sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Caminho das Pedras (2011)



Primeiro filme da mostra competitiva do Festcine Goiânia. Na platéia estava Samara Felippo, protagonista do filme, ao lado daquelas pessoas que sempre vejo nos festivais de cinema mas com quem nunca conversei. O diretor, Lázaro Ribeiro, chamado ao palco demonstrava pela insegurança da sua voz que aquele era um momento único e marcante em sua vida. O curta é sobre a poetisa que eternizou a Cidade de Goiás.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto. Esse é o nome de batismo de Cora Coralina. Sou fascinado por consoantes repetidas em um nome. Talvez pela genialidade de Nabokov ao conceber Lolita. Recurso também usado pela poetisa quando fala “presença primeira do meu primeiro verso”. Fato é que consoantes repetidas me fazem pensar em personalidades fortes. Assim é Cora Coralina.

O filme fala de Ana e não de Cora. O pseudônimo foi assumido aos 50 anos (momento em que descreve como a “perda do medo”). Medo pelo impacto da ausência da proteção de um pai, medo por se sentir condenável em razão de suas atitudes. Medo seguido de ansiedade. Medo das “más línguas de Goiás” pelas quais nada passa despercebido, segundo sua mãe.

O curta de Lázaro Ribeiro tem uma virtude que poucos filmes de época têm. Mesmo com uma ótima caracterização de cenário, figurino e comportamentos, o que importa é a protagonista e seus sentimentos. As palavras de Cora recheiam o filme. Uma mulher à procura do seu destino. Cores, imagens e olhares belos.

O filme termina com a imagem das pedras de Goiás. Pedras em que caminham os pés de Cora. A belíssima musicalização final de sua poesia em uma voz parecida com a da cantora Tetê Espíndola diz “Longe do Rio Vermelho, fora da Serra Dourada, distante dessa cidade, eu não sou nada, minha gente”. Sentir que pisei nas pedras testemunhas dos acontecimentos do filme é uma sensação indescritível.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

The Walking Dead S02E04 - Cherokee Rose (2011)

Episódio bem interessante. Mesmo sem tantos zumbis por perto.

Apenas um zumbi gordo e nojento. Preso em um poço, morre ao tentar ser regatado pelos humanos que querem eliminá-lo. Acaba acidentalmente partindo-se em dois, espalhando suas tripas pelo quintal. Apesar de a caracterização específica desse zumbi ser bem interessante, sua presença se perde em um episódio rico em acontecimentos.

Fala da lenda da rosa cherokee. As lágrimas das mães índias cherokees geradas pelo extermínio de seus filhos regaram e floresceram essa bela rosa que é símbolo de esperança. Quem conta a história é o independente Daryl que não se cansa em procurar Sophia. É sua maneira de amenizar a ausência do irmão Merle. A rosa cherokee achada por Daryl é para ele sinal de que Sophia está próxima.

Shane perde importáncia na trama. O assassinato de Otis o deixou perturbado. É uma pessoa embriagada pela culpa, nem parece aquele protagonista das ações do início do seriado. O final revela a gravidez de Lori. Promessa de um próximo episódio com Shane ainda mais atormentado.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

The Walking Dead – S02E03 – Save the Last One (2011)


Episódio mais movimentado que o anterior. Já era esperada a fuga de Shane e Otis do colégio repleto de zumbis. Enquanto isso o drama continua no casarão da fazenda de Herchel.

A amargura de Laurie é síntese da desesperança. Abdicar de seu filho, uma hipótese plausível . Contraste com o delírio de Carl: uma imagem de beleza própria dos momentos felizes da infância.

Revelador e paradoxal é o comportamento de Shane. Um assassinato na luta pela sobrevivência. Situação gerada a partir de sua decisão em salvar a vida de uma criança. Vai carregar esse peso durante toda a série. Talvez esse fato torne The Walking Dead menos enfadonho quando estamos sem a presença dos zumbis.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

The Walking Dead S02E02 - Bloodletting (2011)


Talvez o pior episódio das série. Quando parece se salvar, aparecem seus créditos finais. Apelação cortar um episódio em um climax de ação. A produção da série parece perceber a má qualidade desse capítulo, optando por essa tática. Um convite a abandonar a série para os mais exigentes.

Carl, filho de Rick, é baleado acidentalmente na floresta. Outro humano sobrevivente (Otis) é responsável pelo tiro. Para ajudar Carl, Otis indica a fazenda onde sua família está abrigada e orienta a procurar Herschel, o patriarca da família.

O episódio se desenrola no drama em operar o garoto com condições precárias. É quase um clichê de faroeste em que já sabemos que tudo se resolverá bem.

Shane e Otis vão a uma unidade de emergência de um colégio para completar o aparato cirúrgico requisitado por Herschel (médico veterinário). Detalhe para o local repleto de zumbis.

Não atribuo o meu desprezo ao episódio pela escassez de zumbis e sim por sua monotonia.

Atividade Paranormal 3 - Paranormal Activity 3 (2011)


A franquia volta mais ao passado para mostrar a infância das irmãs Kristi e Katie. O recurso para relatar a história é novamente o uso de câmeras caseiras dos personagens na busca de fenômenos sobrenaturais.

O desenrolar da história é semelhate aos filme antecessores. Tudo muito calmo no começo até o início das manifestações. O filme peca em brincar de assustar. São personagens pregando peças entre si fazendo com que o susto demoníaco tenha o mesmo peso que um susto inocente de uma brincadeira. Ambos disparam o coração.

O filme usa muitos assuntos já desgastados pelo terror. Amigo imaginário é um exemplo. Toby é com quem Kristi conversa. Por uma letra não temos o assustador Tony de O Iluminado. Não há como não pensar no filme de Stanley Kubrick. Assim como não deixo de pensar em A Bruxa de Blair quando vejo as crianças em uma barraca e percebo que o diretor adora balançar uma câmera.

Há, porém, novidades na estética. Uma câmera acoplada a um ventilador para obter um maior campo visual. O passeio da câmera gera ansiedade e através dele truques são usados para as cenas serem mais convincentes. Outra cena bem interessante é a que se brinca de frente ao espelho evocando o termo Blood Mary no escuro.

