quinta-feira, 8 de março de 2012

Tão Forte e Tão Perto - Extremely Loud & Incredibly Close (2011)



O ataque às Torres Gêmeas de 11 de setembro fez tornar realidade algo que o americano sempre imaginou acontecer. Uma catástorfe envolvendo sua população. Os potenciais responsáveis por tal acontecimento já foram os fenômenos naturais, os marcianos, os russos e por último os terroristas. Onze de setembro foi a consolidação de uma idéia recorrente. O cinema sempre tratou tal assunto com naturalidade. Um gênero cinematográfico chegou a ser concebido. O cinema catástrofe. A década de 90 foi recheada de tais filmes.

O ataque terrorista de 11 de setembro traumatizou os americanos. Havia enorme desconforto em abordar o assunto. Uma cena (filmada antes do ataque) em que o Homem Aranha tece sua teia entre as torres foi cortada da estreia do filme do herói. O assunto terrorismo era quase um tabu. Havia uma idéia que os americanos foram longe demais.

O tempo passa e as feridas cicatrizam. O mandato do democrata Barack Obama parece tornar a idéia de um novo ataque distante. Osama Bin Laden está morto. Abordar o terrorismo nas telas nem é mais doloroso. Assim nasce Tão Forte e Tão Perto.
Filme em que o garoto Oskar (Thomas Horn) concentra suas energias em manter viva a memória de seu pai (Tom Hanks), morto no acidente das Torres Gêmeas.

Oscar está dentro de um perfil que merece muito respeito na cultura americana. É o ultra nerd. Steve Jobs foi assim. Extremamente focado, obsessivo, genial e que não se importava com o resultado de seu comportamento. Muita coragem do diretor em escolher um protagonista assim. Ele se vale da Síndrome de Asperger para justificar o comportalmento de Oskar. Crianças de filmes costumam ser doces, surpreendentes e amáveis. Oskar não. Virtude do diretor em mostrar uma criança de uma maneira tão cru. O resultado, porém, chega a ser irritante (assim como o pandeiro que toca nos momentos de ansiedade).

Após a morte do pai, Oscar isola em seu individualismo e o resultado é um cruel relacionamento familiar e com pessoas próximas. Ninguém desperta interesse., apenas a memória de seu pai e o enigma de uma chave em um envelope.

Max Von Sydow salva o filme. Depois de tanta falação do protagonista, o veterano chega e desbanca todos sem dizer uma palavra. O velho, porém, só é interessante para o garoto enquanto lhe oferece algo, que é ajudá-lo em sua jornada em busca de informações sobre a chave. O que Oscar mais faz no filme é atravessar seus objetivos na frente dos sentimentos alheios. Ele é incapaz de perguntar o nome de seu novo amigo.

Pensar que a Síndrome de Asperger é responsável pelo comportamento de Oskar ameniza um pouco a antipatia que por ele criei. Talvez o livro em que o filme se baseou explique melhor mas dispenso essa leitura.

O filme conclui-se de maneira interessante. Um dia toda criança percebe que o mundo não gira em torno dela. Oskar Schell, mesmo com todo o seu conhecimento teórico e inteligência, demorou demais para perceber isso.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Os Descendentes - The Descendants (2011)



Meu pai, fã de filmes de ação como aqueles protagonizados por Chuck Norris e Steven Seagal, diria que Os Descendentes é um filme muito parado. Essa pode ser a opinião de muitos espectadores que escolhem um filme apenas pelo protagonista. Os Descendentes tem um ritmo semelhante a Sideways (outro sucesso do diretor Alexander Payne), fato que desagrada os mais inquietos. Quem escolhe George Clooney espera um galã grisalho sedutor ou talvez um filme cheio de ação. Aqui, o protagonista erra e acerta. Corre desajeitado, quase cai ao calçar um sapato e seu olhar é espelho de uma alma insegura e em conflito. Longe de arrancar suspiros femininos ou de assustar seus inimigos.

Pensar na dignificação do homem pelo trabalho fez de Matt King (George Clooney) uma pessoa distante daqueles mais próximos. Excessiva preocupação em fazer do mérito o responsável pela conquistas sempre lhe conferia o conforto de pensar que optou pelo caminho certo. Confiança que se perde quando recebe a notícia do acidente de sua mulher Elizabeth King (Patrícia Hastie). Agora ela está em coma e a morte é um destino breve garantido pelo médico. Duro golpe na aparente sóbria vida de Matt. Sua realidade agora é outra. Suas convicções se abalam. Sua família nunca usufruiu de uma herança referente às últimas terras virgens do Havaí por opção de Matt. Percebe, então, que nunca aproveitou bem a esposa (que o traía), as filhas e a intocada fortuna de seus ancestrais.

