domingo, 25 de novembro de 2007

R.E.M. - Live


Registro oficial da banda.

Acompanho a banda há muito tempo. Desde os tempos em que estudava no Ateneu. Surgiu para mim numa época em que alguns ainda a confundiam com outra banda com designada por siglas, o E.M.F. (que por sinal só tinha uma música conhecida, Unbelievable). R.E.M. remete minha adolescência dos vinis e fitas cassetes.

Banda que teve seu maior hit com “Losing my Religion”. Música que nada tem a ver com religião. É o sentimento de gostar de uma pessoa e não poder falar. Obsessão por alguém e não ter a coragem de prosseguir. Tentar capturar pequenos detalhes nos gestos da pessoa amada que possam dizer alguma coisa. E acabar por perder as esperanças e ver que tudo era apenas um sonho.

Esse caráter poético sempre acompanhou as letras do R.E.M. Lembro de ter visto um acústico na MTV em que Micheal Stipe (vocalista) a cada música ia explicando como compôs cada letra.

A principal qualidade da banda é a sinceridade. Ela está em tudo: nas letras, nas declarações, nas apresentações ... Quando fui ao show da turnê “Up” em 2001 fiquei em estado de choque. O prazer de tocar ao vivo, de se emocionar com o público, de poder dizer o que se sente. Enfim, o poder de transformação que a música traz. É a maior banda humilde que existe. Nem acreditei que estava lá.

Esse novo disco acompanhado de um DVD traz uma apresentação em Dublin. Com destaque para músicas do último álbum “Around the Sun” que não fez muito sucesso. As músicas deste ao vivo ganharam mais vida ainda. Muitos clássicos estão lá também.

Um aperitivo para talvez um novo disco e quem sabe uma turnê no Brasil!

Chris Cunningham

Já anotei esse nome. O diretor de videoclipes nunca fez um longa metragem. Seu potencial é enorme. Parceiro do DJ Aphex Twin já fez vários vídeos assustadores. Sua carreira está me lembrando a de Spike Jonze que começou também nos videoclipes (penso que Sabotage do Beastie Boys é o melhor clipe de todos os tempos) e hoje é um excelente diretor de cinema.

Rubber Johnny. Descobri este curta metragem por acaso. Postado em um blog especializado em terror e filmes B http://boizebu.blogspot.com/ que sempre visito. Mostra a vida de um garoto deformado que vive trancafiado com seu cachorro em um quarto. Parece que é vítima de um experimento, ou seriam seus pais? Trata-se de uma viagem à mente obscura de um ser vivo enclausurado. Ele tenta maneiras de se divertir no escuro. Muito estranho.

Edição alucinante e música de Aphex Twin. O curta foi lançado na Inglaterra acompanhado de um livro com desenhos e idéias de Cunningham que teve seu lançamento atrasado pois a editora italiana responsável pela distribuição do material se negou a publicá-lo por taxá-lo como imoral.

Rubber Johnny dá moral para o diretor que tem hoje como meta filmar a novela cyberpunk de William Gibson “Neuromancer” mas parece que o projeto está bem devagar.

Vale a pena também conferir as outras parcerias de Cunningham com Aphex Twin. Todas estranhas também.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Um Dia no Centro

Único curta do Festcine que vi. Que me desculpem meus amigos Thiago, Douglas e Januário. Eu não estava em Goiânia

Um dia no centro mostra a vida de Paulinho do Cavaquinho. Artista de rua que toca diariamente em frente ao Grande Hotel do centro da cidade de Goiânia. Portador de malformações congênitas, apresenta um jeito peculiar e quem já o viu não esquece. Excelente edição das imagens. O centro está bem caracterizado com destaque para a Avenida Goiás, trabalhadores indo e vindo, vendedores ambulantes, uma peça de teatro encenada na rua e o homem com colete amarelo dizendo que compra ouro. Bonita a cena em que um idoso pára e fica observando o artista de rua e depois acena em despedida.

