
“Todos nós somos feras selvagens por natureza. Nosso dever como seres humanos é tornarmos adestradores que mantêm seus animais sob controle e até os ensinam a cumprir tarefas distantes da bestialidade”
Com essa porrada do japonês Ton Nakajima em seu conto “A Besta Selvagem” o filme promete muita perturbação. Sensação que não é encontrada na primeira metade que é composta de uma relação de amor entre um camponês e um soldado. Vamos conhecendo o amor dos dois na mesma medida de um país tão distante para nós: a Tailândia. É no cotidiano de uma cidade tailandesa que vamos nos acostumar com o ritmo da película (assim com o idioma falado) que segue um padrão na primeira hora. Idas ao cinema, refeições com a família, saídas noturnas e ternura que termina em um plano seqüência com um dos amantes enamorado passeando com uma moto.
Agora a situação é outra. Tong (o camponês) desaparece. Keng (o soldado) ouve de vizinhos que há um monstro devorando vacas na região. A serenidade de Keng some. Ele que se mostrou sempre mais compromissado e pressionado na relação decide se infiltrar na selva. Uma estranha sensação se apodera do coração do soldado. Contra quem ele luta? O que ele busca? Existe um tigre. Será ele um fantasma? A besta selvagem? Ou seu amado Tong?
Poético filme do tailandês Apichatpong Weerasethakul (ou “Joe”, ufa, como ele mesmo gosta que o chamem) requer compromisso do espectador. Choque estético e cultural. O cinema de Joe remete ao do italiano Michelangelo Antonioni. Fala da ausência, da angústia e da dificuldade de comunicação
Ganhador do prêmio do júri em Cannes em 2004. Ano em que o júri foi presidido por Quentin Tarantino e em que o documentário de Michael Moore Farhenheit 9/11 ganhou Palma de Ouro de melhor filme. Isso mesmo. Desbancou além do concorrente tailandês, outras duas obras primas do cinema oriental (“2046” do chinês Wong Kar Wai e “OldBoy” do coreano Chan-wook Park). Nem a presidência do júri teve peso na escolha da Palma de Ouro. Tarantino, assim como eu, queria “OldBoy” como o maior prêmio. Seus colegas de mesa não deixaram e escolheram o polêmico Michael Moore para sair vitorioso. Como prêmio menor, “Mal dos Trópicos” levou prêmio da crítica do Festival Internacional de São Paulo.
Um comentário:
Acabei de ver o filme no cinema,,, engraçado que quando terminou o filme as pessoas continuaram na sala, em silêncio, até o final dos créditos,,, fiquei com a sensação de que estávamos comungando um momento precioso. Lindo filme.
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