Filme ambientado no diferente estado americano do Havaí. Engraçado saber que quase todos usam camisas “havaianas”, inclusive executivos. O charme das locações e da trilha sonora singularizam a película. O ponto forte é a direção de atores por Alexander Payne. O filme lembra Sideways quando usa de uma breve jornada em que os acontecimentos em seu percurso são mais importantes que o objetivo. Matt se une às filhas para encontrar o amante de sua esposa e oferecê-lo a oportunidade de despedir-se de Elizabeth.

Hollywood consegue trazer o cinema de conteúdo através da disposição de seus maiores astros em fazer “filmes menores”. A qualidade de Os Descendentes é indiscutível mas o verdadeiro sucesso deve-se, em parte, à tentativa de Clooney em fugir do convencional (receita para ganhar Oscar). Não fosse por Clooney, talvez, Os Descendentes poderia ser um daqueles filmes relegados nas prateleiras das locadoras e certamente não teria a badalação que hoje o envolve.

É o filme mais doce de Alexander Payne. Há pouco desconforto em uma história tão dramática. A atenuação vem da gradativa aproximação de Matt com suas filhas. Descobrir o amante da esposa ou decidir o futuro de uma herença parece secundário quando um pai tem real chance de conviver com sua família.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Lunar Park - Bret Easton Ellis (2005)



Quando digo que não leio sinopses ou que não me interesso por trailers de filmes é em função de evitar o dissabor da antecipação de uma surpresa. “Spoiler” é o termo usado na lingua inglesa para revelação em um enredo. Um anglicismo que é febre entre aficcionados por seriados de tv. Dizer que um texto contém “spoilers” é uma maneira elegante de não estragar a surpresa dos leitores. Desconhecer o enredo de Lunar Park foi meu grande deleite como leitor dessa obra. Tentarei fazer o texto com o menor número de spoilers possíveis.

O obra é uma autoficção. Bret Easton Ellis é o protagonista de sua história. Mas afinal, quem é Bret Easton Ellis? Escritor da Geração X com grandes sucessos literários. Seu livro mais famosos também é filme: O Psicopata Americano. Não li. Fez muita falta pois sobram referências durante a narrativa.

A literatura de Bret tem foco na vida pessoas muito ricas e a década de 80 marcada como perda de um controle social em virtude do potencial destrutivo de novas drogas. Uma liberdade sexual impressionante. Um momento da história quase sem culpa. Vieram a AIDS e a dependência química. Onipotência abalada e dor pelas consequIencias.

Bret vive o início da meia idade. É pai de família. Meninas de vinte anos o chamam de senhor. Vieram outras gerações (Y, Z e M) e ser novo e famoso era muito mais agradável.

Bret é taxado como o errado do lar. Pai distante, alcóolatra, drogado e egoísta. Rótulo fácil para resposabilizar um membro por desestruturar uma família. A pequena Sarah (sua caçula) é uma criança solitária e vítima de um fenômeno atual. A drogadição “terapêutica” de crianças desajustadas.

O desaparecimento em série de crianças da mesma idade de seu filho Robby é o assunto que assombra o autor. Elas somem sem dar sinal. Ao mesmo tempo há outro fantasma na vida de Bret. O assassino de O Psicopata Americano que foi inspirado em seu pai, já falecido. Ele parece querer dizer algo. As memórias do livro e de seu pai são dolorosas. Esse são os fantasmas da obra. A materialização do sobrenatural pode ser confundida pelo abuso de álcool e medicamentos. O medo se mistura à vergonha da impotência de um drogado. Bret agora é pai e tão criança quanto Robby. Em certo momento do livro, sua consciência se dividide entre a do personagem e a do escritor sendo a segunda sarcástica, fria e narcisista. É quando o pavor toma conta do protagonista que o autor se desliga e passa a formular algumas opiniões chegando a abandoná-lo quando lhe é conveniente reforçando o caráter solitário do assombrado personagem.

Sua narrativa sobrenatural lembra o mestre do terror Stephen King em seus melhores momentos e faz com que a crítica literária, pelo preconceito ao gênero, não se curve ao grande escritor que Bret Easton Ellis é.

