domingo, 4 de maio de 2008

Youth Without Youth (2007)



Francis Ford Copolla ficou dez anos sem filmar. Parecia que suas idéias haviam acabado. Atitude digna de um diretor que mostra não ser um mercenário. Famoso por se dedicar à produção e direção de seus filmes, Coppola leva a fama de um diretor intenso. Apocalipse Now foi um marco em sua carreira e fez o cinema fazer uma auto-reflexão sobre as conseqüências de uma arte vivida intensamente, física e psicologicamente dilaceradora. Copolla deixou de lado a direção. Os últimos anos serviram de deleite para o pai que viu sua filha, Sofia, se tornar uma grande diretora.

Youth Without Youth fala da vida de um professor universitário que estuda e busca entender as origens da fala e da comunicação humana. Um raio o atinge. O professor acorda rejuvenescido e com suas capacidades mentais amplificadas. A explicação seria uma mutação por eletrocução. O professor passa a se tornar objeto de estudo da ciência. Sofrendo de uma espécie de hipermnésia, é atormentado por um amor antigo e por sua própria consciência.

Falar mais sobre o filme seria injusto com quem irá vê-lo. A impressão que me ficou é a de que Coppola está tentando mudar seu jeito de filmar. Seus filmes já não são mais obras de arte. Ele parece assumir uma nova onda de diretores que se inspiram em David Lynch (filmes cheios de mistério em um clima de sonho). O problema de Coppola é tentar explicar o filme demais. Disso ele não precisava assim como não precisa explicar à crítica especializada o porquê da mudança tão radical da sua técnica cinematográfica.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Senhores do Crime - Eastern Promises (2007)



Filme de complexidades de relacionamentos. A base é a Vory v Zakone (máfia russa) e suas particularidades. O ambiente são os bairros russos em Londres.Um bebê traz inquietação aos personagens do filme.

Naomi Watts é Anna. Trabalha em um hospital. Sua vida muda quando faz o parto de uma garota estuprada de 14 anos. A garota morre e deixa o bebê e seu diário. Anna se compromete em buscar as causas do acontecido e mergulha sem querer nos meandros da máfia russa.

Viggo Mortensen é Nikolai. Motorista e capanga de Semyon (Armin Mueller-Stahl). Traça uma relação de lealdade com seu chefe que não tem em quem confiar. Seu filho Kirill (Vincent Cassel) é incompetente e frágil. Rumores sobre sua homossexualidade frustram seu pai. Seymon sabe que está só e não tem mais idade para isso.

A direção é do canadense David Cronenberg. Um realizador do submundo. Sempre foge do convencional. Poderia neste filme trilhar um paralelo com a máfia italiana ou japonesa. Mas não, prefere aprofundar nos personagens. Viggo Mortensen é seu principal foco. Quem mais se transforma. E são assim os principais personagens de Cronenberg: pessoas em transformação.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Rambo IV(2008)



Confesso que lembro pouco dos três primeiros filmes. Assisti na infância sempre na TV. A maior lembrança que tenho é um boneco articulado da Glasslite “Rambo Lança Chamas”. Era o máximo! Você apertava um botão em sua na mochila e o dispositivo lança chamas era acionado! Já incinerei muitos inimigos imaginários na pele de John Rambo.

A crise de identidade de Sylvester Stallone é notória. Longos períodos sem filmar e recorrendo a antigos sucessos para se sentir vivo. Esse tem sido o cotidiano de um ator/diretor que ainda não se encaixou nesse século e que parece uma alma penada de outrora.

O filme é péssimo quanto ao seu argumento. As frases feitas e jargões maltratam o espectador. Stallone luta em sua direção para tornar o filme convincente e só consegue quando cala a boca e começa a destruir. Nisso ele é bom. Junto a um exército de mercenários (gente “casca-grossa”) vai à Birmânia para resgatar um grupo de missionários. O porquê disso? Pelo charme da moça que integra o grupo ou pelo gosto de sangue de John Rambo há anos insaciado?

Como filme de ação Rambo 4 se aproxima do slasher, da carnificina. É o principal atrativo do filme. E podem me criticar porque gostei até do banho de sangue (talvez por influência do meu pai que tanto adora os filmes de pancadaria e tiroteio sem diálogos).

