segunda-feira, 27 de junho de 2011

Meia Noite em Paris - Midnight in Paris (2011)

Paris é o cartão postal de Woody Allen. Uma sequência de belas imagens da cidade é mostrada em várias situações na abertura do filme. Desde os pontos turísticos mais badalados como o Louvre e a torre Eiffel até os fundos de uma cantina simples numa noite chuvosa. Início de um filme promissor.

Gil Pender (Owen Wilson) é um roteirista insatisfeito. Seus roteiros rentáveis são ruins e isso o incomoda. Queria fazer algo melhor. O destino é Paris. Woody Allen abandonou Nova York como cidade de seus filmes. Gil também tem Paris como inspiração. Sua esposa se interessa pelo luxo. Essa é a tônica inicial da viagem do protagonista com a família de sua noiva.

Tudo se parece muito chato para Gil. Piora quando em um jantar encontra com um casal amigo de sua noiva. Iniciam-se as visitas a pontos turísticos nos quais o marido Paul (Michael Sheen) faz questão de ser a pessoa que sabe tudo. É aquele amigo chato que todo mundo tem e que adora exibir conhecimento. Os passeios são tão torturantes que Gil começa a se esquivar com a desculpa de precisar solidão para escrever seu romance (desacreditado até por sua noiva). Sozinho em Paris, sua viagem começa a ficar menos ruim.

O título do filme é o ato passagem para uma outra época. Os anos dourados para Gil, que são os anos 20. Começa então uma jornada fantástica pela Paris que Gil sempre exultou. Uma avalanche de artistas imortais nos é mostrada. Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Cole Porter, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Luís Buñel, TS Elliott e muitos outros na intimidade de um bate papo. Mesmo passando longe da genialidade de suas novas amizades, Gil é acolhido e querido de uma maneira bem diferente de sua realidade. Sua noiva e o amigo pedante que vomita conhecimento passam a ser secundários.

O contraste entre sua realidade e os anos 20 é sensível a ponto de esperarmos ansiosamente a nova incursão de Gil ao passado. O protagonista não se parece com Woody Allen. Exceto por um importante detalhe. Aprecia arte porque gosta e não para aparecer. Infelizmente o diretor acaba se sabotando pois agrada extremamente o perfil daquele que tanto contesta. O pseudointelectual ou mesmo o intelectual chato. Os risos um pouco mais exagerados no cinema vêm daqueles que de alguma forma tem conhecimento do que está sendo falado. A cada citação de uma obra clássica de um dos personagens (como por exemplo O Anjo Exterminador de Luís Buñel ou As Neves de Kilimanjaro de Hemingway) ouço risadas efusivas de alguns que de alguma forma são iguais a Paul, querem exibir conhecimento.

A idéia de reunir tantos artistas em um só roteiro é magnífica. O desenrolar do roteiro é extremamente prazeroso porque a cada instante podemos ser apresentados a um gênio. O resultado de tanta gente em tão pouco tempo de filme acaba, porém, gerando personagens superficiais e por vezes muito caricatos, quase iguais às participações especiais de celebridades nos episódios dos Simpsons.

Apesar de tudo, o filme é excelente e delicioso de se assistir. Saio com a sensação boa que sempre sinto ao final dos filmes de Woody Allen. Um cineasta perfeito em expor pequenos (e essenciais) detalhes dos relacionamentos humanos.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Búfalo da Noite - El Búfalo de la Noche (2007)

Uma nova perspectiva sobre relacionamentos. É o tema do novo filme do roteirista Guillermo Arriaga que ficou famoso com sua parceria com o diretor Alejandro González-Iñárritu (responsável por filmes premiados como Babel, 21 Gramas e Amores Brutos).

Manuel (Diego Luna) vive uma realidade dolorosa. É assombrado pelo suicídio de seu melhor amigo, o esquizofrênico Gregório (Gabriel González). A falta de coerência nos pensamentos de Gregório culmina em sua morte. Tranquilo seria pensar que a loucura o levou ao suicídio se Manuel não tivesse um caso com a namorada de Gregório. A consciência pesada faz com que o protagonista seja incapaz de sorrir durante quase todo o filme.