A estética oitentista do filme é um prato cheio para quem viveu essa época. As fitas VHS que só gravam 6 horas (isso se no modo EP) e as enormes câmeras de mão mostram o que era moderno na época. O figurino, desde a lingerie de Julie até a roupa rosa choque da babá, é convite a uma retrospectiva mental dos filmes clássicos dos anos 80.

Susto. Sobressalto causado por evento não esperado; surpresa vigorosa e momentânea. Está no dicionário. Na minha cabeça, susto está muito longe do termo terror. O disparo do meu coração em um filme não significa que o medo foi instalado.

Filme com potencial excelente para aterrorizar e que cede à tentação de querer ver seu espectador pular da cadeira. Atividade Paranormal 3 mais parece um trem fantasma. Isso para mim não é terror.

Detalhe: cena do trailer não aparece no filme.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Walking Dead S02E01 – “What Lies Ahead”


Minha série preferida do momento. Walking Dead já estava fazendo falta. É sempre bom esperar por algo que você tem certeza que vem. A promessa foi cumprida e começa a segunda temporada da série.

O grande desafio de uma série é não cair na mesmice. Difícil é pensar um contexto em que se tem um pequeno grupo de humanos fugindo de um incontável número de zumbis e tornar essa repetição interessante. Walking Dead se supera e surpreende. O início da segunda temporada é um ótimo exemplo disso.

O episódio tem uma hora de duração. É longe de ser enfadonho. O grupo de humanos segue em comboio por uma rodovia até que um emaranhado de carros impossibilita a travessia. Parar é a única solução. Prenúncio de que logo zumbis aparecerão. Longe da acinzentada tez zumbi, o cenário é vivo em cores. Uma floresta margeia a estrada. A fotografia viva parece anunciar o retorno da série. Algo animador para seus fãs.

A primeira aparição zumbi é a síntese do terror que não precisa chocar para assustar. Um primeiro zumbi é visto. Lentamente, uma multidão se revela. A câmera mostra bem de longe o invevitável encontro com os humanos. Todos escondem debaixo dos carros e mais uma cena fascinante desse terror contemporâneo. Cada humano está debaixo de um carro. Não podem se ajudar e o terror agoniza pais e mães impotentes. Cena em que personagens e espectadores prendem a respiração. Pura tensão.

A cena final é em uma igreja. Luta pela sobrevivência em frente à imagem de Jesus Cristo crucificado. Cena forte, bem mais intensa que a de Rick e Daryl abrindo a barriga de um zumbi pensando que restos de Sophia poderiam estar em seu estômago.

Walking Dead agradou pessoas que nem gostam muito de terror. A retomada da série foi ousada e corre o risco de perder audiência por esse comportamento. Os fãs de terror agradecem.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Sobrenatural - Insidious (2010)

Tenho uma dívida com o terror. Ando vendo poucos filmes do gênero e isso me incomoda. Já fui referência sobre o assunto. Desde o sucesso dos terrores orientais, perdi a mão. Penso até em ver O Chamado novamente. O filme emplacou e eu não gostei. Vi alguns filmes asiáticos que não me agradaram e sem querer acabei deixando de lado o meu fascínio pelo terror na escolha dos filmes a serem assistidos.

Terror é realmente algo polêmico. Muitos não gostam, acham desnecessário. Principalmente os críticos. Aliás, gostam, desde que o diretor seja uma unanimidade (como Stanley Kubrick em O Iluminado). Mas rótulos não me interessam e sou capaz de gostar de certos filmes que para muitos são ridículos. O que vale realmente é o sentimento nos segundos imediatos ao final do filme. Essa sensação é o que categoriza um filme para mim. A de Sobrenatural foi das melhores.

Os temas do terror andam desgastados. Não há muito critério para se fazer um roteiro. Basta misturar imagens fortes com alguns pipocos para assustar o espectador que no final a estória contada perde o valor. Sobrenatural aparece para confirmar que um grande filme de terror precisa de um roteiro convincente.

Um casal, Josh e Renai (Patrick Wilson e Rose Byrne), assombrado por algo ruim. Não bastando acontecimentos estranhos pela casa, o filho sofre um acidente quase sem gravidade que o leva a um coma inexplicável pela medicina. A rotina do casal vai se arruinando lentamente por tal fatalidade. A busca por respostas abre portas para a médium Elise (Lin Shaye) e seus assistentes (nerds munidos de aparatos de freqüência eletromagnética). Cheiro de charlatanismo. O casal, porém, se depara com uma possível explicação para o acontecido. Algo diferente de tudo que já vi no cinema. Ponto mais forte do filme. Uma quase humanização do desconhecido sobrenatural chega a ser muito plausível e dá força a tudo o que está sendo contado. Bem diferente das motivações de tantos filmes de terror sem expressão. Não quero estragar aqui expondo o que é dito no filme. Reservo a quem nunca o assistiu ter a mesma surpresa que a minha.

Takes de câmera ousados com uma atmosfera assustadora. Um terror que aparenta modernidade faz resgate ao clima oitentista do gelo seco. A mudança se dá quando o filme aborda o sobrenatural e o contraste entre os dois mundos (e as duas maneiras de se filmar) faz o espectador também entrar em um ambiente bem diferente. Ambiente parecido com clássicos como Poltergeist e A Casa do Espanto toma lugar na película que inicialmente mais se aproxima do clima vivido em Atividade Paranormal.

Uma cena entra para os arquivos da minha mente e dificilmente sairá. Isso faz com que meu apreço pelo filme aumente muito. É algo pessoal, talvez psicologicamente explicável. Cada pessoa guarda imagens inesquecíveis. Difícil é descrever o tanto que gostei da cena em que Renai está no jardim, escuta uma música vinda da casa e ao conferir pela janela vê de relance um espectro dançando ao lado do aparelho de som. Música que se repete posteriormente. É algo muito estranho e assustador.

Uma sessão comandada pela médium Elise busca contato com o sobrenatural. Há algo de exagerado que me agrada muito no filme. Seja pelo rosto de Elise ao descrever o Além ou pelo absurdo como o ambiente é mostrado na segunda parte do filme. O conceito foge da idéia de pesadelo e mais parece uma expedição de um trem fantasma em outra dimensão. Incrível é conceber algumas imagens e cenas que isoladamente são cafonas, mas editadas da maneira como são, tornam-se extremamente convincentes.