O curta refrescou as lembranças da minha infância e adolescência quando passeava com minha mãe pelas ruas do centro, ia na Rua do Lazer, comprava discos e livros nos sebos, comia na Pizzaria China da rua 7, perambulava pelo camelódromo em busca de novos modelos para minha coleção de carros em miniatura, ia no “taito” para jogar Street Fighter e jogava bola no fundo da clínica do meu pai com os garotos que moravam lá.

Fiquei feliz em ver o tão querido centro da cidade em cenas de qualidade.

domingo, 18 de novembro de 2007

Um Doce Aroma da Morte – Un Dulce Olor a Muerte



Guilhermo Arriaga escreveu os três roteiros filmados por Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos, 21 gramas e Babel). Novo expoente da literatura mexicana. Além dos três roteiros, já escreveu três livros (um doce aroma da morte, o búfafo da noite e esquadrão guilhotina). Esteve esse ano na Festa Literária Internacional de Parati (FLIP) e foi tomado com queridinho da vez, principalmente pelas jornalistas que o consideraram símbolo sexual.

Ramón descobre o cadáver de Adela em uma cidadezinha do interior do México (Loma Grande). Bastou o mesmo cobrir a garota com sua camisa para o boato espalhar: “tratava-se de sua namorada, por isso teria que se vingar”. Ramón era o cara errado na hora errada.

Ramón não desmente o boato. Timidez, dificuldade de comunicação, consternação pela presença de um cadáver fazem com que a afirmação atribuída a ele se torne verídica. Na concepção de toda a cidade seu orgulho estava ferido. Vingança era necessária. Toda essa farsa chega a um ponto irreversível e o que sobra a Ramón é aceitar a situação e tentar sentir a sede da vingança.

O acusado do assassinato é Cigano. Forasteiro que é apaixonado por Gabriela, mulher casada, e não sabe de toda a expectativa de uma cidade em ver seu corpo alvejado para justificar a morte de uma inocente.

O olfato faz parte da história. Está em todos os lugares. No cheiro do cadáver, dos habitantes castigados pelo sol, das refeições preparadas diariamente. Havia um aroma de vingança no ar. O medo aguça os sentidos e Ramón percebe o aroma cada vez mais forte das coisas ao redor.

Arriaga disse em Parati que a literatura é uma luta contra a morte. Já percebo uma fixação do autor pela morte em todos os seus trabalhos. Quando comprei o livro pensei que iria encontrar histórias fragmentadas e interligadas. Não. Trata-se de um história ambientada no interior do México e mostra como o mesmo é retrógrado e preconceituoso. Não muito diferente do Brasil.

Só me assustei com o final. Meio abrupto. Acabou estranho. Até achei que faltavam páginas no meu livro ... mas não.

O Signo da Cidade


Tarde de sábado. Três horas da tarde. Ingresso um real. O Goiânia Cine Ouro está reprisando filmes do Festcine. Não tive oportunidade de ir antes. Estava viajando. O filme começa. É uma cópia em VHS, ainda não finalizada e de qualidade ruim. Tem até uma mensagem no canto superior da tela que denuncia que não é uma cópia para cinema. Logo pensei “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. Estava completamente equivocado. A projeção ruim foi o único defeito da tarde pois o filme é fabuloso.

A personagem principal é de Bruna Lombardi. Teca. Uma astróloga que tem um programa de rádio. Outras histórias são interligadas por esse núcleo central. Robert Altman é especialista nisso e creio que o falecido diretor veria em Bruna um talento de uma nova geração de roteiristas. Tenho extremo respeito por Bruna Lombardi desde que fez uma entrevista com o tecladista do Pink Floyd (Richard Wright) em uma época em que os integrantes da banda eram alheios à imprensa e quase não falavam. Ela conduziu muito bem. Não foi tiete, tinha conhecimento sobre o que estava perguntando e foi uma excelente entrevista. Até gravei um VHS e não acho por nada essa fita aqui em casa.

São Paulo abriga distintos cenários. Cada um em seu universo. Astros na imensidão do céu. Assim são as pessoas. Separadas mas interligadas. Movimentadas pela natureza de existir. Assim é o poema que o Sombra lê para o enfermo:

Se perdem gestos
cartas de amor, malas, parentes
Se perdem vozes
cidades, países, amigos
Romances perdidos
objetos perdidos, histórias se perdem
Se perdem o que fomos e o que queríamos ser
Se perde o momento.
Mas não existe perda,
existe movimento.