Sylvester Stallone não tem o boneco da Glasslite e sim um filme na mão e assim tenta eliminar seus inimigos, dentre eles o fantasma do sucesso dos filmes de ação do passado.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Um Conquistador em Apuros - Loveless in Los Angeles (2007)



Continuando a saga de filmes ruins, vamos agora a esse americano que tem o poster ao estilo American Pie. As semelhanças param por aí. Filme sobre colegas de colégio sempre apaixonados que pelas circunstâncias nunca tiveram oportunidade em se revelar. Resultado disso? Um homem amargo que não tem problemas em conquistar mulheres e uma mulher que ainda acredita no seu antigo amor mesmo tendo encarado um casamento nesse meio tempo.

É filmado em digital e algumas cenas parecem caseiras. O interessante do filme é a abordagem do homem para conquistar as mulheres e as diversas teorias que envolvem a aproximação. Trata-se daquela típica conversa que sempre temos com os amigos quando estamos interessados em alguém.

Idéia batida e mal desenvolvida.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Uma Namorada dos Diabos - Phileine zegt sorry - Phileine Says Sorry (2003)




Comédia holandesa sobre garota que vai de Utrecht para Nova Yorke atrás de seu namorado. O rapaz recebe uma oportunidade de atuar no teatro americano e não titubeia. Sem consultar sua namorada, decide por seu destino.

O filme é na perspectiva da jovem Phileine (Kim van Kooten). Há tempos não via um filme com uma personagem tão irritante. Incapaz de admitir seus erros, Phileine deixa suas pérolas de mau humor durante todo o filme. Trata-se de um tipo de comédia que não estou acostumado e que não me agrada.

O filme é fruto da nova linha de cinema independente da Holanda. Reflexo do fim do incentivo estatal no país.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Seres Rastejantes – Slither (2006)



Filme de terror com forte influência dos anos 80. Direção de James Gunn, roteirista do excelente remake de “Madrugada dos Mortos” e cria da Troma (produtora americana de filmes trash), que aborda a invasão de lesmas alienígenas parasitas obrigatórias !?!? O absurdo da história é encarado com descontração em um filme divertido e despretensioso.

Citar referências em filmes de terror só agrada aos fãs do gênero. James Gunn não é diferente e constrói uma obra que é toda de referência e que pode passar despercebida para um espectador não inteirado. Desde um trecho de Vingador Tóxico (maior clássico da Troma) que passa na TV até sobrenomes de grandes mestres do terror que batizam seus personagens, o filme vai bebendo de todas as referências possíveis durante toda sua projeção.

A invasão alienígena toma conta de uma cidade do interior que está vivendo uma festa de caçada ao cervo. Um casal tem uma noite ruim. O marido Grant (Michael Rooker) sai para beber e refletir e é atacado pelas lesmas. Seu comportamento e fisionomia mudam. Coisas estranhas começam a acontecer na cidade até o momento em que a esposa Starla (Elizabeth Banks) e uma equipe de policiais constatam que Grant se tornou um monstro. Os cervos já não são mais o alvo da caçada e sim Grant. Starla se junta à equipe que segue Grant e jura votos eternos de casamento.

Daí em diante, vemos uma chuva de sangue e gore com muitas pitadas de humor. Destaque para o prefeito interpretado por Gregg Henry. Politicamente incorreto é o mais hilário da fita. Os diálogos mantêm o filme sempre engraçado. A direção é segura com uma câmera ágil e precisa e o objetivo final, diversão, é atingido com êxito.

Melhor tática escolhida por James Gunn foi não querer levar-se a sério em momento algum do filme. Imagino a diversão que deve ter sido o set de filmagens.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ódiquê? (2004)



Dois motivos levam três jovens cariocas de classe média fazerem uma viagem pela noite do Rio de Janeiro, do Leblon à Barra. Tirar satisfações com um traficante que vendeu folha de bananeira em lugar de maconha e tentar conseguir dinheiro para passar o carnaval em Arraial d’Ajuda. Para o segundo, os jovens recorrem a um colega de classe alta, filho de deputado e dono de um Jaguar.

Assustador é notar a simpatia pelo quarteto marginal. As iniciais conversas recheadas de xingamentos são divertidas (devem desagradar, porém, os não simpatizantes de cariocas). Mas a proporção que a noite toma torna-se aterrorizante. Os próprios jovens têm lampejos de consciência quando tentam desaconselhar o colega a cometer uma atrocidade. Vão deixando seu rastro de sujeira e inconseqüência numa atitude cheia de malícia que beira à brincadeira. O diretor Felipe Jofilly mostra os jovens com personalidades diferentes sem estigmatizá-los apenas como “pitboys” (termo recorrente na imprensa).

