sexta-feira, 24 de junho de 2011

Verão Violento - Estate Violenta (1959)

Quando se fala em cinema italiano, penso nas divas. Termo hoje que perdeu a força. O culto atual é da mulher fútil. Uma gostosa que não dê trabalho. Uma diva italiana é complexa na essência e possui no seu arsenal de virtudes o estilo como característica marcante.

Carlo (Jean-Louis Trintignant) se apaixona por uma diva. Roberta (Eleonora Rossi Drago) é quem faz o jovem perder a cabeça. Sua rotina bon vivant fica vazia sem a presença daquela mulher tão diferente de sua realidade. Mesmo cercado por mulheres bonitas (destaque para a belíssima Jaqueline Sassard), apenas Roberta é capaz de prender sua atenção. Fácil seria se o interesse mútuo fosse a única condição para ficarem juntos. Estavam diante da II Guerra Mundial.

A guerra é o carma de Roberta. Viúva de um soldado, vive agora o preconceito da sociedade e de sua família diante do romance com um desertor. Nada comparável ao seu desejo.

A película em preto e branco é um dos pontos altos do filme. Com um jogo de luzes e contrastes, o diretor Valerio Zurlini compõe cenas memoráveis. A troca de olhares é arrebatadora. Tanto durante um blackout no circo quanto em uma festa, ao som da música Temptation, dançam com parceiros diferentes mas não conseguem tirar os olhos um do outro.

Trata-se de um verdadeiro romance. O real significado do verbo gostar. O prazer de passar horas conversando (como fazem em uma viagem a San Marino), de sentir o corpo da outra pessoa ao lado (seja em uma dança ou deitados na areia esperando o dia amanhecer), de fazer o mundo parecer menor em comparação à companhia da pessoa amada. Aliado a esse universo de paixão, ficamos com a marca pessimista e amargurada do diretor. É mostrada uma sociedade vazia e alienada. A guerra é uma ferida na tranqüilidade dos amantes. O casal vive o tempo todo sob tensão e esse ambiente inóspito parece uma forma de castigo imotivado.

Sentimentos aflorados em um filme essencialmente italiano. Estiloso e marcante, assim como uma diva.

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