Instintivo demais, Manuel é obcecado pelo sentimento de posse. Posse do corpo principalmente. Sexo é tanto um orientador como válvula de escape para seus problemas. Um quarto de motel, um carro ou uma sala. Qualquer cenário é palco de seus instintos e de suas conquistas.

A fotografia obscura do filme traz um aspecto próximo do sujo. O quarto de motel surrado e a impressão de que Manuel está sempre no caminho errado torna o filme angustiante. É tudo hermético. As pessoas mal conversam. Não há beleza nas relações.

Amor e sua implicação patológica, a loucura. Termos inseparáveis. Pelo menos na visão do escritor.

A impressão que fica é de que Arriaga e Iñárritu só funcionam juntos. Quase um Axl e Slash do cinema. Arriaga se esforça mas parece sempre fazer produções menores quando comparadas à parceria. Já li livros do Arriaga, como Um Doce Aroma da Morte (link nesse blog), mas parece que falta o toque de Iñárritu. Assim também acontece com o Guns N’Roses.

Verão Violento - Estate Violenta (1959)

Quando se fala em cinema italiano, penso nas divas. Termo hoje que perdeu a força. O culto atual é da mulher fútil. Uma gostosa que não dê trabalho. Uma diva italiana é complexa na essência e possui no seu arsenal de virtudes o estilo como característica marcante.

Carlo (Jean-Louis Trintignant) se apaixona por uma diva. Roberta (Eleonora Rossi Drago) é quem faz o jovem perder a cabeça. Sua rotina bon vivant fica vazia sem a presença daquela mulher tão diferente de sua realidade. Mesmo cercado por mulheres bonitas (destaque para a belíssima Jaqueline Sassard), apenas Roberta é capaz de prender sua atenção. Fácil seria se o interesse mútuo fosse a única condição para ficarem juntos. Estavam diante da II Guerra Mundial.

A guerra é o carma de Roberta. Viúva de um soldado, vive agora o preconceito da sociedade e de sua família diante do romance com um desertor. Nada comparável ao seu desejo.

A película em preto e branco é um dos pontos altos do filme. Com um jogo de luzes e contrastes, o diretor Valerio Zurlini compõe cenas memoráveis. A troca de olhares é arrebatadora. Tanto durante um blackout no circo quanto em uma festa, ao som da música Temptation, dançam com parceiros diferentes mas não conseguem tirar os olhos um do outro.

Trata-se de um verdadeiro romance. O real significado do verbo gostar. O prazer de passar horas conversando (como fazem em uma viagem a San Marino), de sentir o corpo da outra pessoa ao lado (seja em uma dança ou deitados na areia esperando o dia amanhecer), de fazer o mundo parecer menor em comparação à companhia da pessoa amada. Aliado a esse universo de paixão, ficamos com a marca pessimista e amargurada do diretor. É mostrada uma sociedade vazia e alienada. A guerra é uma ferida na tranqüilidade dos amantes. O casal vive o tempo todo sob tensão e esse ambiente inóspito parece uma forma de castigo imotivado.

Sentimentos aflorados em um filme essencialmente italiano. Estiloso e marcante, assim como uma diva.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Esposa de Mentirinha - Just Go With It (2011)

Hoje é feriado e estou muito cansado. Resolvi pegar uma dica e assistir a uma comédia romântica. Não tenho preconceito contra nenhum gênero do cinema (tirando musicais antigos que ainda não aprendi a tolerá-los) e estou realmente a fim de descansar nesse momento. O título em português chega a ser constrangedor na hora de se falar. Esposa de mentirinha. Mais um título horroroso que me deixaria extremamente envergonhado caso fosse sozinho ao cinema comprar uma entrada. “Quero uma entrada para Esposa de Mentirinha”. Não saberia falar isso sem me sentir ridículo. Mas tudo bem. Estou vendo o filme na minha casa. Menos mal.