O filme tem a cara do Rio de Janeiro e a história em qualquer outro lugar pareceria falsa. Ser espectador é estar no Rio. É viver suas gírias e o jeito peculiar de tratamento entre seus moradores. Os diálogos são tão reais que até erros de fluência de fala tornam as cenas mais verossímeis. Não há frases feitas. São impulsivas assim como as atitudes dos jovens. Mérito do diretor estreante de apenas 30 anos.

Ótimo filme com um final desastroso. Não sou de ficar criticando finais e escolhas de caminho do roteiro mas o desfecho do filme significou desmerecer muitas das constatações de um retrato verdadeiro e cruel da juventude que transgride pelo desrespeito e violência. O único final que me desagradou significativamente foi o de “Encaixotando Helena” e ainda estou a concluir se o de Ódiquê? também jogou tudo por água abaixo.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

No Limite das Emoções - Ricordati Di Me (2003)



Filme italiano de Gabriele Muccino que dirigiu “À Procura de Felicidade”. Will Smith o procurou depois de conferir suas produções (inclusive esta do post) nos últimos anos. O resultado foi um filme que tinha tudo para ser piegas, ou é, mas que é emocionante.

“No Limite das Emoções” é bem diferente de “À Procura da Felicidade”. Nem parecem filmes do mesmo realizador. A produção italiana foca no cotidiano de uma família italiana de classe média. O pai de família Carlo (Fabrizio Bentivoglio) está cansado. A vida de casado já é um tédio. O encontro com uma ex-namorada (Mônica Bellucci) desperta e renova a ponto de arriscar o casamento e sua estrutura familiar. A esposa (Laura Morante) quer voltar a ser atriz. É insegura em tudo que faz. Já não tem o afeto do marido, nem o respeito dos filhos. Fragilizada, é vulnerável à opinião e atitude alheia. A filha (Nicoletta Romanoff) é a mais determinada. Seus alvos são fama, dinheiro e glamour. Para ela, uma coisa leva a outra. Sabe do potencial de sua beleza e de seu corpo e não hesita em usá-lo. O filho (Silvio Muccino) é um adolescente apaixonado. Quem não teve uma paixão na adolescência? A do rapaz é a não correspondida. A qual a moça, motivo de seus sonhos, tem consciência do fato e pouco se importa. A indiferença o faz sofrer. E, fora do núcleo familiar, Alessia (Monica Bellucci). Também casada e abalada desde o encontro com Carlo. Tentada a trocar o seguro pelo incerto. Carlo a faz sentir jovem e amada.

Laços familiares. Cinco pessoas com personalidades distintas. Distinção pelo distanciamento. Incomunicabilidade. Os diálogos são frenéticos assim como o ritmo de suas vidas. A família não é mais o ponto de apoio. E o que resta é a individualidade e a procura cega por correspondência afetiva.

Os atores seguram o filme para que o mesmo não vire uma telenovela. Perigo que o diretor corre por flertar quase o tempo todo com esse gênero.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Meu Nome não é Johnny (2008)



“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos (...)” Marguerite Yourcenar

A frase é citada pela juíza (interpretada por Cássia Kiss) em um cartão de natal a João Guilherme Estrella. Ela apostou tudo em sua regeneração e conseguiu. Os dizeres do cartão remetem a um resgate de valores do condenado em que a juíza acredita. As primeiras pátrias da escritora belga da citação foram os livros e em menor escala, a escola. A juíza deixa para João Estrella pensar sobre suas primeiras pátrias e avaliar o resultado da falta de limites em sua vida. Hoje João Estrella é produtor musical e pessoa cheia de histórias para contar.

Selton Mello é João Estrella, garoto típico da zona sul do Rio. Tem tudo. Inclusive a tolerância dos pais que são da geração em que a liberdade é fundamental para a construção do ser humano. João se aproveita disso. Seu carisma o torna querido. A cocaína, que tanto gosta, passa a lhe trazer dinheiro. Prazer e dinheiro passam a reger uma vida de luxo. Uma aventura sem conseqüências até o momento em que é preso por tráfico de drogas.

Preferi o filme ao livro. É divertido e com uma edição inteligente. Foge do banal. Nunca imaginaria Selton Mello na pele de João Estrella. Sempre pensei que escolheriam um carioca “marrento” para o papel. A escolha de Selton foi arriscada e muito feliz. O filme é um acerto na produção nacional.

Detalhe: vi o filme há um mês e até agora estou rindo da cena em que o preso “pilhado” na cadeia arruma confusão com os africanos!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Alpha Dog (2006)




Filme escrito e dirigido por Nick Cassavetes. Filho de John Cassavetes e Gena Rowlands. John é considerado o pai do cinema independente americano. Seu filho, o novo diretor, já tem doze anos de carreira e ainda não se firmou como nome de peso. Alpha Dog é seu segundo trabalho que confiro. Vi no cinema há uns 10 anos “Loucos de Amor” e as lembranças que tenho são boas. Ótima atuação de Robin Wright e seu marido Sean Penn.

