terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Marie Antoinette





Quando Sofia Coppola começou a ter destaque na mídia, senti certa desconfiança. O genial pai da moça, Francis Ford Coppola, autor de vários clássicos que considero obras primas como A Trilogia Poderoso Chefão e Apocalypse Now, tem o costume de ir discretamente escalando parentes para a composição de seus filmes. Basta tomarmos a trilogia como exemplo. Lá estão Tália Shire, sua irmã do mestre e esposa de Stallone em Rocky um lutador; seu filho Roman Coppola, seu pai Carmine Coppola que junto com Nino Rota produziu uma das trilhas sonoras mais marcantes além da sua filha e hoje maior representante do sobrenome Coppola. O nepotismo de Coppola começou a irritar a crítica sendo Sofia indicada quatro vezes ao prêmio Framboesa de Ouro dentre elas pior revelação da década, por Poderoso Chefão e pior atriz coadjuvante da década por Star Wars episódio I.

Sofia tinha tudo para ser um desastre na direção. Mas pelo contrário. Apresentou uma bela estréia na direção com Virgens Suicidas em 1999. Em seguida filmou o belíssimo Encontros e Desencontros. Sofia já não tinha nada para provar mas o festival de Cannes lhe reservou uma surpresa.

Seu filme era muito aguardado. Sofia se dedicou bastante à produção do filme. Conseguiu filmar no palácio de Versalhes em alguns aposentos não abertos à visitação pública. Fez seis anos de pesquisa junto a historiadores. Tudo isso em vão, para a crítica. Seu filme foi vaiado como há muito não se via em Cannes. A imprensa massacrou Sofia e pela sua fisionomia percebia-se seu constrangimento. Seus personagens foram chamados de superficiais e fúteis. A trilha sonora com músicas atuais também não agradou. A diretora não quis ler a principal biografia de Maria Antonieta escrita por Stefan Zweig e se baseou em uma outra , de Antonia Fraser, que trazia uma rainha mais humana.






Os franceses não gostaram de uma americana filmando em Versalhes. A diretora quis retratar uma história de uma menina que aos quatorze anos foi parar no palácio de Versalhes. Mostra uma Maria Antonieta diferente da esperada pelos franceses. A do filme não tem personalidade forte e tem toda a insegurança e chatice de uma adolescente.

A trilha sonora também causou polêmica. Com músicas do New Order, The Strokes, The Cure, Aphex Twin e Air; Maria Antonieta pareceu bem jovem e empolgada. Kirsten Dust não deixa a desejar no papel principal. O elenco também não desafina. Destaque para a filha do mestre italiano do terror Dario Argento, Ásia Argento.

A fotografia também é invejável. Representada em tons pastéis sendo cada fase um tom de cor. Chega a lembra em momentos a de Barry Lyndon, filme de Stanley Kubrick que revolucionou com uso apenas de iluminação natural para filmar.

Mas a cena que mais revoltou a crítica foi o aparecimento de um tênis all star. Uma falha proposital da diretora. Foi a deixa para o massacre da crítica.

Penso que o filme é muito maior que sua crítica. Sofia sempre foi hábil em descrever a auto-afirmação da mulher. Todas as personagens de seus filmes foram mulheres forçadas a crescerem contra suas vontades. Assim como a diretora que fora massacrada pela crítica quando era atriz. Talvez seja o tênis all star um símbolo do conflito que a diretora viveu. A década de 80 e o seu período de escolhas: seguir carreira no cinema e ter que viver a realidade da crítica. Ali no filme também estão canções contemporâneas como a clássica Ceremony da banda inglesa New Order. Banda que como Sofia desafiou a crítica e inovou.

Maria Antonieta é um chute no estômago dos puristas. É uma molecagem de adolescente que incomoda os pais intolerantes. É um riff de guitarra no ouvido daqueles acostumados com o silêncio ou com a serenidade de uma música clássica.



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