
Quando comecei a ler este livro logo me lembrei de um filme que assisti em 2005. Amizade sem Fronteiras. Filme com Omar Sharif que mostra a amizade de um muçulmano dono de uma mercearia com um pobre jovem menino judeu. Um dos ensinamentos ao jovem garoto é de como aproveitar melhor a vida. Através da lentidão é possível apreciar momentos que num momento de correria seriam relegados ao esquecimento.
É assim que Milan Kundera tenta mostrar seu ponto de vista também. A beleza de se desgustar o tempo. Na maior parte do livro, Kundera mostra como seus personagens são incapazes de fazer isso. É a inquietação dos mesmos que é evidenciada. A beleza da lentidão é mostrada em raros momentos nesse mar de inquietude.
“Há um vínculo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento. Imaginemos uma situação das mais comuns: um homem andando na rua. De repente, ele quer se lembrar de alguma coisa que lhe escapa. Nesse momento, maquinalmente, seus passos ficam lentos. Ao contrário, quem está tentando esquecer um incidente penoso que acabou de vive sem querer acelera o passo, como se quisesse rapidamente se afastar daquilo que, no tempo, ainda está muito próximo de si. Na matemática existencial, essa experiência toma a forma de duas equações elementares: o grau de lentidão é diretamente proporcional à intensidade da memória; o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento.”
“...Estou ao volante e, pelo retrovisor, observo um automóvel que vem atrás de mim. A luzinha da esquerda pisca e todo o automóvel emite ondas de impaciência. O condutor espera o ensejo de me ultrapassar; espreita esse momento como uma ave de rapina espreita um pardal.”
“Pensamos sempre que as oportunidades de um homem são mais ou menos determinadas pela sua aparência, pela beleza ou fealdade do seu rosto, pela sua conformação... Errado. É a voz que decide tudo. Tudo depende da força da voz.”
“Quero contemplar um pouco mais o meu cavaleiro que se dirige lentamente para a sege. Quero saborear o ritmo dos seus passos: quanto mais avança, mais os passos abrandam. Nessa lentidão, creio reconhecer um sinal de felicidade.”
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