Apesar de todos os clichês e referências cinematográficas (que são muitas), não é um filme insidioso para quem gosta do gênrero. Surpreendente em toda a sua concepção, Sobrenatural é uma grande obra do terror contemporâneo.

domingo, 3 de julho de 2011

Aprendendo a Mentir – Liegen Lernen (2003)

As cores claras e vivas da fotografia do filme e dos olhos dos personagens não combinam com o desenrolar amoroso da vida de Helmut (Fabian Busch).

Aprendendo a Mentir é filme da nova safra do cinema alemão que tem como expoentes o frenético Corra Lola, Corra e o nostálgico Adeus, Lênin. O tema, diferente de seus filmes conterrâneos, parece batido. À primeira vista pode-se pensar em um filme sobre as desilusões amorosas do protagonista após o romance com sua primeira namorada. Vai um pouco além.

Britta (Susanne Bormann) foi responsável por propiciar os curtos e melhores momentos na vida de Helmut. O simples fato de voltar para casa após dormir com sua amada era um exercício de pleno prazer. A espontaneidade de Britta conduzia todo o romance e Helmut era apenas um “fofo” (como ela mesmo dizia) inseguro e incapaz de contrariá-la. E sem remorso, Britta vai para os Estados Unidos sem sequer assumir o namoro uma única vez. O “eu te amo” de Helmut é respondido com um “tchau”.

A vida de Helmut após Britta torna-se um suportar cotidiano. Perguntado por um amigo sobre o que andava fazendo todos esses anos, Helmut responde que tem apenas ido dormir mais cedo (diálogo idêntico ao de Noodles e Fat Moe no filme Era uma vez na América). Até mesmo a queda do Muro de Berlim passa indiferente aos olhos do jovem.

É um filme sobre erros e acertos. Conquistas e furadas. Visualmente agradável, principalmente para os amantes dos anos 80. Aqui estão as latinhas de refrigerante que não amassam, os gravadores imensos com suas fitas cassetes, as calças femininas de cintura alta, os hits musicais. Mas não é só isso. Mesmo de maneira inocente, o filme filosofa sobre a relevância de viver um grande amor. Um barman faz uma constatação sobre um cliente em uma passagem do filme. Ele observa um rapaz sentado só em uma mesa e o descreve. Era alguém que há muitos anos passava todas as noites de natal ali. Tratava-se de uma pessoa que viveu um momento divino (esse é o adjetivo usado) e que não percebeu que sua garota “apenas estava lá” e mais nada. Para o barman, isso era trágico e seu consolo era que os homens são assim.

Britta marcou Helmut. Aprendendo a mentir é uma maneira de se proteger e não mais se entregar. Mesmo conquistando mulheres, a graça não era nada comparável ao passado. Dentro dessa falta de perspectiva, cabe a Helmut saber o real valor de suas relações e esperar pela epifania de que Britta é “apenas uma pessoa”.


Um Crime Americano - An American Crime (2007)

Sempre me pergunto. Essas torturas e barbaridades mostradas diariamente nos telejornais estão vindo à tona hoje ou se sempre existiram e não eram noticiadas? Um Crime Americano nos conta que atrocidades não são novidades.

Falar sobre o roteiro do filme é fazer perder o impacto para alguém que ainda não o assistiu. O próprio título já adianta que algo ruim será contado. Fica a cargo do espectador decidir em entrar ou não para essa história de angústia e injustiça.

Catherine Keener mostra-se mais uma vez uma grande atriz. Faz o papel da mãe solteira Gertrude que consegue se convencer que a maldade pode ser algo razoável. A tolerância aos atos bárbaros é transmitida aos filhos que não se escandalizam. Isso, talvez, é o mais terrível.

Ellen Page (que esteve tão bem no filme Juno) é Sylvia. Mais uma vez em um grande papel. Será vítima de algo medonho e irreparável. Reage de maneira peculiar aos acontecimentos. O único momento de beleza do filme é logo na cena inicial em que Sylvia fala sobre o carrossel. Metáfora sobre seu ideal de vida que remete à segurança. Mesmo girando, o carrossel não vai à lugar algum.

Filme sobre tribunal e injustiças. Tudo muito bem filmado, dirigido e roteirizado. Uma história que seria melhor que não soubéssemos. Até o exercício em se assistir ao filme é doloroso, o que torna questionável a realização do mesmo.

Femme Fatales – S01E01 – Behind Locked Doors (2011)

Gosto de ver episódios iniciais de séries para decidir se vou segui-las ou não. Desisto da maioria. Vi apenas duas séries do começo ao fim. Ambas de terror. Harper’s Island e The Walking Dead. Quem me olha nunca imagina a minha paixão pelo terror. Gênero do cinema que é considerado menor, mas que se danem os críticos e suas implicâncias.

O primeiro episódio de Femme Fatales foi estranho. Talvez porque não entendi muito o propósito da série. O título é o mesmo de uma revista que cobre o universo de produções B e suas atrizes. Parece que cada episódio será estrelado por personagens femininas, fortes e sensuais (uau!).

O primeiro episódio é quase todo em uma cadeia feminina. Uma famosa atriz (muito parecida com Lindsay Lohan) é presa após um acidente de carro. Obrigada a viver com detentas (todas com decotes avantajados), estabelece seu manual de sobrevivência que se consiste em seduzir e manipular guardas e colegas de cela.

O episódio é permeado por cenas de sexo não explícito (softcore) com temperaturas elevadas bem ao estilo dos filmes B que passavam na TV Bandeirantes na sessão Sexta Sexy. O diretor não poupa em mostrar nudez e cenas de lesbianismo. Ingredientes típicos do gênero do cinema explitation do final dos anos 60 chamado WIP (Women in Prison, traduzido por mulheres na prisão). Trata-se de uma modalidade do cinema que mexe com fantasias como dominação, encarceramento, sadismo e violência sexual.

Atuações e trilha sonora exageradas somam-se às características desse episódio. Uma tentativa de trazer para a televisão a estética do cinema sujo e underground (e muitas vezes proibido) com uma roupagem limpa. No mínimo, ousado.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Meia Noite em Paris - Midnight in Paris (2011)

Paris é o cartão postal de Woody Allen. Uma sequência de belas imagens da cidade é mostrada em várias situações na abertura do filme. Desde os pontos turísticos mais badalados como o Louvre e a torre Eiffel até os fundos de uma cantina simples numa noite chuvosa. Início de um filme promissor.