Um final lírico de extrema beleza. Uma obra sobre o poder do traço familiar e a impressionante sensação de que podemos nos ver em nossos pais e filhos.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Carne - La Carne (1991)



Conotação sexual em cinema é sinônimo de polêmica. Por mais que se proclame revolução sexual, o sexo transcende e se faz ser notado. Nunca será visto com indiferença. Assim é o filme italiano A Carne.

Um pianista de meia idadade, Paolo (Sergio Castellitto), desenvolve um desejo obsessivo por Francesca (Francesca Dellera). Vale aqui uma referência à beleza da atriz. Francesca Dellera é a beleza que não existe mais. Um padrão de que as mulheres hoje tentam fugir. Um corpo moldado pela natureza e não pelas plásticas e academias. O resultado disso é uma beleza rústica e voluptuosa.

Após se deparar com a imagem de Francesca pela primeira vez, possuí-la passa a ser o único objetivo na vida de Paolo. Seu grande erro é pensar que foi um agraciado por ter consumido o fato e não pensar na possibilidade que Francesca o desejou também.

Paolo se vê vítima das inconstâncias de sua amada. O melhor termo para descrevê-la é furacão. Grande, avassaladora e desgovernada. Francesca faz parte de um grupo de mulheres que faz o seu discurso ser secundário. O estímulo visual proporcionado por sua boca e curvas inibem qualquer outra avaliação crítica. Paolo é um boquiaberto constante diante de sua amada.

O momento mais consciente de Paolo é em que tenta o suicídio. Após chegar ao ápice do prazer com a mulher que mais desejou na vida. Paolo sabe que tudo vai se perder com o tempo mas a sedução de Francesca não o deixa suicidar. E suas previsões são consumadas.

O filme fala da superioridade feminina. Paolo é apenas instinto. É um animal em busca de carne. Presa fácil para Francesca. Fato evidenciado em seu poder de paralisar todos os músculos de Paolo e deixá-lo em priapismo transformando seu amante em um consolo humano.

Há uma relação entre sexo e comida. Desejo e saciação. Paolo e Francesca são dois famintos. O desejo é tanto que se isolam em uma casa à beira mar para darem início a uma orgia alimentar e sexual. Deixam trabalho, família e sociedade.

O processo de autodestruição de Paolo se inicia quando percebe solidão mesmo isolado com Francesca e estando repetidas vezes com ela na cama.

É um filme sobre convicções. Aquilo que se deseja pode realmente não ser bom. Não ter a consciência disso é o caminho da destruição.

Born to Die - Lana Del Rey



Meu histórico musical possui vários elementos para me fazer odiar uma cantora como Lana Del Rey. Tudo mudou quando escutei Born to Die pela primeira vez. Uma pessoa preparada para o mercado fonográfico com um sucesso já garantido antes de o público escutar suas músicas. O meu interesse foi despertado ao ler uma crítca feita na Folha de São Paulo por alguém que estava furioso com a situação. Mas algo me chamou a atenção. A maior preocupação do crítico era o botox dos lábios da cantora. Crítico de uma nova realidade musical. A imagem faz hoje parte do critério avaliativo das pessoas. Algo estranho. Demorei anos para descobrir como eram os integrante do Pink Floyd pois os vinis não continham fotos do quarteto. Uma banda como o Rush seria incocebível nos dias atuais pela feiúra de seu líder Geddy Lee. Fica o questionamento. Qual a importância do Botox da Lana Del Rey? Pra mim, nenhum.

A procura insana por deslizes técnicos também me irritou. “Ela desafinou no minuto tal”! Penso que existem vários nuances no sentido da música ao vivo. Existem artistas que têm performances idênticas às gravações de estúdio (como a cantora Sade), melhores ao vivo que em estúdio (como o Rush), os que aceleram suas múscas (como o Iron Maiden) e as famigerados que não consegem repetir o que gravam em disco. Não acho demérito isso. Guns N` Roses é uma das minhas bandas favoritas. Alx Rose é sofrível ao vivo e já fui em dois de seus shows e curti muito os dois. Li que a apresentação da cantora no Saturday Night Live foi considerada a “pior de todos os tempos” e responsável por adiar a turnê da cantora.