São tantas histórias interessantes. Posso rever o filme mais umas duas vezes que irei compreendê-lo melhor.

Direção e edição seguras. Trilha sonora precisa. O filme é cheio de surpresas agradáveis. Fala de tristeza, tolerância, amizade, amor, frustrações e esperança. Tudo sem exageros. Fiquei feliz por se tratar de um filme brasileiro.

Afinal o mais interessante na arte é o seu poder de transformação. O Signo da Cidade me mudou. Um dos grandes filmes do ano.


sábado, 17 de novembro de 2007

Meu Melhor Amigo - Mon Meilleur Ami



É complicado falar sobre amizade. A convivência e o cotidiano podem trazer falsas impressões sobre afeto. Talvez por um instinto velado de sobrevivência, amizades se formam. O próprio tema do filme recorre a isso. François (Daniel Auteuil) é um marchand que não percebia ter amigos até o momento em que sua sócia o confronta. No começo parece brincadeira. Mas é verdade. Ninguém gosta de François. Ele é aturado pois a convivência requer aceitação e pela sua posição social, o marchand sempre foi tolerado. Só isso. O orgulho de François o impede de perceber o quanto ele é chato e não consegue fazer amigos.

Do outro lado da balança está o taxista Bruno (Danny Boom). Pessoa carismática, de fácil aproximação. Faz da sua profissão um exercício diário de comunicação. Toda essa desenvoltura o faz se aproximar de François e de sua filha. Uma adolescente distanciada do pai e carente de afetos paternos.

Demora muito para François perceber que Bruno é um amigo de verdade. Sua vaidade o faz exibir como prêmio. É capaz de fazer amigos como qualquer um então. Volta então a se sentir normal. Novamente os sentimentos dos outros em vão.

Saint-Exupéry já havia dito que uma pessoa para compreender tem de se transformar. E é essa transformação que François tem que buscar. Mesmo com altos e baixos o filme tem um desfecho interessante apesar de se perder um pouco no meio.


sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Planeta Terror - Planet Terror





Quando fiquei sabendo que Quentin Tarantino e Robert Rodriguez iriam produzir um filme B eu não acreditei. Algumas lendas rodeiam o cinema. Produções idealizadas por diretores que nunca saem do papel (sempre sonhei em ver a vida de Napoleão contada por Stanley Kubrick) são alvo de especulações e imaginava que o projeto dos dois nunca seria realizado. Quem seria o louco de fazer um filme B, com a fotografia simulando película antiga, zumbis, escatologia, humor negro e colocá-lo no circuito blockbuster? Tarantino e Rodriguez são.

Já fica aqui o meu protesto pela forma de como o filme foi exibido no Brasil e em alguns outros países. Decidiram fragmentá-lo em duas partes. O próprio conceito de Grindhouse já se perdeu antes de eu ver os primeiros minutos da película. Grindhouse faz referência a filmes da década de 70 que eram exibidos em salas pouco convencionais e em seqüência. Era possível assistir a dois, três filmes com o preço de um ingresso. Para isso os diretores até criaram trailers fictícios simulando os intervalos entre um filme ou outro. Tudo isso em vão se o filme foi separado em duas partes. Pior ainda a distância entre as exibições. Grindhouse será exibido só em março no Brasil. Produtores temeram salas vazias com um filme tão grande. Mas parece que nem a fragmentação da idéia dos diretores resolveu o problema do fracasso nas bilheterias. Tal fracasso até me alegra. Não gostaria de ver um filme B na boca do povo, sendo adorado. A revolta de certas pessoas no cinema diante de cenas nonsense me agrada bastante pois é esse o mesmo sentimento provocado quando essas mesmas pessoas estão diante de um genuíno trash ou filme B.