Gil Pender (Owen Wilson) é um roteirista insatisfeito. Seus roteiros rentáveis são ruins e isso o incomoda. Queria fazer algo melhor. O destino é Paris. Woody Allen abandonou Nova York como cidade de seus filmes. Gil também tem Paris como inspiração. Sua esposa se interessa pelo luxo. Essa é a tônica inicial da viagem do protagonista com a família de sua noiva.

Tudo se parece muito chato para Gil. Piora quando em um jantar encontra com um casal amigo de sua noiva. Iniciam-se as visitas a pontos turísticos nos quais o marido Paul (Michael Sheen) faz questão de ser a pessoa que sabe tudo. É aquele amigo chato que todo mundo tem e que adora exibir conhecimento. Os passeios são tão torturantes que Gil começa a se esquivar com a desculpa de precisar solidão para escrever seu romance (desacreditado até por sua noiva). Sozinho em Paris, sua viagem começa a ficar menos ruim.

O título do filme é o ato passagem para uma outra época. Os anos dourados para Gil, que são os anos 20. Começa então uma jornada fantástica pela Paris que Gil sempre exultou. Uma avalanche de artistas imortais nos é mostrada. Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Cole Porter, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Luís Buñel, TS Elliott e muitos outros na intimidade de um bate papo. Mesmo passando longe da genialidade de suas novas amizades, Gil é acolhido e querido de uma maneira bem diferente de sua realidade. Sua noiva e o amigo pedante que vomita conhecimento passam a ser secundários.

O contraste entre sua realidade e os anos 20 é sensível a ponto de esperarmos ansiosamente a nova incursão de Gil ao passado. O protagonista não se parece com Woody Allen. Exceto por um importante detalhe. Aprecia arte porque gosta e não para aparecer. Infelizmente o diretor acaba se sabotando pois agrada extremamente o perfil daquele que tanto contesta. O pseudointelectual ou mesmo o intelectual chato. Os risos um pouco mais exagerados no cinema vêm daqueles que de alguma forma tem conhecimento do que está sendo falado. A cada citação de uma obra clássica de um dos personagens (como por exemplo O Anjo Exterminador de Luís Buñel ou As Neves de Kilimanjaro de Hemingway) ouço risadas efusivas de alguns que de alguma forma são iguais a Paul, querem exibir conhecimento.

A idéia de reunir tantos artistas em um só roteiro é magnífica. O desenrolar do roteiro é extremamente prazeroso porque a cada instante podemos ser apresentados a um gênio. O resultado de tanta gente em tão pouco tempo de filme acaba, porém, gerando personagens superficiais e por vezes muito caricatos, quase iguais às participações especiais de celebridades nos episódios dos Simpsons.

Apesar de tudo, o filme é excelente e delicioso de se assistir. Saio com a sensação boa que sempre sinto ao final dos filmes de Woody Allen. Um cineasta perfeito em expor pequenos (e essenciais) detalhes dos relacionamentos humanos.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Búfalo da Noite - El Búfalo de la Noche (2007)

Uma nova perspectiva sobre relacionamentos. É o tema do novo filme do roteirista Guillermo Arriaga que ficou famoso com sua parceria com o diretor Alejandro González-Iñárritu (responsável por filmes premiados como Babel, 21 Gramas e Amores Brutos).

Manuel (Diego Luna) vive uma realidade dolorosa. É assombrado pelo suicídio de seu melhor amigo, o esquizofrênico Gregório (Gabriel González). A falta de coerência nos pensamentos de Gregório culmina em sua morte. Tranquilo seria pensar que a loucura o levou ao suicídio se Manuel não tivesse um caso com a namorada de Gregório. A consciência pesada faz com que o protagonista seja incapaz de sorrir durante quase todo o filme.

Instintivo demais, Manuel é obcecado pelo sentimento de posse. Posse do corpo principalmente. Sexo é tanto um orientador como válvula de escape para seus problemas. Um quarto de motel, um carro ou uma sala. Qualquer cenário é palco de seus instintos e de suas conquistas.

A fotografia obscura do filme traz um aspecto próximo do sujo. O quarto de motel surrado e a impressão de que Manuel está sempre no caminho errado torna o filme angustiante. É tudo hermético. As pessoas mal conversam. Não há beleza nas relações.

Amor e sua implicação patológica, a loucura. Termos inseparáveis. Pelo menos na visão do escritor.

A impressão que fica é de que Arriaga e Iñárritu só funcionam juntos. Quase um Axl e Slash do cinema. Arriaga se esforça mas parece sempre fazer produções menores quando comparadas à parceria. Já li livros do Arriaga, como Um Doce Aroma da Morte (link nesse blog), mas parece que falta o toque de Iñárritu. Assim também acontece com o Guns N’Roses.

Verão Violento - Estate Violenta (1959)

Quando se fala em cinema italiano, penso nas divas. Termo hoje que perdeu a força. O culto atual é da mulher fútil. Uma gostosa que não dê trabalho. Uma diva italiana é complexa na essência e possui no seu arsenal de virtudes o estilo como característica marcante.

Carlo (Jean-Louis Trintignant) se apaixona por uma diva. Roberta (Eleonora Rossi Drago) é quem faz o jovem perder a cabeça. Sua rotina bon vivant fica vazia sem a presença daquela mulher tão diferente de sua realidade. Mesmo cercado por mulheres bonitas (destaque para a belíssima Jaqueline Sassard), apenas Roberta é capaz de prender sua atenção. Fácil seria se o interesse mútuo fosse a única condição para ficarem juntos. Estavam diante da II Guerra Mundial.

A guerra é o carma de Roberta. Viúva de um soldado, vive agora o preconceito da sociedade e de sua família diante do romance com um desertor. Nada comparável ao seu desejo.

A película em preto e branco é um dos pontos altos do filme. Com um jogo de luzes e contrastes, o diretor Valerio Zurlini compõe cenas memoráveis. A troca de olhares é arrebatadora. Tanto durante um blackout no circo quanto em uma festa, ao som da música Temptation, dançam com parceiros diferentes mas não conseguem tirar os olhos um do outro.

