sábado, 28 de maio de 2011

A Centopéia Humana – The Human Centipede (2009)


Um aviso. Caso assista ao filme, não me vincule a ele. Tenho certeza que para a maioria do público, o mais salutar é nem pensar que uma idéia assim possa ser concebida. Assistir a isso será, então, muito pior. As implicações práticas e anatômicas (escatológicas) resultadas são repugnantes. Só o ato de recordar o filme é desagradável.

O título é de um trash comédia. A fotografia é de um slasher oitentista. O enredo assemelha-se a de O Albergue. Nada disso. A centopéia humana é um terror ousado.

Duas americanas viajando pela Europa. Transmitem uma empolgação contagiante e charmosa. Prato cheio para um assassino qualquer em um filme de terror banal. Em busca de uma festa, acabam se perdendo em uma estrada à beira de uma mata. O pneu do carro fura e não sobram muitas alternativas. Nenhuma sabe trocar o pneu. Ficam entre esperar o dia amanhecer ou procurar ajuda, mesmo não sabendo falar alemão. Acham, então, um refúgio. A casa de um alemão (Dieter Laser) carrancudo. Os clichês do terror vão desqualificando o filme a ponto de quase confirmar a minha suspeita de que um filme chamado A Centopéia Humana não poderia ser sério.

Em segundos de diálogo o alemão logo profere a frase: Eu não gosto de seres humanos. As duas garotas são capturadas com o clássico “boa noite cinderela” e acordam presas em uma enfermaria no porão da casa. Logo pensei, filme de tortura. Quase acertei.

O alemão (Dr. Heiter) é um renomado cirurgião especialista em separar gêmeos siameses. O termo centopéia humana finalmente tem sentido quando o médico explica para suas vítimas que sua linha de pesquisa é fazer justamente o contrário do que o fazia famoso. Agora ele quer juntar seres humanos.

A palestra proferida pelo misantropo psicopata é a essência da ousadia do terror sugerido pelo filme. As vítimas (duas jovens americanas e um japonês capturado posteriormente)têm a plena noção do que está acontecendo. Um desenho simples a eles mostrado talvez seja uma das imagens mais assustadoras do terror contemporâneo. Trata-se da esquematização de como os jovens serão unidos, considerando os orifícios por onde entram e saem os alimentos nos humanos. O final de um com o começo do outro. Desculpas ao leitor desse texto pois mesmo tentando não consigo aqui usar mais eufemismo.

O sofrimento dos três jovens é muito pior que o vivenciado por Gregor Samsa no clássico da literatura A Metamorfose. No livro, o protagonista após uma noite de sonhos inquietos dá por si que se transformou em um inseto gigante. No filme, não há sonho. Tudo é real e explicado precisamente pelo médico.

Temos então um conjunto de três pessoas unidas cirurgicamente com apenas duas extremidades. Quem fala é o jovem japonês em uma excelente atuação de Akihiro Kitamura. As jovens vêm atrás. Impossibilitadas de gritar, atuam pelos olhares desesperados diante da condição tão improvável e degradante. Diferente das scream queens (divas do terror que são lembradas por seus gritos como Jamie Lee Curtis do filme Halloween), as garotas operadas apenas sussurram. Ouso dizer que são as únicas whispers queens do terror. Termo que acabeo de inventar.

A caracterização do protagonista destrói o filme. Nacionalidade, vestimentas e atitudes do Dr. Heiter fazem dele um provável nazista. Sendo assim, é uma caricatura que ameniza uma possível veracidade. O exagero de interpretação faz com que o espectador não leve o filme tão a sério e não embarque em sua idéia. Aliás, tentar se convencer que um filme não assusta é a principal arma daqueles que colocam o terror como gênero menor do cinema. Agem como pai e filho ao mesmo tempo. Falam para si: “calma meu filho, é apenas um filme”.

A luta para escapar do médico é o que menos importa. Assustadora é a condição irremediável de humilhação. Os sentimentos dão lugar aos instintos.

Um filme doente, marcante e, talvez, desnecessário.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Passei um bom tempo sem escrever aqui. Vi alguns filmes. Deixei minhas anotações sobre cada um no meu caderno surrado. Fato é que lendo esse fluxo desordenado de idéias e impressões não consigo mais escrever sobre eles. Aquela sensação que cada filme deixa se perdeu. Algo como não ter mais o gosto de um bom café na boca.

Vou listar aqui os filmes que não serão comentados. Talvez volte a vê-los para emitir algo sincero. Uma pena. Tinha muito a dizer. Mas não ter o filme vivo em minha mente deixa o ato de escrever muito sem graça.

Os relegados foram:

- O Discurso do Rei

- O Vencedor

- A Origem

- Bravura Indômita

- O Turista

- Bruna Surfistinha

- Sinédoque Nova York

- Jack e Chloe – Um Amor por Acaso

- Velozes e Furiosos 5

Como diria o Governator .... http://youtu.be/M1ypn0y32Ac