O roteiro do filme lembra muito os clássicos de terror de George A.Romero (tetralogia dos mortos) e diversas referências são citadas. A protagonista Cherry Darling (Rose McGowan) tem o mesmo espírito independente das go-go dancers dos filmes de Russ Meyer (“Faster Pussycat! Kill! Kill!). A câmera do diretor acompanha as mulheres assim como um espectador de filmes B. Está preocupada com suas curvas e por vezes nos diálogos ela está focada no corpo e não no rosto das beldades (temos também a participação da vocalista do Black Eyed Peas Fergie, garota que com 12 anos de idade participou de um filme totalmente trash chamado Monster in the Closet que tive a oportunidade de assistir esse ano).

Rose McGowan está muito interessante no filme. É uma go-go dancer que tem sua perna mutilada e substituída por uma metralhadora. Lembrei na hora de “A Morte do Demônio 3” em que Ash encaixa uma moto-serra no braço e começa o estrago. Ela já sonhou em ser médica e agora quer ser uma atriz de “stand-up comedy”. Sua tristeza é o seu charme e seus atributos de dançarina são bem utilizados quando precisa manejar sua arma com toda sua flexibilidade. Ela diz que todo talento inútil, um dia, serve para alguma coisa. Não sei se aí Rodriguez tenta justificar a motivação para dirigir o filme.

Outra participação marcante para os fãs de terror é de Tom Savini. Faz papel de um policial que perde um dedo e sua aliança. Savini já trabalhou com os mestres do terror sendo responsável pela maquiagem e efeitos nojentos são sua especialidade.

A trilha sonora é marcante e composta pelo próprio Rodriguez. Com uma linha de baixo alternando quatro notas em acordes e um saxofone rasgado remete às trilhas do Tarantino que com o tempo já vão se destacando como referência para muitos cineastas. John Carpenter já fez o mesmo. Dirigiu e compôs a sinistra trilha de Halloween.


Tarantino faz uma ponta meio estranha no filme. É fã de outro segmento marginal do cinema. O que tem a temática de mulheres em prisão, que é chamado de WIP (women in prision). Em sua televisão está passando uma cena do filme “Women in Cages”. Lembro que vi esse filme no saudoso Supercine quando tinha uns 7 anos e uma imagem me marcou pelo resto da vida. Uma briga de duas mulheres. Uma quebradeira louca!


O nome Tarantino é muito forte. Mas parece que a massa está perdendo o encanto por ele. Mais uma vez fico feliz. Enquanto ele estiver livre e com vontade para filmar o que quiser estou sossegado. Não é fácil para um diretor americano que com 33 anos ganhou a Palma de Ouro em Cannes ser tão alheio às pressões de estúdios. Ele fez o caminho inverso de muitos diretores que começaram com filmes B e depois atingiram o sucesso como Francis Ford Coppola (“Dementia 13” / “O Poderoso Chefão”), Sam Raimi (“A Morte do Demônio” / “Homem-Aranha”) e Peter Jackson (“Náusea Total” / “O Senhor dos Anéis”).

Tarantino e Rodriguez me surpreenderam muito. Mostram que não têm medo da crítica. Não fazem filmes premeditados para agradar espectadores. Fazem o que gostam e ocasionalmente agradam. Essa é a máxima do cinema B e trash.

Para os fãs da famigerada produtora de terror Troma, Planet Terror é um prato cheio. Diversão sem preocupações. Alguns se sentem incomodados com isso. Eu não. Gostei muito. Mas não recomendo para ninguém pois já sou estereotipado como o cara que gosta de filmes “esquisitos”.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Um Lugar na Platéia - Fauteuils d'orchestre




Amor ao luxo.

O filme mostra diversas pessoas ligadas à arte e seus anseios. Com os conflitos de cada um a diretora Danièle Thompson tinha um prato cheio para um drama pesado. Escolheu, porém, uma comédia sutil para retratá-los.

Quatro personagens são muito bem explorados. Uma garçonete, um colecionador, uma atriz e um pianista.

Garçonete: órfã que sai do interior em busca de emprego em Paris. Sua avó trabalhara no Hotel Hitz. O amor ao luxo a fez ficar perto de personalidades ligadas à arte, mesmo que fosse para servi-las. Essa influência da avó a faz partir em busca de experiências na capital e com simplicidade consegue agradar aos que a rodeiam.