Trata-se de um verdadeiro romance. O real significado do verbo gostar. O prazer de passar horas conversando (como fazem em uma viagem a San Marino), de sentir o corpo da outra pessoa ao lado (seja em uma dança ou deitados na areia esperando o dia amanhecer), de fazer o mundo parecer menor em comparação à companhia da pessoa amada. Aliado a esse universo de paixão, ficamos com a marca pessimista e amargurada do diretor. É mostrada uma sociedade vazia e alienada. A guerra é uma ferida na tranqüilidade dos amantes. O casal vive o tempo todo sob tensão e esse ambiente inóspito parece uma forma de castigo imotivado.

Sentimentos aflorados em um filme essencialmente italiano. Estiloso e marcante, assim como uma diva.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Esposa de Mentirinha - Just Go With It (2011)

Hoje é feriado e estou muito cansado. Resolvi pegar uma dica e assistir a uma comédia romântica. Não tenho preconceito contra nenhum gênero do cinema (tirando musicais antigos que ainda não aprendi a tolerá-los) e estou realmente a fim de descansar nesse momento. O título em português chega a ser constrangedor na hora de se falar. Esposa de mentirinha. Mais um título horroroso que me deixaria extremamente envergonhado caso fosse sozinho ao cinema comprar uma entrada. “Quero uma entrada para Esposa de Mentirinha”. Não saberia falar isso sem me sentir ridículo. Mas tudo bem. Estou vendo o filme na minha casa. Menos mal.

Adam Sandler nem se importa em fazer quase o mesmo tipo de filme uma vez que sua conta bancária agradece. Conheço pessoas que simplesmente odeiam seus filmes. Assim como Jennifer Aniston. Uma atriz que não se sente confortável quando se diferencia um pouco de sua personagem Rachel do seriado Friends. Fato é que ao se propor a assistir uma comédia romântica envolvendo os dois atores, não é justo querer que os mesmos façam algo diferente. Por isso escolhi um feriado e a vontade de ver algo bastante despretensioso.

O filme fala sobre as conseqüências de uma mentira. O cirurgião plástico Danny Maccabee (Adam Sandler) hoje consegue conquistar facilmente uma série de mulheres. Usa uma aliança como isca para suas vítimas. Vejo a aliança nos dias de hoje como uma espécie de ISO 9000. O cara já passou pelo controle de qualidade de alguém e foi aprovado. Em um mundo de tanta gente sacana, a aliança tem o seu valor.

Aparece então a estonteante Palmer (Brooklyn Decker) na vida do Dr. Maccabee. Ele não precisou do golpe da aliança para levá-la para cama (nesse caso, para a praia). Mas por acidente, a loira acha o anel no bolso da calça de Danny e passa a pensar que está sendo enganada. Começa então a bola de neve de mentiras que se complica ao ponto de ser necessário forjar uma ex-mulher e seus filhos. No caso, a mãe solteira assistente de seu consultório Katherine (Jennifer Aniston) e seu casal de filhos.

As risadas vêm das situações nonsense a que uma mentira pode levar. Vão todos para uma viagem ao Havaí em família. De comédia romântica para férias em família. E gradativamente, aquela mulher lindíssima com o corpo magnífico pela qual Danny apronta toda essa teia de mentiras começa a perder a graça. Aquele furacão de mulher capaz de tirar o fôlego do espectador a cada take em que desfila de biquíni, começa a se tornar desinteressante ao passo que Katherine é sempre agradável. Danny começa a analisar qual o real valor de investir tanto em uma pós-adolescente fã de N’Sync. Contraste com a trilha sonora que permeia o filme que é composta basicamente de canções de uma das grandes bandas dos anos 80 (The Police). Aqui fica um protesto meu pois o filme seria muito mais charmoso se as músicas fossem as originais e não remixes lounge dos sucessos da banda.

Nicole Kidman aparece no filme como antiga amiga chata de Katherine.Assim como Jennifer Aniston só faz sucesso nas comédias, Nicole Kidman não se sente confortável nesse gênero. Não se destaca e tem o mesmo efeito de um não ator. Dave Matthews. Isso mesmo, do Dave Matthews Band. É o marido de Nicole Kidman no filme. Melhor seria o Dave voltar a tocar com sua banda e Nicole a fazer dramas. Não por atuarem mal mas pela impressão de que poderiam ser melhor aproveitados.

Comédia que segue uma fórmula de previsibilidade. Era exatamente isso que queria para um feriado. Seu sucesso vem pelas pitadas de bons sentimentos ao longo do filme. Amor, família, amizade e conquista. Tempero para uma vida agradável. Talvez é por isso que não reluto em ver filmes considerados bobos por muitos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

127 Horas - 127 Hours (2010)


As cores vibrantes e o ritmo frenético da edição inicial de 127 Horas nos chamam para vivermos uma aventura, no popular clichê, radical. O desfiladeiro Blue John Canyon é a perfeita opção aos que se sentem presos a uma rotina hermética e controlada. Aron Ralston (James Franco) não avisou a ninguém o seu destino. Deixa as coisas acontecerem. Um easy rider do perigo até então inofensivo.

Dizem que ao se viver uma situação iminente de morte, é passado um filme em nossa cabeça sobre os fatos importantes de nossa vida. O diretor Danny Boyle usa as 127 horas mais tensas da vida de Aron Ralston para compor o filme.

O roteiro é simples demais. Um alpinista preso acidentalmente por uma rocha. Solidão forçada em uma contagem regressiva para a morte. Um rapaz todo cheio de si vítima de uma peça pregada pela natureza. Arrependimentos, alucinações e desesperança compõem o universo do filme. Tudo a favor de estarmos diante de um filme monótono e enjoativo. Danny Boyle mostra como é grande diretor. Faz o filme ser belo com uma composição de imagens e efeitos sonoros tão afinados quanto a atuação de James Franco.

