
Meu pai, fã de filmes de ação como aqueles protagonizados por Chuck Norris e Steven Seagal, diria que Os Descendentes é um filme muito parado. Essa pode ser a opinião de muitos espectadores que escolhem um filme apenas pelo protagonista. Os Descendentes tem um ritmo semelhante a Sideways (outro sucesso do diretor Alexander Payne), fato que desagrada os mais inquietos. Quem escolhe George Clooney espera um galã grisalho sedutor ou talvez um filme cheio de ação. Aqui, o protagonista erra e acerta. Corre desajeitado, quase cai ao calçar um sapato e seu olhar é espelho de uma alma insegura e em conflito. Longe de arrancar suspiros femininos ou de assustar seus inimigos.
Pensar na dignificação do homem pelo trabalho fez de Matt King (George Clooney) uma pessoa distante daqueles mais próximos. Excessiva preocupação em fazer do mérito o responsável pela conquistas sempre lhe conferia o conforto de pensar que optou pelo caminho certo. Confiança que se perde quando recebe a notícia do acidente de sua mulher Elizabeth King (Patrícia Hastie). Agora ela está em coma e a morte é um destino breve garantido pelo médico. Duro golpe na aparente sóbria vida de Matt. Sua realidade agora é outra. Suas convicções se abalam. Sua família nunca usufruiu de uma herança referente às últimas terras virgens do Havaí por opção de Matt. Percebe, então, que nunca aproveitou bem a esposa (que o traía), as filhas e a intocada fortuna de seus ancestrais.
Filme ambientado no diferente estado americano do Havaí. Engraçado saber que quase todos usam camisas “havaianas”, inclusive executivos. O charme das locações e da trilha sonora singularizam a película. O ponto forte é a direção de atores por Alexander Payne. O filme lembra Sideways quando usa de uma breve jornada em que os acontecimentos em seu percurso são mais importantes que o objetivo. Matt se une às filhas para encontrar o amante de sua esposa e oferecê-lo a oportunidade de despedir-se de Elizabeth.
Hollywood consegue trazer o cinema de conteúdo através da disposição de seus maiores astros em fazer “filmes menores”. A qualidade de Os Descendentes é indiscutível mas o verdadeiro sucesso deve-se, em parte, à tentativa de Clooney em fugir do convencional (receita para ganhar Oscar). Não fosse por Clooney, talvez, Os Descendentes poderia ser um daqueles filmes relegados nas prateleiras das locadoras e certamente não teria a badalação que hoje o envolve.
É o filme mais doce de Alexander Payne. Há pouco desconforto em uma história tão dramática. A atenuação vem da gradativa aproximação de Matt com suas filhas. Descobrir o amante da esposa ou decidir o futuro de uma herença parece secundário quando um pai tem real chance de conviver com sua família.