Colecionador de arte: está vivendo seus últimos dias. O apego obras de arte não tem mais muito sentido. Ele se desfaz de seus quadros favoritos (Braque, Picasso, Léger e Modigliani). Mas uma escultura tem um valor especial. “O Beijo” de Brancusi. A obra vai a leilão mas acaba tornando-se elo entre a frágil relação do colecionador com seu filho.

Atriz: famosa em seu país por novelas populares, anseia por fazer papéis mais densos e de profundidade psicológica. Apesar de insegura, mostra-se como uma notável atriz ao revelar a um diretor americano seu desejo em fazer um papel mais significativo.

Pianista: preso pelas convenções sociais. Não suporta mais concerto em grandes teatros para platéias que mais se importam em se mostrar que realmente apreciar a música. Relata que concertos clássicos o afastam da música assim como igreja o afasta de Deus. Em um concerto, toca Consolação nº 3 do húngaro Franz Liszt. Trata-se de uma música de caráter harmônico que resulta numa busca de compreensão e sensibilidade pelo autor.

O mérito do filme é não querer ser ousado. É sem exageros. Difícil tarefa quando o tema é o mundo artístico.


segunda-feira, 5 de novembro de 2007

1408




Filmes baseados em obras de Stephen King geralmente são ruins. Clássicos como “O Iluminado” e “Carrie, a Estanha” deram a ilusão a produtores e diretores que era só pegar um roteiro do cara e estava garantido o sucesso. Anos se passaram e o terror recorreu a Stephen King e por vezes era sentido em seus livros uma pressão em escrever cada vez mais pensando em cinema.

Minha admiração por Stephen King veio por Stanley Kubrick (diretor de “O Iluminado”). A partir de então comecei a comprar seus livros, principalmente aqueles que não foram adaptados ao cinema. E por coincidência alguns depois foram para a telona, como “O Corredor da Morte” (filmado com o nome de “À Espera de um Milagre”), “O Aprendiz”(conto de “As Quatro Estações”) e “O Apanhador de Sonhos”. Todos os três inferiores quando transcritos ao cinema. Então dei um tempo a Stephen King. Não li mais nada e também seu nome assinado em um roteiro não me atraia mais.

“1408” tem a cara de Stephen King. Merece respeito então.

O filme fala sobre um escritor que pesquisa locais assombrados que são a temática de seus livros. Cético e confiante, não sabe que o quarto que o espera fará que toda sua crença ou falta dela seja abalada (1+4+0+8 = 13).

As influências aos clássicos do terror estão presentes. O corredor de “O Iluminado”, a televisão de “Poltergeist” e o carrinho de bebê de “It’s Alive”.

O desconhecido ganhando o tom assustador e a curiosidade para se chegar ao final da trama estão lá, como em todo bom horror de King. O próprio protagonista define bem a estética do filme. Trata-se de um pesadelo kafkaniano. Como sair daquele pesadelo? Só chegando ao final para Stephen Kng nos dizer. Como espectador, me coloco na posição de protagonista do filme ou escritor da trama e quase nunca (nos casos das estórias de Stephen King) consigo sair desse universo claustrofóbico.

Penso que trata-se de um filme de terror para quem gosta de terror.

O filme tem uma direção interessante. Não conheço o diretor sueco Mikael Håfström. Irei atrás de mais filmes seus.

Cada vez mais me convenço que adaptação de filmes de Stephen King competem com a qualidade de seus diretores. “O Iluminado” (Stanley Kubrick), “Carrie, a Estranha” (Brian dePalma), “Louca Obsessão”(Rob Reiner) e por aí vai.


sábado, 3 de novembro de 2007

Paris Je T'aime


Histórias de amor na cidade mais romântica do mundo

Proposto a cineastas descreverem histórias de amor ambientadas em Paris. Cada curta durando em média 5 minutos. A escolha dos diretores mostra o ambiente multicultural parisiense. O filme mostra vários aspectos de Paris não tendo como no final ficar com uma visão estereotipada da cidade. Gostei muito do resultado final. Não há como ficar entediado pois mesmo que um dos curtas seja ruim, é só esperar uns 5 minutos que todo o conceito do filme pode mudar.