Aron Ralston não chora em momento algum e transmite com muita emoção o sentimento amargo de vítima de uma fatalidade tão idiota. Parecia haver motivo de aquela rocha estar ali. Rocha que se torna inesquecível assim como é descrita a protagonista do poema de Drummond “No Meio do Caminho”.

sábado, 11 de junho de 2011

Fenda no Tempo - The Langoliers (1985)

Stephen King é conceituado como mestre do suspense e terror. Realmente suas obras literárias são instigantes em grande parte. No caso de Fenda no Tempo, uma minissérie de apenas dois capítulos transformada em um telefilme, o resultado final faz de Stephen King um autor questionável em relação ao título de mestre.

Logo de início a fotografia de telefilme desestimula. Cores vibrantes não combinam com terror. O diretor Tom Holland não se preocupa com isso e compõe um cenário de extremo mal gosto. Tudo isso dentro de uma indefinição quanto ao gênero da película. Não é terror, não é suspense, não é ficção científica, não é trash. A intenção e resultado de colocar tais elementos no mesmo filme é quase a mesma frustração de uma criança ao misturar guaraná com coca-cola.

A premissa do filme é interessante. Em um vôo noturno, passageiros desaparecem misteriosamente do avião. As dez pessoas remanescentes, que estavam dormindo, se deparam diante de um mistério. Bob Jenkins (interpretado pelo veterano Dean Stockwell) é o alter ego de Stephen King. Teorias com questões metafísicas absurdas são aventadas a cada momento pelo escritor que recebe a colaboração dos outros passageiros, como se o conhecimento da cultura nerd sci-fi fosse algo de domínio publico.

A caracterização dos personagens é ruim. Estereótipos sobram a ponto de não haver sequer um personagem interessante. Aqui vai o destaque para a chatice de uma menina cega pré-adolescente que parece ter algum poder psíquico. Craig Toomy é um executivo tresloucado com traços esquizóides. É tão ridículo que é engraçado. O ator Bronson Pinchot deve ter se divertido à beça ao interpretá-lo. Através dele é que nos familiarizamos com o termo Langoliers (título original em inglês). Seriam monstros que devoram crianças preguiçosas e de notas ruins no colégio. São peludos, cheios de dentes e pés para alcançar tais crianças.

Qual a relação entre os elementos iniciais e instigantes do filme têm com esses monstros? Talvez o título em português conseguiu superar o original dessa vez. Todo o clima claustrofóbico e misterioso dentro do avião some para podermos entrar em um filme cheio de efeitos especiais toscos que provavelmente são incompatíveis com as descrições do livro.

Uma estória para impressionar. Não pela criatividade e roteiro e sim pela falta de respeito a Stephen King. O pior de tudo é que o mesmo faz uma ponta no filme. Sinal do tanto que sua literatura se vende facilmente.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Minha Versão do Amor – Barney’s Version (2010)

O criado-mudo da cena inicial já mostra que não estaremos diante de uma comédia romântica. Restos de charuto, copo de whisky e mãos que tateiam um teclado de telefone. As mãos são de Barney (Paul Giamatti), responsável pela versão dos acontecimentos que iremos presenciar.

Tentar expor uma sinopse do filme é fazer com que o mesmo perca seu encanto. O que posso dizer é que trata-se de um filme tão intenso quanto Barney. Relacionamentos podem ser maravilhosos e repugnantes. Para alguns, Barney é uma Midas às avessas mas não para as pessoas que provaram seu amor enquanto uma pessoa apaixonada. A música que o acompanha no filme (I'm your Man de Leonard Cohen) é a representação de um homem possuído pela paixão.

O amor incondicional às vezes não é suficiente. Qual a explicação disso? Deixemos de lado a racionalidade. Alguns relacionamentos são fadados ao fracasso mesmo havendo amor por ambas as partes. Barney amou e foi amado, odiou e foi odiado. É uma pessoa sem máscara assim como todos nós na essência.

sábado, 28 de maio de 2011

A Centopéia Humana – The Human Centipede (2009)


Um aviso. Caso assista ao filme, não me vincule a ele. Tenho certeza que para a maioria do público, o mais salutar é nem pensar que uma idéia assim possa ser concebida. Assistir a isso será, então, muito pior. As implicações práticas e anatômicas (escatológicas) resultadas são repugnantes. Só o ato de recordar o filme é desagradável.

O título é de um trash comédia. A fotografia é de um slasher oitentista. O enredo assemelha-se a de O Albergue. Nada disso. A centopéia humana é um terror ousado.

Duas americanas viajando pela Europa. Transmitem uma empolgação contagiante e charmosa. Prato cheio para um assassino qualquer em um filme de terror banal. Em busca de uma festa, acabam se perdendo em uma estrada à beira de uma mata. O pneu do carro fura e não sobram muitas alternativas. Nenhuma sabe trocar o pneu. Ficam entre esperar o dia amanhecer ou procurar ajuda, mesmo não sabendo falar alemão. Acham, então, um refúgio. A casa de um alemão (Dieter Laser) carrancudo. Os clichês do terror vão desqualificando o filme a ponto de quase confirmar a minha suspeita de que um filme chamado A Centopéia Humana não poderia ser sério.

Em segundos de diálogo o alemão logo profere a frase: Eu não gosto de seres humanos. As duas garotas são capturadas com o clássico “boa noite cinderela” e acordam presas em uma enfermaria no porão da casa. Logo pensei, filme de tortura. Quase acertei.

O alemão (Dr. Heiter) é um renomado cirurgião especialista em separar gêmeos siameses. O termo centopéia humana finalmente tem sentido quando o médico explica para suas vítimas que sua linha de pesquisa é fazer justamente o contrário do que o fazia famoso. Agora ele quer juntar seres humanos.

A palestra proferida pelo misantropo psicopata é a essência da ousadia do terror sugerido pelo filme. As vítimas (duas jovens americanas e um japonês capturado posteriormente)têm a plena noção do que está acontecendo. Um desenho simples a eles mostrado talvez seja uma das imagens mais assustadoras do terror contemporâneo. Trata-se da esquematização de como os jovens serão unidos, considerando os orifícios por onde entram e saem os alimentos nos humanos. O final de um com o começo do outro. Desculpas ao leitor desse texto pois mesmo tentando não consigo aqui usar mais eufemismo.

O sofrimento dos três jovens é muito pior que o vivenciado por Gregor Samsa no clássico da literatura A Metamorfose. No livro, o protagonista após uma noite de sonhos inquietos dá por si que se transformou em um inseto gigante. No filme, não há sonho. Tudo é real e explicado precisamente pelo médico.