Alpha Dog é sobre um grupo de adolescentes (classe média americana). Consumidores e traficantes de drogas que se envolvem em brigas banais, próprias da adolescência porém com conseqüências trágicas. A trama do filme se desenvolve em três dias. Johnny Truelove (Emile Hirsch) se envolve em uma rixa com Jake Mazursky (Ben Foster) e resolve seqüestrar seu irmão de 15 anos Zach (Anton Yelchin) para obrigá-lo a pagar uma dívida. O interessante é que Zach se afeiçoa por seus seqüestradores. Sempre tolhido por sua mãe superproterora (Sharon Stone), Zach se depara com uma síndrome de Estocolmo voluntária. Toda a delícia da juventude poderia ser oferecida por aqueles que o seqüestraram e os três dias de convivência com esse pessoal lhe oferecem as maiores emoções vividas por ele até então.

Nesse contexto destaca-se a importância do papel de Justin Timberlake. O queridinho da América se aventurando no cinema. Essas iniciativas chegam a ser irritantes. Mas sua atuação vale o esforço. Timberlake é quem segura o filme talvez frágil pela a falta de precisão de seu diretor. Traça uma relação de amizade com Zach e mostra sem maniqueísmos que certas situações levam uma pessoa de boa índole a ser um bandido.

Já em relação aos atores mais experientes, destaque para o velho e sempre bom Harry Dean Stanton (parceiro de David Lynch e de Wim Wenders). Bruce Willis está apagado no filme. Sharon Stone mais uma vez faz um papel com choros escandalosos que já está virando marca registrada da atriz de 50 anos que não pode mais apelar para seu corpo para garantir os papéis (para isso temos uma seleção de beldades que atua no filme).

Decepção maior foi atuação de Emile Hirsch (“Um Show de Vizinha). Ele é fraco o tempo todo no filme e faz o filme parecer um episódio de “Malhação” no mundo das drogas. Talvez isto sirva de lição para o diretor que gosta tanto de repetir os atores entre uma produção e outra.

Visualmente o filme é bem legal e é uma boa diversão. Erro é esperar do sobrenome Cassavetes algo maior.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

The Amazing Mr. No Legs (1975?/1981?)



Filme B de ação em que o protagonista é um cadeirante. Isso mesmo! Só de imaginar a existência de um filme com esse título já começo a rir.

A trama gira em torno da morte da irmã de um policial. Um acidente que passaria despercebido se o envolvido na morte da moça não fosse um traficante de drogas. Mr. No Legs não deixa barato e mata o sujeito de imediato para a investigação não desvendar o esquema de tráfico do qual faz parte.

Mr No Legs faz parte de uma organização criminosa envolvida no tráfico de cocaína. Seu chefe tem ligações com a polícia e é intolerante. Mas Mr. No Legs não aceita ser mandado. É ranzinza o filme inteiro e suas ações são inconseqüentes. É um anti-herói típico. Sua cadeira de rodas é equipada com armamentos pesados além de estrelas ninja. E não pára por aí. Mr No Legs é mestre em artes marciais e quando se vê encurralado distribui pancada com direito a gritinho kung fu.

Uma dupla de policiais (um deles irmã da moça assassinada) está no encalço dos traficantes. Todo o desenrolar do filme gira em torno de investigações ao estilo policial anos 70 (dupla de tiras, perseguições alucinantes, várias situações de perigo) e alguns diálogos são hilários.

O filme tem três cenas antológicas. Uma é a briga à beira da piscina (postada logo abaixo) em que Mr. No Legs arrepia geral. A segunda é quando o policial descobre que sua irmã foi assassinada e vai para o bar se embebedar ao som da romântica música “I Still Remember Love” com desempenho ao vivo da banda Mercy. Outra é uma briga de bar que faz inveja a qualquer faroeste. Tem de tudo nessa briga! Mulher jogando copo de cerveja na cara da outra para depois se arrastar no chão num duelo de puxões de cabelo que termina com um enforcamento por um fio de orelhão; Mr. No Legs sorrateiramente esfaqueando uma donzela; um travesti desmascarado acertando a garrafa na cabeça de seu amante; um gordo (dono do bar) usando sua pança para derrubar os adversários e um anão fica só agitando a briga! Todo esse circo de horrores ao som de um rock anos 70 bem legal.