Adam Sandler nem se importa em fazer quase o mesmo tipo de filme uma vez que sua conta bancária agradece. Conheço pessoas que simplesmente odeiam seus filmes. Assim como Jennifer Aniston. Uma atriz que não se sente confortável quando se diferencia um pouco de sua personagem Rachel do seriado Friends. Fato é que ao se propor a assistir uma comédia romântica envolvendo os dois atores, não é justo querer que os mesmos façam algo diferente. Por isso escolhi um feriado e a vontade de ver algo bastante despretensioso.

O filme fala sobre as conseqüências de uma mentira. O cirurgião plástico Danny Maccabee (Adam Sandler) hoje consegue conquistar facilmente uma série de mulheres. Usa uma aliança como isca para suas vítimas. Vejo a aliança nos dias de hoje como uma espécie de ISO 9000. O cara já passou pelo controle de qualidade de alguém e foi aprovado. Em um mundo de tanta gente sacana, a aliança tem o seu valor.

Aparece então a estonteante Palmer (Brooklyn Decker) na vida do Dr. Maccabee. Ele não precisou do golpe da aliança para levá-la para cama (nesse caso, para a praia). Mas por acidente, a loira acha o anel no bolso da calça de Danny e passa a pensar que está sendo enganada. Começa então a bola de neve de mentiras que se complica ao ponto de ser necessário forjar uma ex-mulher e seus filhos. No caso, a mãe solteira assistente de seu consultório Katherine (Jennifer Aniston) e seu casal de filhos.

As risadas vêm das situações nonsense a que uma mentira pode levar. Vão todos para uma viagem ao Havaí em família. De comédia romântica para férias em família. E gradativamente, aquela mulher lindíssima com o corpo magnífico pela qual Danny apronta toda essa teia de mentiras começa a perder a graça. Aquele furacão de mulher capaz de tirar o fôlego do espectador a cada take em que desfila de biquíni, começa a se tornar desinteressante ao passo que Katherine é sempre agradável. Danny começa a analisar qual o real valor de investir tanto em uma pós-adolescente fã de N’Sync. Contraste com a trilha sonora que permeia o filme que é composta basicamente de canções de uma das grandes bandas dos anos 80 (The Police). Aqui fica um protesto meu pois o filme seria muito mais charmoso se as músicas fossem as originais e não remixes lounge dos sucessos da banda.

Nicole Kidman aparece no filme como antiga amiga chata de Katherine.Assim como Jennifer Aniston só faz sucesso nas comédias, Nicole Kidman não se sente confortável nesse gênero. Não se destaca e tem o mesmo efeito de um não ator. Dave Matthews. Isso mesmo, do Dave Matthews Band. É o marido de Nicole Kidman no filme. Melhor seria o Dave voltar a tocar com sua banda e Nicole a fazer dramas. Não por atuarem mal mas pela impressão de que poderiam ser melhor aproveitados.

Comédia que segue uma fórmula de previsibilidade. Era exatamente isso que queria para um feriado. Seu sucesso vem pelas pitadas de bons sentimentos ao longo do filme. Amor, família, amizade e conquista. Tempero para uma vida agradável. Talvez é por isso que não reluto em ver filmes considerados bobos por muitos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

127 Horas - 127 Hours (2010)


As cores vibrantes e o ritmo frenético da edição inicial de 127 Horas nos chamam para vivermos uma aventura, no popular clichê, radical. O desfiladeiro Blue John Canyon é a perfeita opção aos que se sentem presos a uma rotina hermética e controlada. Aron Ralston (James Franco) não avisou a ninguém o seu destino. Deixa as coisas acontecerem. Um easy rider do perigo até então inofensivo.

Dizem que ao se viver uma situação iminente de morte, é passado um filme em nossa cabeça sobre os fatos importantes de nossa vida. O diretor Danny Boyle usa as 127 horas mais tensas da vida de Aron Ralston para compor o filme.

O roteiro é simples demais. Um alpinista preso acidentalmente por uma rocha. Solidão forçada em uma contagem regressiva para a morte. Um rapaz todo cheio de si vítima de uma peça pregada pela natureza. Arrependimentos, alucinações e desesperança compõem o universo do filme. Tudo a favor de estarmos diante de um filme monótono e enjoativo. Danny Boyle mostra como é grande diretor. Faz o filme ser belo com uma composição de imagens e efeitos sonoros tão afinados quanto a atuação de James Franco.