O charme musical da cantora é a amargura. E no palco é classe em pessoa. A decepção foi despejada em letras e músicas e a própria cantora admite que hoje não se sente mais assim e difícil será compor um novo disco. Muito diferente de quase todas as cantoras que vendem muito. Ela não é performática.

A cantora flerta com o R&B e o hip-hop (dois gêneros que não me interessam muito). Algumas músicas chatas e com letras pobres. Mas Born to Die, Video Games e Blue Jeans são músicas que escuto repetidamente. Principalmente a música que dá nome ao album.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Bad Boy Bubby (1993)



Imaginar reações de um homem adulto ao conviver pela primeira vez em sociedade é instigante. Esse é o tema Bad Boy Bubby, um exercício antropológico.

Bubby (Nicolas Hope) é uma criança de 38 anos. Chama seus pais de Mam e Pop. É frágil e dependente. Trancafiado a vida toda pela mãe Flo (Claire Benito), desenvolve seu ambiente lúdico mesmo influenciado pela mente doente da mesma que o convence que o ambiente fora de casa é envenenado. Preso em casa, é envolvido em relação incestuosa com a mãe.

O filme encoberta os aspectos psicológicos da mãe de Bubby. A relação incestuosa é sinal do mundo doente que criou. O ambiente de cárcere é claustrofóbico para o espectador. Menos para Bubby, forçado a acreditar que sua casa é o único lugar em que se pode respirar sem máscaras.

Seu mundo sofre brusca mudança após a chegada de seu pai (Ralph Coterrill) que rouba seu lugar na cama com sua mãe. Bubby mata todos. O pai, a mãe e o gato de estimação. Até a noção de assassinato é complexa para ele. Depois de um certo tempo após plastificar (isso mesmo! Ele os plastifica) suas vítimas, Bubby não tem alternativa a não ser tentar sair de casa.

Dá-se início uma jornada sem objetivos. Bubby não tem mais ninguém. Uma pessoa sem lugar. Obrigado a conviver com estranhos.

O ajustamento social parece ser sempre viável. Bubby é desprovido de moral e mesmo assim consegue estebelecer convívio, cantar em uma banda de rock e ter um relacionamento amoroso.

“Bad Boy Bubby” é a expressão usada pela mãe quando não consegue controlar o filho. Mesmo matando os pais e seu gato de estimação, Bubby parece não ser mau. Questionamento para o perfil do protagonista. Qual é a influência do meio nos comportamentos de um ser humano?

O filme é genial. Atuação memorável de Nicolas Hope. Cenas desconfortáveis são vistas ao longo do filme. Incesto com a mãe, tortura de um gato e o esmagamento de uma barata com a mão. Obra de extremos. Engraçado e triste, interessante e repugnante. Assim é Bad Boy Bubby. Um assassino carismático. Filme e pessoa difíceis de difícil definição.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres (Gainsbourg - Vie héroïque) - 2010



Com a bagunça de traduções de títulos estrangeiros, temos em cartaz essa semana o homem que amava e o que não amava as mulheres. Sem contar que o mesmo titulo foi de um filme de François Truffaut da década de 70. Irei falar sobre a cinebiografia de Serge Gainsbourg.

Serge Gaisnbourg está no inconsciente de quase todos nós. Sua mais famosa música, "Je T'aime...Moin Non Plus", é trilha sonora da maioria dos anúncios de motéis. Aqui no Brasil é motivo de piada como quase tudo que é relacionado a sexo. Particularmente, sou fascinado por Bonnie & Clyde que é um dueto com Brigitte Bardot que conheci através do cover da banda americana Luna.

Serge foi conhecido também como o feioso que conquistou diversas beldades de sua época. Agiu como presa e caçador. Há, no filme, uma perspectiva interessante sobre relacionamentos. Por mais que momentaneamente os sentimentos sejam muito intensos, existe a consciência de que o futuro não reserva continuidade. Aqueles momentos sublimes entre lençóis vão se dissipar. Essa é a constante da projeção.

Serge é acompanhado por personagens que ele mesmo, como cartunista, criou. São personagens da graphic novel do diretor Joann Sfar (que também é cartinista) que fazem do filme um exercício leve em momentos potencialmente chatos de uma cinebiografia, tornando a mesma em uma fábula. Uma marca registrada. Ponto forte do filme.

Uma trajetória de erros e acertos de um artista compulsivo. A vida de Serge Gainsbourg foi conduzida por vícios. O melhor e principal deles: o vicio pelas mulheres.