segunda-feira, 30 de julho de 2007

O Ovo da Serpente - The Serpent's Egg - Das Schlangenei (1977)



Filme do sueco Ingmar Bergman (O Sétimo Selo e Morangos Silvestres) que por muitos é considerado um falha em sua filmografia.

Um artista de circo bêbado e desempregado encara a morte do irmão (suicídio) e a mudança na economia na Alemanha da década de 20 para onde migrara.

David Carradine é o ator principal e mostra todo o sofrimento e angústia de uma pessoa que não encontra razão alguma para continuar vivo diante de tanta desilusão.

Decadência econômica e degradação social são os temas principais do filme. Assim como nos experimentos nazistas, a personalidade e o caráter alteram quando há pouca esperança. A indiferença e a falta de compaixão até pelos mais próximos é quase o fim da linha para os que vivem em sociedade. Um experimento compara tal situação. Uma mulher é trancada com uma criança recém-nascida com problemas mentais. O choro inicial desperta compaixão da mesma pela pequena criatura. Mas o tormento constante e a falta de perspectiva de um melhora da situação transtorna a pessoa que é capaz de cometer atos antes impensados.

As andanças de protagonista pelo submundo alemão lembra o universo marginal de charles bukowski. O filme é um pesadelo sem fim para o protagonista que não ri em momento algum na película, muito menos o espectador.

Qualidade técnica invejável do diretor (principalmente em cenas dos créditos iniciais e em outro momento dentro de corredores de arquivos que guardam segredos nazistas) marca o filme.

Destaque para a cena em que o padre confessa que não acredita que Deus está próximo e pede perdão a quem confessa por mostrar apenas medo diante de toda situação.

Bergman tenta mostra a gênese do nazismo. Metáfora para o ovo da serpente que é inicialmente visto com estranheza mas é possível ver através de sua fina película que um mal ali germina.

domingo, 29 de julho de 2007

Graveyard Alive – A Zombie Nurse in Love (2003)




Filme canadense de baixo orçamento que tenta se figurar entre um filme cult e filme de terror com pitadas de comédia.

Uma tímida e solitária enfermeira é mordida por um lenhador infectado e se transforma em um zumbi. Após a mordida, a enfermeira parece “ganhar vida”, principalmente por seu apetite sexual. Para a diretora Elza Kephart uma bactéria é responsável pela transformação de uma pessoa em zumbi e a única maneira de eliminá-lo é um golpe no terceiro olho (no centro do crânio). Que estranho!

Fato é que o longa é bem filmado. Dividido em capítulos como uma história em quadrinhos. A câmera é precisa e a fotografia em preto e branco tenta amenizar algumas cenas que poderiam ser consideradas como gore. A trilha sonora é muito bem escolhida. Vai do jazz a banda canadense Les Brestfeeders (que canta em francês “Laisse Autant le Vent Tout Emporter”). Mas o filme torna-se entediante após a enfermeira torna-se um zumbi. Os diálogos propositadamente forçados não tornam o filme engraçado. O filme não decide se quer provocar riso ou susto.

Penso que Graveyard Alive poderia se tornar um grande filme se os responsáveis pelo mesmo escolhessem um caminho para o filme. Trata-se de um terror independente visualmente interessante mas a fotografia em preto e branco, diálogos não convencionais e trilha sonora descolada não tornam um filme cult. Palavra que por sinal odeio pois é estereotipada exaustivamente no meio cinematográfico e já perdeu seu sentido há muito tempo.

Não achei um trailer do filme. Aqui vai então um clipe do Les Brestfeeders

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Gatti Rossi In Un Labirinto Di Vetro - Eyeball - The Secret Killer (1975)


É o primeiro giallo que comento aqui no blog. Giallo é amarelo em italiano. E é da Itália que vem esse gênero tão peculiar. Um assassino em série, mulheres lindas (divas italianas da década de 70), erostimso,sangue, detetives e mistério. O gênero foi associado a livros policiais de mistério que eram identificados com a capa amarela. Os maiores representantes desse gênero foram Dario Argento e Mario Bava.

Esse giallo de Umberto Lenzi é bem convencional. Tem todos os elementos acima citados e com o detalhe que o assassino tem como marca registrada a evisceração do olho esquerdo da vítima.

O filme é ambientado na Espanha com um grupo de turistas americanos que é alvo do assassino. Detalhe para a exploração arquitetônica de Barcelona com algumas obras do Gaudí sendo ponto turístico para as futuras vítimas.

A trilha sonora de Bruno Nicolai tem a marca dos anos 70 e me lembra muito os filmes que assistia na infância na Sessão da Tarde, inclusive alguns filmes mais antigos dos Trapalhões.

