quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Lunar Park - Bret Easton Ellis (2005)



Quando digo que não leio sinopses ou que não me interesso por trailers de filmes é em função de evitar o dissabor da antecipação de uma surpresa. “Spoiler” é o termo usado na lingua inglesa para revelação em um enredo. Um anglicismo que é febre entre aficcionados por seriados de tv. Dizer que um texto contém “spoilers” é uma maneira elegante de não estragar a surpresa dos leitores. Desconhecer o enredo de Lunar Park foi meu grande deleite como leitor dessa obra. Tentarei fazer o texto com o menor número de spoilers possíveis.

O obra é uma autoficção. Bret Easton Ellis é o protagonista de sua história. Mas afinal, quem é Bret Easton Ellis? Escritor da Geração X com grandes sucessos literários. Seu livro mais famosos também é filme: O Psicopata Americano. Não li. Fez muita falta pois sobram referências durante a narrativa.

A literatura de Bret tem foco na vida pessoas muito ricas e a década de 80 marcada como perda de um controle social em virtude do potencial destrutivo de novas drogas. Uma liberdade sexual impressionante. Um momento da história quase sem culpa. Vieram a AIDS e a dependência química. Onipotência abalada e dor pelas consequIencias.

Bret vive o início da meia idade. É pai de família. Meninas de vinte anos o chamam de senhor. Vieram outras gerações (Y, Z e M) e ser novo e famoso era muito mais agradável.

Bret é taxado como o errado do lar. Pai distante, alcóolatra, drogado e egoísta. Rótulo fácil para resposabilizar um membro por desestruturar uma família. A pequena Sarah (sua caçula) é uma criança solitária e vítima de um fenômeno atual. A drogadição “terapêutica” de crianças desajustadas.

O desaparecimento em série de crianças da mesma idade de seu filho Robby é o assunto que assombra o autor. Elas somem sem dar sinal. Ao mesmo tempo há outro fantasma na vida de Bret. O assassino de O Psicopata Americano que foi inspirado em seu pai, já falecido. Ele parece querer dizer algo. As memórias do livro e de seu pai são dolorosas. Esse são os fantasmas da obra. A materialização do sobrenatural pode ser confundida pelo abuso de álcool e medicamentos. O medo se mistura à vergonha da impotência de um drogado. Bret agora é pai e tão criança quanto Robby. Em certo momento do livro, sua consciência se dividide entre a do personagem e a do escritor sendo a segunda sarcástica, fria e narcisista. É quando o pavor toma conta do protagonista que o autor se desliga e passa a formular algumas opiniões chegando a abandoná-lo quando lhe é conveniente reforçando o caráter solitário do assombrado personagem.

Sua narrativa sobrenatural lembra o mestre do terror Stephen King em seus melhores momentos e faz com que a crítica literária, pelo preconceito ao gênero, não se curve ao grande escritor que Bret Easton Ellis é.

Um final lírico de extrema beleza. Uma obra sobre o poder do traço familiar e a impressionante sensação de que podemos nos ver em nossos pais e filhos.

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