Temos então um conjunto de três pessoas unidas cirurgicamente com apenas duas extremidades. Quem fala é o jovem japonês em uma excelente atuação de Akihiro Kitamura. As jovens vêm atrás. Impossibilitadas de gritar, atuam pelos olhares desesperados diante da condição tão improvável e degradante. Diferente das scream queens (divas do terror que são lembradas por seus gritos como Jamie Lee Curtis do filme Halloween), as garotas operadas apenas sussurram. Ouso dizer que são as únicas whispers queens do terror. Termo que acabeo de inventar.

A caracterização do protagonista destrói o filme. Nacionalidade, vestimentas e atitudes do Dr. Heiter fazem dele um provável nazista. Sendo assim, é uma caricatura que ameniza uma possível veracidade. O exagero de interpretação faz com que o espectador não leve o filme tão a sério e não embarque em sua idéia. Aliás, tentar se convencer que um filme não assusta é a principal arma daqueles que colocam o terror como gênero menor do cinema. Agem como pai e filho ao mesmo tempo. Falam para si: “calma meu filho, é apenas um filme”.

A luta para escapar do médico é o que menos importa. Assustadora é a condição irremediável de humilhação. Os sentimentos dão lugar aos instintos.

Um filme doente, marcante e, talvez, desnecessário.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Passei um bom tempo sem escrever aqui. Vi alguns filmes. Deixei minhas anotações sobre cada um no meu caderno surrado. Fato é que lendo esse fluxo desordenado de idéias e impressões não consigo mais escrever sobre eles. Aquela sensação que cada filme deixa se perdeu. Algo como não ter mais o gosto de um bom café na boca.

Vou listar aqui os filmes que não serão comentados. Talvez volte a vê-los para emitir algo sincero. Uma pena. Tinha muito a dizer. Mas não ter o filme vivo em minha mente deixa o ato de escrever muito sem graça.

Os relegados foram:

- O Discurso do Rei

- O Vencedor

- A Origem

- Bravura Indômita

- O Turista

- Bruna Surfistinha

- Sinédoque Nova York

- Jack e Chloe – Um Amor por Acaso

- Velozes e Furiosos 5

Como diria o Governator .... http://youtu.be/M1ypn0y32Ac

sexta-feira, 11 de março de 2011

Cisne Negro - Black Swan (2010)


Adoro começos. Um dos meus maiores prazeres é ir a livrarias ou sebos para ler começos de livros. Dessa forma, acabo fazendo uma infindável lista de obras potencialmente interessantes. Lolita foi o começo mais arrebatador da minha vida. “Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.” A versão em inglês então. Puro esplendor fonético associado a uma paixão derramada em palavras. Peter Sellers eternizou essa fala no filme de Stanley Kubrick. "Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta.” Penso em comprar o livro em inglês apenas para ter o prazer de abri-lo para ler o primeiro parágrafo.

Quanto ao cinema, posso citar vários. O inglês Trainspotting (1996) e o americano A Marca da Maldade (1958) eram até então incomparáveis para mim. Surge então Cisne Negro. Seu começo traz consigo toda a entrega de Natalie Portman ao papel de Nina. Para interpretá-la, praticou muito. O take único do diretor Darren Aronofsky mostra o resultado de todo o esforço da atriz. O visual onírico criado pela iluminação é permeado por um deslizar harmônico da câmera que nos antecipa o caráter intenso da película.

Nina (Natalie Portman) tem uma profissão. É bailarina. Isso não é suficiente. Moldada para a perfeição, a jovem se depara como um desafio. Ser a prima ballerina da companhia em que dança. Para isso, precisa encarnar a “cisne rainha” do Lago dos Cisnes de Tchaikovsky. Precisão técnica não é suficiente.

Lago dos Cisnes é um ballet em quatro atos baseado em um conto de fadas alemão. Um príncipe apaixonado por uma rainha, Odette, transformada em cisne por um feiticeiro (uma ave de rapina). O resgate à condição humana da moça só será possível por um homem disposto a jurar amor eterno. O príncipe quebra o juramento declarando amor por Odile, uma feiticeira que aparece na forma de cisne (negro) e o encanta por sua dança. Resignada, Odette aceita a má sorte. Vê o arrependimento do príncipe e o perdoa. O feiticeiro, impotente diante de tanto amor, inunda o lago. Odette se transforma em cisne e o príncipe em um ato desesperado se afoga, morrendo por Odette.

Ser “cisne rainha” implica representar os dois cisnes. O equilíbrio entre os lados é a chave da sensualidade humana. O príncipe se apaixona tanto pela candura do branco como pela lascívia do negro. É forçado a uma escolha. Opta pelo tradicional quando já é tarde demais.

Nina é um cisne branco perfeito. É aquela mulher doce e resignada. Uma não contestadora. Aceita o domínio da mãe e não demonstra ser uma pessoa feliz. Sua obsessão, porém, é tamanha que está disposta a tentar ser quem não é para atingir seu objetivo.

Thomas (Vincent Cassel), diretor da companhia, sabe que Nina é sua melhor bailarina. Lamenta por não ver sua preferida como capaz de interpretar o cisne negro. Estimulada pelo mesmo, Nina direciona sua obsessão na tentativa de provar o contrário. Simula uma atração pelo diretor. Esse ato contestador já é o primeiro passo para uma mudança.

A nova bailarina da companhia é Lily (a belíssima Mila Kunis). Nome ironicamente escolhido (lily é lírio em português. Flor relacionada à Virgem Maria, em homenagem à sua pureza). Destila toda a sexualidade e desenvoltura que Nina não tem. É espontânea e despreocupada. Tem o charme próprio do cisne negro, capaz de abalar uma estabilidade amorosa de juras de amor. Puro veneno.

Nina é incapaz de vislumbrar que o resultado do seu sucesso é dilacerante. A bailarina veterana Beth Macintyre (Winona Ryder) foi corroída por esse processo. Vê, com olhos amargos, o que para ela foi a maior glória.

Amargos também são os olhos da mãe de Nina (Barbara Hershey). Quase sem expressões faciais, vive a frustração de uma glória não alcançada. Seu quarto contrasta com o lado infantilizado da filha, cheio de bichos de pelúcia. Palco permeado por uma violência entre mãe e filha tão estudada por Freud.