“Montmartre”, de Bruno Podalydès
com Bruno Podalydès e Florence Mueller


Motorista preocupado com uma vaga no trânsito que não consegue achar no bairro de Montmartre. Após conseguir a vaga, reflete sobre relacionamentos e solidão. O protagonista se sente só “miseravelmente só”

“Quais de Seine”, de Gurinder Chadha
com Leïla Bekhti e Cyril Descours

Rapaz com atitude desrespeitosa com as mulheres muda seu comportamento ao se identificar com garota árabe. Mesmo sob reprovação de seus amigos encontra lugar para gentileza despertada pelo interesse pela garota. Garota árabe vê no uso do hijab a afirmação de sua identidade que encanta o jovem francês

“Le Marais”, de Gus Van Sant
com Marianne Faithfull, Elias McConnell e Gaspard Ulliel

Um jovem francês se declara para um jovem americano acreditando no amor transcendental mesmo o vendo pela primeira vez. Mostra o despertar do amor e a dificuldade de comunicação. Gus Van Sant sempre preciso ao retratar jovens.

“Tuileries”, de Joel e Ethan Coen
com Julie Bataille, Steve Buscemi, Axel Kiener e Frankie Pain

Humor negro é a especialidade dos irmãos Coen. Steve Buscemi é de novo aquele cara que se dá mal mesmo não fazendo por merecer. É no metrô de Tuileries que o turista americano é alvo da hostilidade de transeuntes.

“Loin du 16ème”, de Walter Salles e Daniela Thomas
com Catalina Sandino Moreno

História de uma mãe que deixa seu filho em um berçário para ser babá em uma casa. A colombiana Catalina Sandino Moreno é outra vez caracterizada como a imigrante sofrida (já foi assim em “Maria Cheia de Graça” e “Fast Food Nation”). Curta de poucas palavras com a característica marcante da dupla de diretores brasileiros.

“Porte de Choisy”, de Christopher Doyle
com Barbet Schroeder e Li Xin

Um vendedor de cosméticos tenta convencer moças asiáticas sobre seus produtos. Christopher Doyle é diretor de fotografia preferido por muitos realizadores orientais e usa a fotografia como o ponto alto de seu filme.

“Bastille”, de Isabel Coixet
com Sergio Castellitto, Emilie Ohana, Miranda Richardson e Leonor Watling

Um casamento abalado. O marido já tem uma amante. A mulher lhe dá a notícia que está com leucemia. O marido larga tudo para se dedicar à mulher. Temática da morte e significado da vida com a proximidade do fim da mesma. A diretora já abordou o tema em seu filme “Minha Vida sem Mim” (com Sarah Polley).

“Place des Victoires”, de Nobuhiro Suwa
com Juliette Binoche, Martin Combes, Willem Dafoe e Hippolyte Girardot

Dor de uma mãe diante da morte do filho. Um cowboy imaginário alivia sua dor.

“Tour Eiffel”, de Sylvain Chomet
com Yolande Moreau e Paul Putner

Criança fala de como seus pais se conheceram. Mímicos que se encontraram em uma prisão. O universo lúdico e a França como pano de fundo me fizeram lembrar “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”

“Parc Monceau”, de Alfonso Cuaron
com Nick Nolte, Ludivine Sagnier e Sara Martins

O diretor de “E tua Mãe Também” mostra uma conversa entre pai e filha por uma rua típica francesa. No entardecer as luzes das lojas de destacam. É filmado em take único. Começa com a câmera longe dos personagens e vai se aproximando na medida em que a conversa se torna mais próxima entre os dois.

“Quartier des Enfants Rouges”, de Olivier Assayas
com Maggie Gyllenhaal, Lionel Dray e Joana Preiss

Traficante sente atração e carinho por sua cliente (atriz americana que usa as drogas para agüentar o ritmo das filmagens de um filme de época).

