
Desde que li “Maus” minha concepção sobre o mundo das histórias em quadrinhos (HQs) mudou. Até então era fã de histórias como “O Cavaleiro das Trevas” e “Watchmen”. “Maus” mostra os horrores da Segunda Guerra Mundial. Judeus são representados por ratos, alemães por gatos, americanos por cachorros e poloneses por porcos. Trata-se de uma excelente obra literária. Tanto que ganhou prêmio Pulitzer de melhor livro.
Persépolis se assemelha muito a “Maus” não pelo conteúdo e sim pelo formato. Prioriza o contraste forte entre o preto e o branco. É também uma obra literária de grande valor. O cunho é autobiográfico. Conta a história de uma garota iraniana que sonha em mudar o mundo e as décadas de 70 e 80 no Irã são contadas a partir de sua perspectiva. Uma menina de classe alta com uma família estruturada vê-se privada de prazeres do mundo ocidental por uma ditadura religiosa. Uma jaqueta punk, uma fita do Iron Maiden, um tênis Adidas, uma garrafa de vinho na festa. Gostos pessoais e busca de uma identidade são tolhidos na infância e adolescência da protagonista.
Sentindo o potencial caráter subversivo da moça, seus pais a mandam para Áustria na tentativa de evitar que a filha tenha o mesmo destino de seus parentes inconformados. Sua passagem pela Europa é retratada sem glamour. O desconforto e insegurança da adolescência são externados através de seus relacionamentos incertos e tumultuados.
O mérito de Persépolis é ser fiel a uma história sem cair na tentação de torná-la encantadora. O humor vem daí. Uma adolescente em busca de identidade. Um tema universal contado em um país que reprime a individualidade. É um hino contra o preconceito e as generalizações.
Ganhador do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes em 2007
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