Com uma trama simples, não há muita dúvida de quem é o assassino. As seqüências de assassinato são muito bem exploradas em vermelho (cor da capa de chuva usada pelo mesmo). Destaque para o casal modernoso de lésbicas e para a cena de assassinato no trem fantasma.

sábado, 21 de julho de 2007

A Lentidão - Milan Kundera



Quando comecei a ler este livro logo me lembrei de um filme que assisti em 2005. Amizade sem Fronteiras. Filme com Omar Sharif que mostra a amizade de um muçulmano dono de uma mercearia com um pobre jovem menino judeu. Um dos ensinamentos ao jovem garoto é de como aproveitar melhor a vida. Através da lentidão é possível apreciar momentos que num momento de correria seriam relegados ao esquecimento.

É assim que Milan Kundera tenta mostrar seu ponto de vista também. A beleza de se desgustar o tempo. Na maior parte do livro, Kundera mostra como seus personagens são incapazes de fazer isso. É a inquietação dos mesmos que é evidenciada. A beleza da lentidão é mostrada em raros momentos nesse mar de inquietude.


“Há um vínculo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento. Imaginemos uma situação das mais comuns: um homem andando na rua. De repente, ele quer se lembrar de alguma coisa que lhe escapa. Nesse momento, maquinalmente, seus passos ficam lentos. Ao contrário, quem está tentando esquecer um incidente penoso que acabou de vive sem querer acelera o passo, como se quisesse rapidamente se afastar daquilo que, no tempo, ainda está muito próximo de si. Na matemática existencial, essa experiência toma a forma de duas equações elementares: o grau de lentidão é diretamente proporcional à intensidade da memória; o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento.”

“...Estou ao volante e, pelo retrovisor, observo um automóvel que vem atrás de mim. A luzinha da esquerda pisca e todo o automóvel emite ondas de impaciência. O condutor espera o ensejo de me ultrapassar; espreita esse momento como uma ave de rapina espreita um pardal.”

“Pensamos sempre que as oportunidades de um homem são mais ou menos determinadas pela sua aparência, pela beleza ou fealdade do seu rosto, pela sua conformação... Errado. É a voz que decide tudo. Tudo depende da força da voz.”

“Quero contemplar um pouco mais o meu cavaleiro que se dirige lentamente para a sege. Quero saborear o ritmo dos seus passos: quanto mais avança, mais os passos abrandam. Nessa lentidão, creio reconhecer um sinal de felicidade.”

quarta-feira, 18 de julho de 2007

C'est arrivé près de chez vous - Man Bites Dog - Aconteceu Perto de sua Casa




O documentário da vida de um serial killer. Até parece uma idéia original para um filme hollywoodiano de sucesso com atores de renome, uma boa dose de violência e uma previsível adoração pelo público (que tanto consome assassinatos em série). Mas esse filme belga é tudo menos comercial. Assustador e aterrorizante, o filme mostra com detalhes a vida de Benoit (Ben), o assassino, que é acompanhado por uma equipe de três pessoas, os realizadores do documentário. Os atores têm os mesmos nomes dos personagens. O filme é dirigido pelos mesmos três.

O documentário mostra a vida íntima do assassino intercalando cenas domésticas com brutais assassinatos. Benoit apresenta bom relacionamento com sua agradável família e com seus (poucos) amigos e vai mostrando uma boa formação intelectual através da defesa de seus pontos de vista.

Já os assassinatos são mostrados de uma forma cru sem poupar o espectador que nada pode fazer para encerrar com seu ciclo de matança a não ser abandonar a tela. Já os que decidem continuar com Benoit em seu relato documental são obrigados a presenciar uma ação brutal contra pessoas indefesas que pagaram por cruzar o seu caminho.

Algo nesse filme me fez lembrar “A Bruxa de Blair”. Fotografia em preto e branco, ações “supostamente” reais e uma câmera nervosa nos momentos de ação.

O filme é de 1992 e recebeu um prêmio menor no Festival de Cannes e foi divisor de muitas críticas.

Quando terminei de assistir a esse filme, me senti perturbado. Em momento algum senti simpatia pelo assassino (muitos críticos na época exaltaram o filme pelo carisma de Benoit) e me questionei como alguém tem a coragem de tentar trazer veracidade a cenas tão fortes sem nenhuma restrição.