“Place des Fêtes”, de Oliver Schmitz
com Seydou Boro e Aïssa Maïga

Paramédica encontra rapaz esfaqueado por quem sentiu atração em um relance pela rua. A música cantada pelo rapaz e a promessa de um café a dois unem dois momentos distintos. Trágico e bonito. Um dos melhores curtas.

“Pigalle”, de Richard LaGravenese
com Fanny Ardant e Bob Hoskins

Um casa noturna de striptease é palco para abordagem do amor entre dois atores de meia idade. Inversão da tendência em glamourizar a beleza da juventude. No filme, a stripper (bonita e atlética) é insignificante e casal é que enfocado com interesse.

“Quartier de la Madeleine”, de Vincenzo Natali
com Elijah Wood, Olga Kurylenko e Wes Craven

Mais americanizado de todos. Um vampira ataca um turista. Visual de revista em quadrinhos. Não tem muita relação com Paris. Destoa entre os demais.

“Père-Lachaise”, de Wes Craven
com Emily Mortimer, Rufus Sewell e Alexander Payne

Um casal sem muita afinidade se aproxima após o noivo bater a cabeça no túmulo de Oscar Wilde e o mesmo surgir e lhe abrir os olhos para a paixão. Evitando “a morte, do coração”.

“Faubourg Saint-Denis”, de Tom Tykwer
com Natalie Portman e Melchior Beslon

Relação entre jovem atriz e rapaz cego. Visualmente muito parecido com “Corra Lola, Corra”. Tom Tykwer sempre preciso ao abordar o amor.

“Quartier Latin”, de Gérard Depardieu e Frédéric Auburtin
com Gena Rowlands, Ben Gazzara e Gérard Depardieu

Casal combina divórcio de maneira amigável bebendo vinho servido por Gérard Depardieu. Outro curta que aborda a maturidade.

“14ème arrondissement”, de Alexander Payne
com Margo Martindale

Para fechar, um dos melhores do filme. A carteira americana solitária que viaja para conhecer Paris. O filme é narrado assim como uma redação escolar “Minhas Férias”. Mostra a necessidade do ser humano de dividir os momentos importantes. Ter alguém para dizer “é lindo, não é?”. Sozinha, consegue sentir a alegria e a tristeza de se sentir viva. E ao final, se apaixona por Paris e por si mesma.


A Concepção




1. Morte ao ego.
2. Ser uma nova personalidade a cada dia.
3. Toda memória deve ser apagada.
4. O dinheiro deve ser abolido.
5. A humanidade está doente, o concepcionismo é o caminho para a cura.
6. O concepcionista é uma fraude que dura 24 horas.
7. O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.
8.?
9. Voa!
10. Tudo o que foi dito deve ser esquecido agora.


Grupo de jovens em Brasília que se reúne em um apartamento aproveitando que seus pais não moram mais no Brasil.

Criam o “Movimento Concepcionista”. O propósito é ser uma pessoa a cada dia. Desligar-se completamente do ontem. Existe a simbologia de morte ao ego retratada pela queima coletiva de carteiras de identidade.

Filme angustiante que fica entre o hedonismo e a falta de perspectiva.

A narração inicial do filme me lembrou muito a do começo de Trainspotting. Só que aqui é transferida para o cotidiano de Brasília (morar no bloco, estudar para concurso, formar uma banda, querer ser Renato Russo...). Nada melhor que a capital do país ser foco de um filme em que a identidade é colocada em questão.

Destaque para a trilha sonora que tem Prot(o) (banda de Brasília que já vi muitas vezes aqui em Goiânia em festivais como Bananada e Goiânia Noise) e o sambalanço de Noriel Vilela com “Saudosa Bahia”, marcante e para mim o que mais me marcou no filme.

Todas essas idéias são bem legais mas o filme não conseguiu me prender. O cotidiano dos jovens por mais louco que seja fica enfadonho. O filme não consegue me convencer de uma citação do William Blake feita no mesmo “o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria”. E acredito que fiquei tão confuso quanto os personagens do filme quando o mesmo terminou.