
Paris é o cartão postal de Woody Allen. Uma sequência de belas imagens da cidade é mostrada em várias situações na abertura do filme. Desde os pontos turísticos mais badalados como o Louvre e a torre Eiffel até os fundos de uma cantina simples numa noite chuvosa. Início de um filme promissor.
Gil Pender (Owen Wilson) é um roteirista insatisfeito. Seus roteiros rentáveis são ruins e isso o incomoda. Queria fazer algo melhor. O destino é Paris. Woody Allen abandonou Nova York como cidade de seus filmes. Gil também tem Paris como inspiração. Sua esposa se interessa pelo luxo. Essa é a tônica inicial da viagem do protagonista com a família de sua noiva.
Tudo se parece muito chato para Gil. Piora quando em um jantar encontra com um casal amigo de sua noiva. Iniciam-se as visitas a pontos turísticos nos quais o marido Paul (Michael Sheen) faz questão de ser a pessoa que sabe tudo. É aquele amigo chato que todo mundo tem e que adora exibir conhecimento. Os passeios são tão torturantes que Gil começa a se esquivar com a desculpa de precisar solidão para escrever seu romance (desacreditado até por sua noiva). Sozinho em Paris, sua viagem começa a ficar menos ruim.
O título do filme é o ato passagem para uma outra época. Os anos dourados para Gil, que são os anos 20. Começa então uma jornada fantástica pela Paris que Gil sempre exultou. Uma avalanche de artistas imortais nos é mostrada. Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Cole Porter, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Luís Buñel, TS Elliott e muitos outros na intimidade de um bate papo. Mesmo passando longe da genialidade de suas novas amizades, Gil é acolhido e querido de uma maneira bem diferente de sua realidade. Sua noiva e o amigo pedante que vomita conhecimento passam a ser secundários.
O contraste entre sua realidade e os anos 20 é sensível a ponto de esperarmos ansiosamente a nova incursão de Gil ao passado. O protagonista não se parece com Woody Allen. Exceto por um importante detalhe. Aprecia arte porque gosta e não para aparecer. Infelizmente o diretor acaba se sabotando pois agrada extremamente o perfil daquele que tanto contesta. O pseudointelectual ou mesmo o intelectual chato. Os risos um pouco mais exagerados no cinema vêm daqueles que de alguma forma tem conhecimento do que está sendo falado. A cada citação de uma obra clássica de um dos personagens (como por exemplo O Anjo Exterminador de Luís Buñel ou As Neves de Kilimanjaro de Hemingway) ouço risadas efusivas de alguns que de alguma forma são iguais a Paul, querem exibir conhecimento.
A idéia de reunir tantos artistas em um só roteiro é magnífica. O desenrolar do roteiro é extremamente prazeroso porque a cada instante podemos ser apresentados a um gênio. O resultado de tanta gente em tão pouco tempo de filme acaba, porém, gerando personagens superficiais e por vezes muito caricatos, quase iguais às participações especiais de celebridades nos episódios dos Simpsons.
Apesar de tudo, o filme é excelente e delicioso de se assistir. Saio com a sensação boa que sempre sinto ao final dos filmes de Woody Allen. Um cineasta perfeito em expor pequenos (e essenciais) detalhes dos relacionamentos humanos.
Um comentário:
Não assisti ao filme, mas adorei o texto! Ai, ai... que vontade de estar em Paris e de ter um encontro com essas pessoas fantásticas huehuehuehue
Rosane
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