Aron Ralston não chora em momento algum e transmite com muita emoção o sentimento amargo de vítima de uma fatalidade tão idiota. Parecia haver motivo de aquela rocha estar ali. Rocha que se torna inesquecível assim como é descrita a protagonista do poema de Drummond “No Meio do Caminho”.

sábado, 11 de junho de 2011

Fenda no Tempo - The Langoliers (1985)

Stephen King é conceituado como mestre do suspense e terror. Realmente suas obras literárias são instigantes em grande parte. No caso de Fenda no Tempo, uma minissérie de apenas dois capítulos transformada em um telefilme, o resultado final faz de Stephen King um autor questionável em relação ao título de mestre.

Logo de início a fotografia de telefilme desestimula. Cores vibrantes não combinam com terror. O diretor Tom Holland não se preocupa com isso e compõe um cenário de extremo mal gosto. Tudo isso dentro de uma indefinição quanto ao gênero da película. Não é terror, não é suspense, não é ficção científica, não é trash. A intenção e resultado de colocar tais elementos no mesmo filme é quase a mesma frustração de uma criança ao misturar guaraná com coca-cola.

A premissa do filme é interessante. Em um vôo noturno, passageiros desaparecem misteriosamente do avião. As dez pessoas remanescentes, que estavam dormindo, se deparam diante de um mistério. Bob Jenkins (interpretado pelo veterano Dean Stockwell) é o alter ego de Stephen King. Teorias com questões metafísicas absurdas são aventadas a cada momento pelo escritor que recebe a colaboração dos outros passageiros, como se o conhecimento da cultura nerd sci-fi fosse algo de domínio publico.

A caracterização dos personagens é ruim. Estereótipos sobram a ponto de não haver sequer um personagem interessante. Aqui vai o destaque para a chatice de uma menina cega pré-adolescente que parece ter algum poder psíquico. Craig Toomy é um executivo tresloucado com traços esquizóides. É tão ridículo que é engraçado. O ator Bronson Pinchot deve ter se divertido à beça ao interpretá-lo. Através dele é que nos familiarizamos com o termo Langoliers (título original em inglês). Seriam monstros que devoram crianças preguiçosas e de notas ruins no colégio. São peludos, cheios de dentes e pés para alcançar tais crianças.

Qual a relação entre os elementos iniciais e instigantes do filme têm com esses monstros? Talvez o título em português conseguiu superar o original dessa vez. Todo o clima claustrofóbico e misterioso dentro do avião some para podermos entrar em um filme cheio de efeitos especiais toscos que provavelmente são incompatíveis com as descrições do livro.

Uma estória para impressionar. Não pela criatividade e roteiro e sim pela falta de respeito a Stephen King. O pior de tudo é que o mesmo faz uma ponta no filme. Sinal do tanto que sua literatura se vende facilmente.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Minha Versão do Amor – Barney’s Version (2010)

O criado-mudo da cena inicial já mostra que não estaremos diante de uma comédia romântica. Restos de charuto, copo de whisky e mãos que tateiam um teclado de telefone. As mãos são de Barney (Paul Giamatti), responsável pela versão dos acontecimentos que iremos presenciar.

Tentar expor uma sinopse do filme é fazer com que o mesmo perca seu encanto. O que posso dizer é que trata-se de um filme tão intenso quanto Barney. Relacionamentos podem ser maravilhosos e repugnantes. Para alguns, Barney é uma Midas às avessas mas não para as pessoas que provaram seu amor enquanto uma pessoa apaixonada. A música que o acompanha no filme (I'm your Man de Leonard Cohen) é a representação de um homem possuído pela paixão.

O amor incondicional às vezes não é suficiente. Qual a explicação disso? Deixemos de lado a racionalidade. Alguns relacionamentos são fadados ao fracasso mesmo havendo amor por ambas as partes. Barney amou e foi amado, odiou e foi odiado. É uma pessoa sem máscara assim como todos nós na essência.