Mais uma pérola do cinema tosco. Diversão para os adeptos.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Persépolis (2007)




Desde que li “Maus” minha concepção sobre o mundo das histórias em quadrinhos (HQs) mudou. Até então era fã de histórias como “O Cavaleiro das Trevas” e “Watchmen”. “Maus” mostra os horrores da Segunda Guerra Mundial. Judeus são representados por ratos, alemães por gatos, americanos por cachorros e poloneses por porcos. Trata-se de uma excelente obra literária. Tanto que ganhou prêmio Pulitzer de melhor livro.

Persépolis se assemelha muito a “Maus” não pelo conteúdo e sim pelo formato. Prioriza o contraste forte entre o preto e o branco. É também uma obra literária de grande valor. O cunho é autobiográfico. Conta a história de uma garota iraniana que sonha em mudar o mundo e as décadas de 70 e 80 no Irã são contadas a partir de sua perspectiva. Uma menina de classe alta com uma família estruturada vê-se privada de prazeres do mundo ocidental por uma ditadura religiosa. Uma jaqueta punk, uma fita do Iron Maiden, um tênis Adidas, uma garrafa de vinho na festa. Gostos pessoais e busca de uma identidade são tolhidos na infância e adolescência da protagonista.

Sentindo o potencial caráter subversivo da moça, seus pais a mandam para Áustria na tentativa de evitar que a filha tenha o mesmo destino de seus parentes inconformados. Sua passagem pela Europa é retratada sem glamour. O desconforto e insegurança da adolescência são externados através de seus relacionamentos incertos e tumultuados.

O mérito de Persépolis é ser fiel a uma história sem cair na tentação de torná-la encantadora. O humor vem daí. Uma adolescente em busca de identidade. Um tema universal contado em um país que reprime a individualidade. É um hino contra o preconceito e as generalizações.

Ganhador do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes em 2007

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Climax – Gusano Mecanico (1974)




Banda de rock progressivo boliviana. Incrível a qualidade desse power trio que mistura solos de guitarras agressivas com levadas progressivas de jazz rock e de fusion. Tanto a data do disco como a sonoridade da banda nos remetem a influências como Black Sabbath, Jimmi Hendrix, Santana e Pink Floyd em início de carreira. O álbum é composto de seis músicas que bebem do hard e do progressivo. Já os bônus vêm com excelentes levadas de rock n’roll clássico e blues. Destaque para cover de Steppenwolf “Nacido Para Ser Salvaje” (Born to be Wild), Jimi Hendrix “Fuego” (Fire) e Cream “El Resplandor de Tu Amor” (Sunshine of Your Love).

A capa do álbum é uma referência aos trabalhos do artista gráfico holandês Maurits Escher cheio de paradoxos visuais. Prato cheio para os amantes da psicodelia.

Mal dos Trópicos - Sud Pralad (2004)



“Todos nós somos feras selvagens por natureza. Nosso dever como seres humanos é tornarmos adestradores que mantêm seus animais sob controle e até os ensinam a cumprir tarefas distantes da bestialidade”

Com essa porrada do japonês Ton Nakajima em seu conto “A Besta Selvagem” o filme promete muita perturbação. Sensação que não é encontrada na primeira metade que é composta de uma relação de amor entre um camponês e um soldado. Vamos conhecendo o amor dos dois na mesma medida de um país tão distante para nós: a Tailândia. É no cotidiano de uma cidade tailandesa que vamos nos acostumar com o ritmo da película (assim com o idioma falado) que segue um padrão na primeira hora. Idas ao cinema, refeições com a família, saídas noturnas e ternura que termina em um plano seqüência com um dos amantes enamorado passeando com uma moto.

Agora a situação é outra. Tong (o camponês) desaparece. Keng (o soldado) ouve de vizinhos que há um monstro devorando vacas na região. A serenidade de Keng some. Ele que se mostrou sempre mais compromissado e pressionado na relação decide se infiltrar na selva. Uma estranha sensação se apodera do coração do soldado. Contra quem ele luta? O que ele busca? Existe um tigre. Será ele um fantasma? A besta selvagem? Ou seu amado Tong?

