor com o céu
E quando sorriem, iguais...
E quando sorriem, iguais...
Quem muda de cor sou eu
Tomara teus olhos vissem
O amor que trago por ti
Nem o entardecer me acalma...
Nem o entardecer me acalma...
Na ânsia de te ter aqui
E o teu perfume, o incenso
Os ecos de uma oração
Misturam-se num esboço imenso
Afogam-se na solidão
Fui para um templo de pedra
Escolhi um recanto isolado
Que me faça esquecer tua voz...
Esquecer-me da tua voz...
Que me faça acordar do passado
Escondida em sítio sagrado
E não me apetece o perdão
Devo estar enfeitiçada
Náufrago do coração
E o teu perfume, o incenso
Os ecos de uma oração
Misturam-se num esboço imenso
Afogam-se na solidão
Não sei se perdoo o meu fado
Não sei se consigo enfim
Um dia esquecer que teus olhos
Sorriem, mas não para mim

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

She Wants Revenge


A internet toma quase todo o meu tempo livre mas às vezes sou recompensado. Foi me perdendo pelo site allmusic.com que descobri o She Wants Revenge. Estava lá listado que se tratava de uma banda similar à americana Interpol. Como não agüento mais esperar um novo disco do Interpol resolvi experimentar o She Wants Revenge. Grata surpresa. Os vocais lembram muito o Bauhaus (sinistra banda cujo maior hit é “Bela Lugosi is Dead”), Joy Division (cerne do atual new order) e o próprio Interpol.
A banda de Los Angeles é formada por dois DJs. Justin Warfield (voz e guitarras) e Adam Bravin (baixo, teclados e sintetizadores). Os outros são músicos contratados como o guitarrista Thomas Froggatt e o baterista Scott Ellis. Justian já fizera uma participação em 2000 em uma música do Placebo “Spite & Malice” e alguns trabalhos com dj.
Suas letras são mais otimistas que as do angustiado Interpol, mas também falam de solidão. O SWR também fala da dificuldade de comunicação e de expressão. Relacionamentos amorosos são a base de suas letras. Sentimentos listados no próprio site oficial da banda ENGANO – TRAIÇÃO –MENTIRA – VINGANÇA – POSSESSÃO marcam as letras do álbum. Mas o SWR parece, afinal, ironizar tudo isso.
O que mais me chamou atenção na banda foi o estilo visual e musical.
Seus clipes são de extremo bom gosto. Em “These Things” há a participação da vocalista da banda Garbage. Shirley Mason está lindamente sinistra e com uma postura dominadora. O vermelho vai de seus cabelos à fotografia do clipe. Justin, o vocalista, está acuado.
Em “ Tear You Apart” há uma sátira ao comportamento adolescente e suas angústias. Uma garota comum que não quer que o namorado descubra o seu segredo. Novamente o vermelho tem destaque na fotografia, representando o segredo da protagonista. Nesse clipe, o SWR fala sobre a frustração adolescente. Um termo muito usado pela língua inglesa como teenage angst. Já foi marca registrada do The Smiths e Nirvana. Emoção semelhante expressada pela Beat Genaration encabeçada por Jack Keroac na década de 50 e o spleen da geração ultra-romântica do século XIX.
O She Wants Revenge ainda precisa de mais álbuns de qualidade para convencer a crítica e mostrar que não é uma banda que só sabe copiar. Mas para mim, o seu álbum de estréia é suficiente. Está hoje na lista das minhas bandas favoritas.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Marie Antoinette





Quando Sofia Coppola começou a ter destaque na mídia, senti certa desconfiança. O genial pai da moça, Francis Ford Coppola, autor de vários clássicos que considero obras primas como A Trilogia Poderoso Chefão e Apocalypse Now, tem o costume de ir discretamente escalando parentes para a composição de seus filmes. Basta tomarmos a trilogia como exemplo. Lá estão Tália Shire, sua irmã do mestre e esposa de Stallone em Rocky um lutador; seu filho Roman Coppola, seu pai Carmine Coppola que junto com Nino Rota produziu uma das trilhas sonoras mais marcantes além da sua filha e hoje maior representante do sobrenome Coppola. O nepotismo de Coppola começou a irritar a crítica sendo Sofia indicada quatro vezes ao prêmio Framboesa de Ouro dentre elas pior revelação da década, por Poderoso Chefão e pior atriz coadjuvante da década por Star Wars episódio I.

Sofia tinha tudo para ser um desastre na direção. Mas pelo contrário. Apresentou uma bela estréia na direção com Virgens Suicidas em 1999. Em seguida filmou o belíssimo Encontros e Desencontros. Sofia já não tinha nada para provar mas o festival de Cannes lhe reservou uma surpresa.

Seu filme era muito aguardado. Sofia se dedicou bastante à produção do filme. Conseguiu filmar no palácio de Versalhes em alguns aposentos não abertos à visitação pública. Fez seis anos de pesquisa junto a historiadores. Tudo isso em vão, para a crítica. Seu filme foi vaiado como há muito não se via em Cannes. A imprensa massacrou Sofia e pela sua fisionomia percebia-se seu constrangimento. Seus personagens foram chamados de superficiais e fúteis. A trilha sonora com músicas atuais também não agradou. A diretora não quis ler a principal biografia de Maria Antonieta escrita por Stefan Zweig e se baseou em uma outra , de Antonia Fraser, que trazia uma rainha mais humana.






Os franceses não gostaram de uma americana filmando em Versalhes. A diretora quis retratar uma história de uma menina que aos quatorze anos foi parar no palácio de Versalhes. Mostra uma Maria Antonieta diferente da esperada pelos franceses. A do filme não tem personalidade forte e tem toda a insegurança e chatice de uma adolescente.

A trilha sonora também causou polêmica. Com músicas do New Order, The Strokes, The Cure, Aphex Twin e Air; Maria Antonieta pareceu bem jovem e empolgada. Kirsten Dust não deixa a desejar no papel principal. O elenco também não desafina. Destaque para a filha do mestre italiano do terror Dario Argento, Ásia Argento.

A fotografia também é invejável. Representada em tons pastéis sendo cada fase um tom de cor. Chega a lembra em momentos a de Barry Lyndon, filme de Stanley Kubrick que revolucionou com uso apenas de iluminação natural para filmar.

Mas a cena que mais revoltou a crítica foi o aparecimento de um tênis all star. Uma falha proposital da diretora. Foi a deixa para o massacre da crítica.

Penso que o filme é muito maior que sua crítica. Sofia sempre foi hábil em descrever a auto-afirmação da mulher. Todas as personagens de seus filmes foram mulheres forçadas a crescerem contra suas vontades. Assim como a diretora que fora massacrada pela crítica quando era atriz. Talvez seja o tênis all star um símbolo do conflito que a diretora viveu. A década de 80 e o seu período de escolhas: seguir carreira no cinema e ter que viver a realidade da crítica. Ali no filme também estão canções contemporâneas como a clássica Ceremony da banda inglesa New Order. Banda que como Sofia desafiou a crítica e inovou.

Maria Antonieta é um chute no estômago dos puristas. É uma molecagem de adolescente que incomoda os pais intolerantes. É um riff de guitarra no ouvido daqueles acostumados com o silêncio ou com a serenidade de uma música clássica.