No filme, a atitude da mídia (representada pelos documentaristas) não é só passiva em relação ao assassino, ela o incentiva. Talvez um alerta à banalização e glamourização da violência, tanto difundida e aceita como algo normal.


terça-feira, 17 de julho de 2007

Fast Food Nation





Este é um filme de Richard Linklater. Do mesmo diretor já assisti a quatro filmes e todos brigam comigo pois ainda não vi “Antes do Amanhecer” e “Antes do Pôr-do-Sol”. Tá bom. Tenho aqui em casa mas vou vê-los em outra oportunidade.
Gostei de “Danzed and Confused”, “Escola do Rock” e de “Tape”(que mais parece uma peça de teatro). Já não posso falar o mesmo de “Walking Life”. Esse desenho me deixou tonto. Tenho que conferi-lo mais vezes pois não fui capaz de acompanhar a quantidade de informação que seus personagens produziam e acabei me perdendo no filme e por muitas vezes sem entender. Esse parece um daqueles filmes que todos gostam. Revisando sobre esse filme agora acabei de achar um arquivo com todos os diálogos e discussões filosóficas do filme. Irei ler mais tarde e quem sabe pela leitura eu não seja massacrado como da vez que fui no cinema

Resumindo, não sou a pessoa certa para falar dos filmes de Linklater. Mas vou mostrar a minha impressão sobre Fast Food Nation.

Richard Linklater adaptou, junto com Eric Schlosser, o livro "Fast Food Nation : The Dark Side of the All-American Meal". Talvez embalado com a onda de documentários como “Super Size Me” e com a ascensão de Micheal Moore, Linklater critica a lógica das redes de Fast Food americanas.

O roteiro lembra de longe os filmes de Iñárritu (Babel principalmente) e interliga várias pessoas através da rede de Fast Food chamada Mickey’s.

O ponto forte do filme são os atores (com exceção de Avril Lavigne num papel que não diz a que veio).
Greg Kinnear é o executivo da empresa que vai investigar irregularidades na produção dos hamburgeres. É um pai de família, uma pessoa de bom coração mas é passivo e sabe que debaixo de toda a limpeza e esterilidade das fachadas das lanchonetes há muita sujeira. O seu dilema está em saber até que ponto é vantajoso investigar toda a sujeira ou deixar tudo como está. Fachadas limpas mas com o cerne sujo (assim como o sanduíche cuspido por um funcionário que o ator come em certo momento do filme sem perceber essa “sujeira”) parece uma realidade inevitável para a lucro de tais empresas.

Sujeira também é mostrada na maneira como os mexicanos, imigrantes ilegais, trabalham e são explorados. Destaque aqui para a atuação de Catalina Sandino Moreno do filme “Maria Cheia de Graça”. Isso tudo debaixo dos olhos da sociedade americana. Parece ser esse o maior foco da denúncia de Linklater e Schlosser.

Outro espectro do filme é representado por adolescentes que decidem que são necessárias ações para mudar o que está acontecendo em relação às cadeias Fast Food. Sinceramente não soube aqui perceber se Linklater concorda com o que os adolescentes militantes pregam ou se ele apenas faz uma caricatura da juventude americana e de sua incapacidade de lutar contra um sistema já imposto.

Linklater opta por mostrar também imagens chocantes. O abate dos animais e a maneira como os hamburgeres são preparados. Um documentário da década de 70 chamado “Meat” já fizera o mesmo.

Como o filme foi indicado a Palma de Ouro de Cannes ano passado, gostaria de ter visto suas entrevistas na ocasião e o que realmente pensa Linklater.

Trata-se de um filme interessante mas pouco inovador.

Cellar Dweller - O Monstro Canibal





Terrorzinho dos anos 80. Resolvi assisti-lo por ter a participação de Jeffrey Combs (do clássico Re-Animator) e da musa da década de 50 Yvonne De Carlo. Se não me engano já passou no saudoso Cine Trash da Band das sextas à noite.

O filme começa na década de 50 com Colin Childress (Jeffrey Combs) que se inspira em livros de magia negra para escrever seus quadrinhos. Acidentalmente seu quadrinho se personifica num monstrengo enorme com um pentagrama no peito que começa a destruição. Para evitar maior massacre, o cartunista acaba ateando fogo no bicho e morre queimado. Para a imprensa local, ficou a idéia de que Colin assassinou e cometeu suicídio. Tudo isso acontece em um porão. Essa é a primeira cena do filme e pela caracterização do monstro já se pode antecipar a tosqueira que está por vir.

Trinta anos anos depois a casa se transforma em uma escola de arte dirigida pela personagem de Yvone De Carlo. E é pra lá que vai a cartunista Whitney Taylor (Debrah Farentino) que sempre foi fascinada por histórias de terror e se muda em busca de inspiração. A casa é um celeiro de figuras bizarras: um pintor abstrato, uma outra cartunista, uma desajustada que faz umas performances aeróbicas (parecendo Olívia Newton-John no clipe mais trash que já vi na vida “Let’s get physical”), um escritor de livros pulp (pelo menos é o que me pareceu) e a dona do lugar (Yvonde de Carlo).