Poético filme do tailandês Apichatpong Weerasethakul (ou “Joe”, ufa, como ele mesmo gosta que o chamem) requer compromisso do espectador. Choque estético e cultural. O cinema de Joe remete ao do italiano Michelangelo Antonioni. Fala da ausência, da angústia e da dificuldade de comunicação

Ganhador do prêmio do júri em Cannes em 2004. Ano em que o júri foi presidido por Quentin Tarantino e em que o documentário de Michael Moore Farhenheit 9/11 ganhou Palma de Ouro de melhor filme. Isso mesmo. Desbancou além do concorrente tailandês, outras duas obras primas do cinema oriental (“2046” do chinês Wong Kar Wai e “OldBoy” do coreano Chan-wook Park). Nem a presidência do júri teve peso na escolha da Palma de Ouro. Tarantino, assim como eu, queria “OldBoy” como o maior prêmio. Seus colegas de mesa não deixaram e escolheram o polêmico Michael Moore para sair vitorioso. Como prêmio menor, “Mal dos Trópicos” levou prêmio da crítica do Festival Internacional de São Paulo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O Reino – The Kingdon (2007)





Filmes americanos que envolvem política internacional insistem em pecar no sentido da auto-afirmação. Desde os atentados de 11 de setembro, filmes com maior cunho político vêm surgindo na medida em que o trauma com a catástrofe diminui. Destaque para o emocionante filme de Paul Greengrass (“Vôo United 93”) que quando o assisti não esperava nada e foi uma grata surpresa. “O Reino” vem engrossar a lista.

Um atentado terrorista em zona residencial americana em Riad, na Arábia Saudita, desencadeia um incidente internacional. O FBI se prontifica a ir ao local e iniciar uma investigação imediata e é dificultado por governos americano e saudita.

A direção é do novaiorquino Peter Berg. Não conheço nenhum trabalho seu. Tecnicamente é muito bom e tem a cara de seu produtor, Micheal Mann (“O Informante”, “Colateral”), tão preciso em filmes que conseguem extrair sentimentos mesmo em cenas de um tiroteio banal. A câmera inquieta quase o tempo todo editada como uma metralhadora pode até deixar o espectador tonto e o filme em momentos se assemelha a um jogo de videogame da nova geração (os jogos de guerra são hoje a maior aposta da indústria dos games).

Os atores não deixam o filme cair. Chris Cooper faz o estereótipo do americano. Jaime Foxx sempre é boa escolha para filmes de ação. A dupla de atores Ashraf Barhom e Ali Suliman (do arrebatador palestino “Paradise Now” e do israelense “A Noiva Síria”) são o destaque do lado saudita. Interessante é a aproximação entre o coronel saudita Faris (Ashraf Barhom) e a equipe americana. Pessoa íntegra e pai de família, o saudita transforma a antipatia em amizade e consideração e o espectador simpatia pelos dois lados. A relação dele com Fleury (Jaime Foxx) faz lembrar filmes de policiais (como “Um Tira da Pesada”) em que parceiros de profissão obrigados por circunstâncias trabalham juntos e aprendem a se respeitar.

Apesar de um final com uma mensagem crua, sincera e realista; as aspirações de Peter Berg como um filme político param por aí. A película se torna ao todo um grande filme de ação, um potencial game de sucesso. Para quem não se contenta com isso, sugiro o palestino “Paradise Now”.


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Interpol – Our Love to Admire (2007)



Muitos falam que o segundo disco de uma banda surge como teste de qualidade. Não concordo. O segundo disco pode trazer idéias que não couberam no primeiro. O sucesso de um primeiro pode impulsionar a composição de um segundo e por aí vai. Já o terceiro disco não. O terceiro consolida a união de uma banda que agora já está acostumada a críticas.

Penso que agora o Interpol já se livrou das comparações e se firma por um estilo próprio. Estilo esse que sempre senti desde o início da banda mas que os críticos queriam rebaixá-lo a uma onda de revival anos 80 que teria o foco principal o Joy Divison.

O álbum começa muito elegante com Pioneer to the Falls semelhante ao seu álbum de estréia Turn on the Bright Lights que inicia com Untitled. Aliás, Untitled é o prenúncio de todo o tom soturno que acompanha a carreira do Interpol até hoje, de como ele chegará de surpresa quando estamos deprimidos. “A alma pode, então, espera”

As outras músicas que marcaram no álbum foram “Scale”, “The Heinrich Maneuver” e “Pace is a Trick”. O “Scale” traz o ritmo característico do Interpol e mostra cruezas de um relacionamento. “The Heinrich Maneuver” mostra uma visão política até antes não esboçada por essa banda de Nova Yorke e fala sobre a noite no ocidente. Provavelmente “Pace is a Trick" foi a música que mais escutei no ano passado. Todo o clima obscuro de suas guitarras e baixo está aqui, a sofrida voz de Paul Banks e as letras que mais uma vez mostram a inquietude humana.