O título do filme remete ao obscuro escondido da protagonista. Nina aprofunda no universo do desconhecido e parece levar Darren Aronfsky junto. O projeto do filme torna-se ousado. Mostrar o processo autodestrutivo. Físico e psicológico. E para isso são utilizados elementos de terror cinematográfico. Estão quase todos lá. Os sustos, as imagens de espelho, o ponto negro ao fundo desfocado a se revelar, as cenas repetitivas, a mutilação e até uma transformação corporal (assim como acontece no filme de David Cronenberg, A Mosca). Tudo ao som de Tchaikovsky. O diretor vai tateando o conceito de alucinação, de uma forma até cansativa e não chega a atingir o mesmo efeito impactante conseguido em Réquiem por um Sonho. Isso não é problema. Nina é quem está perdida e não o Aronfsky. E talvez esse é o motivo de o filme ser tão bom. Natalie Portman deixa o espectador desorientado.

Darren Aronfsky é um diretor de detalhes, capaz de me abalar pela beleza de uma história como a de O Lutador com Mickey Rourke. É um diretor humano, demasiado humano. E assim falou Nietzsche. "Raramente se engana quando se liga o exagerado à vaidade, o medíocre ao costume e o mesquinho ao medo”.

A bailarina só queria ser perfeita. O advérbio “só” não atenuou nada. Privou-se de uma vida por isso.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Machete (2010)


Danny Trejo parece ter nascido para um único papel. Você já o viu várias vezes mas não sabe o seu nome. Precisa de um mexicano, de preferência vilão? Chame Danny Trejo. Outro exemplo é o croata Rade Serbedzija que se presta a qualquer papel que precise de um europeu oriental. Contrário ao ideal de Javier Bardem que perde muito dinheiro ao negar superproduções que o querem como “o espanhol”, Danny Trejo nunca viu problemas em ser “o mexicano”.

A idéia de Machete surgiu como um trailer fictício entre os filmes Planeta Terror e À Prova de Bala. Traz consigo toda a aura de um filme B. Fanáticos pelo gênero sonharam como seria um filme protagonizado por Machete! A partir de então, Danny Trejo virou celebridade. O agora conhecido mexicano era parado e ovacionado por onde passava. Todos queriam a realização do filme.

Robert Rodriguez se rendeu. Transformou seu trailer em filme. Cenas foram refilmadas com os mesmos takes de câmera. Machete torna-se uma realidade. Trejo faz seu primeiro papel principal.

O desafio de Rodriguez é fazer um filme tão vibrante quanto seu trailer. Planeta Terror lhe deu segurança. Fazer um filme B hollywoodiano nos dias atuais é possível.

Na realização de outro filme B, Robert Rodriguez acerta parcialmente. A estética setentista desse gênero é vista apenas em cenas iniciais e finais, fazendo com que o meio da película seja uma produção atual de qualidade duvidosa.

A roteiro do filme complica-se já de início pois Rodriguez é obrigado a se basear em seu trailer. Fala de um ex-agente federal mexicano (Danny Trejo) que é chantageado para assassinar um senador (Robert De Niro). O senador teria como propósito realizar uma “faxina étnica” contra a imigração ilegal mexicana. Questões do narcotráfico estão envolvidas. Steven Seagal é Torrez, está ótimo como um chefe do narcotráfico com dotes em artes marciais.

Nada disso parece interessar no filme. Machete tem como arma seus ingredientes. Honrando a culinária mexicana, Rodriguez deixa o filme sempre quente. Principalmente por causa de suas personagens. Michelle Rodriguez e Jessica Alba têm raízes mexicanas. A primeira esbanja sua beleza selvagem, indomável. Uma beleza inata às combatentes (no filme é uma guerrilheira). Já a segunda faz o tipo de beleza frágil. Sua pequenez contrasta com a massa de músculos de Machete. Todas suspiram por Machete.

Lyndsay Lohan é um caso à parte. No filme é April. Filha patricinha do executivo (Jeff Fahey) que financia a campanha do senador . Semelhanças com a vida pessoal de Lohan até aí são muitas. A mini atriz da Disney hoje é manchete por abuso de drogas. A April do filme, porém, cai nas mãos de Machete (sexualmente falando) e protagoniza uma improvável cena de “ménage à trois” com sua mãe (Alicia Marek) e o feioso. Seminua em quase a totalidade do filme, Lindsay Lohan termina em trajes de freira. Uma freira nada convencional.

A candura visual de Lindsay Lohan contrasta com as cicatrizes de Danny Trejo. Machete é o “fodão” em todos os sentidos. Machete diz, por suas atitudes, que agora é sua vez. A vez do povo mexicano. Uma cena de sexo, mesmo que implícita, nos dá a impressão que é a voz reprimida de um povo relegado a papéis e empregos secundários no país de Hollywood dizendo “agora é a minha vez”.

O caminho do roteiro é perigoso. Um filme que era para divertir pelo seu nonsense pode trazer questões sérias implícitas. Ficamos nós, os espectadores, numa dicotomia entre entendermos que questões étnicas devem ser tratadas com mais respeito ou esquecermos o politicamente correto e curtirmos toda a pancadaria e explosão de filmes B propostas no trailer original.

Este é o trailer original. Feito para ser colocado entre os filmes de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Prometi que voltaria em fevereiro mas antecipo a volta. Espero que recessos assim sejam cada vez menos frequentes.

A primeira vez que abandonei o blog foi por uma turbulência emocional. Havia perdido o prazer das pequenas coisas. Livros e filmes passavam quase que indiferentes à minha frente. Não conseguia mais escrever.

Dessa vez não. Uma série de acontecimentos me fizeram abandonar. Foi apenas falta de tempo. Agora está quase tudo resolvido e posso voltar ao meu blog. Vou escrever sobre o último capítulo da série The Walking Dead. Comprei uma caixa com todas as temporadas de Arquivo X. E voltarei a postar sobre livros. Gostei muito de uma rede social chamada Skoob. Parece que é um baita estímulo para leitura em tempos de tantas transformações tecnológicas.

Meu skoob é: http://www.skoob.com.br/usuario/295690