Whitney consegue autorização para se instalar no obscuro porão e o monstro volta novamente a se personificar com seus traços.

O filme é cheio das máximas do terror barato dos anos 80: monstrão nojento e meio bobo com pentagrama no peito, um machado sempre à disposição para defesa pessoal, cena da loira tomando banho (essa foi fraca!) e cabeças decapitadas. Há uma referência explícita ao filme “A Morte do Demônio” que é a câmera em primeira pessoa vindo do mato e entrando na casa e sempre com muita fumaça em volta para criar um ar sinistro. A propósito, a cena é colocada totalmente fora de contexto, umas duas vezes. Penso que foi só para homenagear o mestre Sam Raimi (para quem não sabe o diretor de Homem Aranha é responsável por um dos filmes de terror/trash mais cultuados).

Os atores são ruins mas poderíamos salvar Debrah Farentino e Yvone de Carlo do monstro (elas não foram tão mal!). O desfecho final é engraçado e o filme não cansa pois tem apenas 73 minutos. A tradução brasileira para o título é também um ponto hilário (o monstro canibal!!!???)

Trata-se de uma produção muito barata e filmada em apenas 10 dias. Recomendo apenas para fãs de terror anos 80. O filme é, no bom sentido, uma “tosqueira da grossa”.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Kids Return - De Volta às Aulas





Sempre fui fã da obra do japonês Takeshi Kitano. Na minha opinião, melhor diretor do oriente da atualidade. Apelidado no Japão de “beat” Takeshi, o diretor começou sua carreira como artista de manzai. Takeshi é também autor de romances, contos e poesias; além de encontrar tempo para o desenho e pintura. Desde que assisti Verão Feliz, minha visão sobre o cinema oriental mudou e Takeshi foi responsável por isso.

Uma das características marcantes do cinema de Takeshi é a abordagem da amizade e companheirismo. Ele consegue sempre fazer isso com ternura e nunca apela para clichês ou cenas feitas. Os personagens de seus filmes transpiram emoções e é difícil não entrar na realidade dos mesmos como se fossem nossos amigos, mesmo que do outro lado do mundo.

O filme fala da vida de dois jovens. Os adolescentes são colocados como desajustados. Em momento algum é mostrado familiares dos mesmos. Parecem dois largados no mundo que têm na amizade um motivo para poder encontrar algum sentido para o vazio de suas realidades. Masaru e Sheiji são os únicos estudantes da classe que não trabalham. Únicos que não vão as aulas. Únicos que andam de bicicleta no pátio enquanto os outros assistem às aulas. São tratados como dois delinqüentes.

A fotografia tem grande importância. Os dois amigos aparecem em quase todo o filme de cores diferentes, principalmente o azul e o vermelho, em contraste com o plano de fundo cinza, representado pela cidade.

Masaru surge com a idéia de praticar boxe. Começa a correr e a fazer sombra no meio da rua. Chama seu amigo Sheiji para acompanhá-lo. Sheiji o acompanha como se fosse qualquer outra diversão que eles sempre costumavam a fazer juntos. Mas Sheiji leva jeito para o esporte e vai evoluindo nos ringues. Precisa é a abordagem de Takeshi na maneira da frustração de como Masaru encara sua inaptidão para o esporte enquanto Sheiji está prestes a começar a lutar nos ringues. Frustrado, Masaru sente vergonha e vê na Yakuza (máfia japonesa) uma maneira de se tornar reconhecido de alguma maneira.

O filme vai se desenvolvendo e abordando outros personagens peculiares (alguns com um fundo cômico; característica dos filmes de Takeshi). Mas nesse filme, o diretor japonês está mais sério e usa o boxe para criticar a sociedade japonesa. Ele mostra bem a pressão que a sociedade japonesa impõe a seus membros. A necessidade de resultados vai lentamente tirando todos os prazeres de um ser humano. Assim como um boxeador próximo a uma luta não pode ter prazeres com mulheres, comida e bebida; as pessoas vão aceitando essa realidade sem prazeres como uma máxima para obter sucesso em seu desempenho laboral. A frase dita ao empregado de uma firma no filme identifica essa pressão cotidiana: “trabalhe mais se quiser ver sua esposa feliz”.

E é dentro desse contexto que Sheiji e Masaru são tidos desajustados. Não trabalham e passam a maior parte do tempo se divertindo. Eles também sentem a pressão por resultados mas se diferem muito do meio em que vivem. Acabam seguindo caminhos diferentes e o filme apresenta um final até um pouco surpreendente para quem está acostumado com o diretor.

O filme acaba se tornando um reflexão para as nossas vidas. Estamos sufocados pela necessidade de mostrar resultados. Mas até que ponto temos que nos privar dos nossos prazeres e relacionamentos para mostrarmos resultados positivos?