Como terceiro álbum da banda, o Interpol convenceu apesar de o disco num todo não ter a mesma força que os dois antecessores. Aos felizardos que poderão ver a banda no dia 11 de março no Via Funchal em São Paulo boa viagem ao obscuro mundo do Intepol. Para mim, só resta lamentar o fato de um show em plena terça feira.

Site da banda: http://www.interpolnyc.com/

Vídeo – Pace is a Trick


Fora de Rumo – Derailed (2005)



Quando vi 1408 decidi que iria atrás do diretor sueco Mikael Håfström para ver outros trabalhos seus. Por acaso achei um de seus filmes nas madrugadas da HBO. É sua estréia em Hollywood e escolheu dois famosos como protagonistas (Clive Owen e Jennifer Aniston).

Trata-se de um publicitário (Clive Owen) que tem uma vida estável familiar e economiza dinheiro para um tratamento inovador de sua filha diabética. Estabilidade ameaçada em muitos aspectos a partir do momento que conhece Lucinda (Jennifer Aniston). Também casada e com filho. Os dois se entregam lentamente e passam pela estranheza da traição até o momento que são abordados por um marginal (Vincent Cassel) que inicia um jogo de chantagem pelo fato de o publicitário ser casado.

As atuações são razoáveis. Pontos positivos para Jennifer Aniston que mais uma vez deixa de escolher um papel água com açúcar querendo se livrar do estigma de boa moça. Já Vincent Cassel parece ter aceitado o papel apenas para ganhar uns trocados. Está estereotipado como francês e sua atuação é fraca em vista de todo o potencial que o ator já mostrou em seus trabalhos em sua terra natal (como Irreversível e O Ódio).

O roteiro tem altos e baixos. Quando penso que vai atingir a cretinice, o filme se recupera com seqüências boas. O filme garante surpresas e reviravoltas e acaba sendo interessante em alguns pontos. É, em um todo, irregular mas não é ruim. Talvez por inexperiência com o cinema americano e a real dificuldade que é fazer um thriller coeso.

Espero que o filme seja o início de uma crescente desse diretor sueco em Hollywood já que 1408 é posterior e bem melhor.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

The Bird People in China - Chûgoku no chôjin (1998)



Antes de falar sobre o filme preciso comentar um pouco sobre seu diretor. O japonês Takashi Miike é uma pessoa impossível de se imaginar antes de sua existência. Incrível é verificar que em 15 anos de carreira já concluiu mais de 70 filmes. Uma produção frenética assim como é a elaboração de seus filmes. A palavra que mais se encaixa em seu perfil é versatilidade. Dois temas são preferidos pelo diretor: yakuza e terror. Mas mesmo nessas duas linhas de cinema tão recorrentes no Japão, Miike filma com a coragem que ninguém mostrou até hoje. O que marca seus filmes é o impacto visual. Difícil ficar indiferente à obra de Miike. Vale lembrar que o diretor já passeou pelo drama, musical, épico, mangá, western(!!??) e tem até um filme com trechos em um bairro brasileiro com diálogos em português e uma rinha de galos feita em computação gráfica.

The Bird People in China fala sobre um funcionário japonês (Mr. Wada) que é convocado por sua empresa a ir para o interior da China em busca de pedras de jade (pedra ornamental típica da China). Junto com ele vai um yakuza (Mr. Shen)que tem ligações com sua empresa e aguarda as pedras como pagamento de uma dívida. Mal sabem que o que os aguarda é uma jornada de autoconhecimento pelo coração da província de Yun Nan na China.

O humor de Takashi Miike é diferenciado e ocasionalmente lembra seu conterrâneo mais famoso Takeshi Kitano com personagens desajeitados com flutuações de humor e supostos vilões carismáticos.

Cada personagem vivencia uma diferente sensação. Todas elas relacionadas com a mudança de seus cotidianos. Tanto os visitantes japoneses como os locais chineses são afetados por uma nova realidade vivenciada a partir de experiências não usuais que se contadas aqui estragariam toda a ação que reserva o inusitado do filme.

Em tempos em que o karoshi (morte por sobrecarga de trabalho) é um problema nacional japonês, nada melhor que um diretor tão produtivo como Takashi Miike para nos trazer um filme que fala muito de escapismo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Um Jogo de Cena (2006)



Através de um anúncio de jornal, mulheres são convocadas para depoimentos com a intenção de fazerem parte de um documentário. A intenção do diretor Eduardo Coutinho seria fazer uma coletânea de depoimentos reais e mostrá-los a atrizes para representação.

A grande sacada desse documentário/ficção é a forma como é editado. Se não fossem pelos rostos de algumas atrizes consagradas ou por revelações finais de cada depoimento de como é representar uma pessoa real, atrizes e não atrizes iriam se mimetizar confundindo-se ao longo da película. Tudo isso pela habilidade do diretor em deixá-las à vontade.

Cada atriz escolhe uma maneira singular de interpretar sua correspondente da vida real.

Eduardo Coutinho está de parabéns pela inovação. Mostra angústias, alegrias e decepções de mulheres, num relato emocionante, autêntico e sincero.


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

.45 - A Vitória é a Vingança (2006)



Estréia do diretor Gary Lennon nos cinemas. Escolheu a musa ucraniana Milla Jovovich para interpretar uma mulher que sofre nas mãos de um namorado bandido. Big Al (Angus MacFayden) é a personificação do machão. Canastrão em sua roupa de couro (estilo bad boy) que não que não se importa com a opinião alheia, inclusive de sua namorada. Tem rompantes de ciúme exagerado potencializado pelo uso de drogas. Mesmo apanhando, Kat (Milla Jovovich) continua apaixonada por Big Al apesar do inconformismo dos amigos. É a típica “mulher de malandro”.

O filme é contado através de depoimentos. O primeiro é da própria protagonista que enfatiza o tamanho do membro de seu namorado. O diretor tenta criar um clima cool mas erra demais em diálogos desnecessários. Assim como a nudez gratuita da atriz. A forma como Milla é exposta no filme me faz pensar que a mesma está disposta em acertar em um papel denso. Não é desta vez que consegue.

Desastrosa é a maneira como é abordada a redenção de Kat. Aprende que para conseguir o que quer basta usar a tríade de atributos femininos “lips, hips and tits” (lábios, quadris e peitos).

Nenhum dos atores tem carisma. O filme parece uma denúncia da violência contra a mulher e de suas implicações.

Filme elogiado pela crítica que me faz preocupar com os caminhos que o cinema independente americano está tomando.

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford - The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (2007)



O novo filme de Brad Pitt já vem estereotipado por dois fatos. A extensão da projeção e de seu título. É um filme que vem antecipado por polêmicas. Pitt e o diretor Andrew Dominik brigaram muito na montagem do filme. Todo o preconceito por filmes longos e lentos de um público americano ávido por tiroteio e resolução de tramas era o que Brad Pitt quis evitar. Mas o inexperiente diretor não queria ceder e parece que em parte conseguiu. O filme é lento e cheio de paisagens. Mas não é demérito da película.

Robert Ford é o assassino da tragédia já anunciada. Interpretado por Casey Affleck, nutre um sentimento dúbio a Jesse James (Brad Pitt). De idolatria a decepção, o ator consegue passar toda incerteza de sentimentos em relação ao bandido mais famoso da época nos Estados Unidos. Sua atuação é marcante e diferenciada.

Brad Pitt fez um bom papel. Arrebatou o Leão de Prata (melhor ator) em Veneza. Apesar de ser cheio de atuações memoráveis, Pitt não se deixa ofuscar pelos outros atores e convence.

Já Sam Rockwell (irmão de Robert Ford no filme) dá um show de interpretação. Começa aparecendo como o irmão mais velho, inseguro e medroso. Pressente a tragédia. O assassinato o transforma. Sublime atuação!

Outros destaques do filme são a fotografia e a trilha sonora. Quem assina a fotografia é Roger Deaknis (de “A Vila” e “Kundun”). Capta cenas através de vidraças distorcidas e ângulos inesperados gerando tensão que permeia toda a película em função das inesperadas reações de Jesse James. A trilha sonora também ajuda. Nick Cave (um australiano pra lá de sinistro que tem queda por abordar a morte) se junta a seu antigo parceiro Warren Ellis e dá um ar agradável e sombrio ao mesmo tempo. Quem conhece Nick Cave sabe muito bem do que estou falando.

Voltando ao assunto da extensão do filme. A pergunta que muitos fazem: Por que um filme tão longo para anunciar o fato já revelado no título? Mesmo com os quarenta minutos finais magníficos, penso que os 160 minutos são extremamente necessários. Só assim conseguimos nos acostumar com os personagens a ponto de não acreditarmos em mudanças de comportamento em outras oportunidades.

O grande mérito do filme é não querer copiar os westerns já consagrados e criar um próprio estilo. Estilo que o diretor mostrou antes de o filme ficar pronto. Lutou por suas idéias, mesmo pressionado por executivos que lucram com a massificação da cultura.